Potencial nutricional dos frutos da palmeira Juçara: o açaí da Mata Atlântica

Euterpe edulis Martius, popularmente conhecida como palmeira Juçara ou palmiteiro, é nativa da Mata Atlântica e sua polpa é similar à do açaizeiro (Euterpe oleracea), palmeira originária da Região Amazônica. A palmeira Juçara produz palmito de excelente qualidade, o qual é muito explorado e, em função dessa exploração, a palmeira passou a ser considerada uma espécie em risco de extinção.

Isso se deve porque a exploração ilegal de seu palmito leva ao esgotamento da espécie nas reservas naturais, uma vez que sua extração implica no corte da palmeira, o que contribui para a degradação ambiental da Mata Atlântica, acelerando, assim, o processo de extinção de outras espécies dependentes da palmeira. Logo, a utilização dos frutos da palmeira Juçara é uma forma de minimizar esse problema, além de ser uma atividade lucrativa, de grande potencial econômico para a população que reside próximo às suas      áreas de cultivo. Seus frutos apresentam características nutricionais e funcionais promissoras. Portanto, essa atividade pode vir a ser não só uma alternativa de renda, mas também uma importante estratégia para a conservação da espécie.

     Os frutos de Juçara são considerados fonte de minerais como Cobalto, Magnésio, Cobre, Zinco, Ferro, Manganês e Molibdênio. Além disso, possuem quantidades elevadas de compostos bioativos como fenólicos e antioxidantes, como as antocianinas, além de óleos de boa qualidade como palmítico, oleico e linoleico.

As antocianinas são compostos que pertencem à família dos flavonóides, sendo pigmentos solúveis em água presentes na polpa de Juçara, com potencial para substituição dos corantes artificiais vermelhos, responsáveis pela maioria das cores azul, violeta, púrpura e todas as tonalidades de vermelho observadas em frutas, hortaliças, tubérculos e outras partes das plantas como folhas, caules e raízes.

A ação antioxidante das antocianinas presentes nos frutos de Juçara promove benefícios, retardando o envelhecimento, aumentando a imunidade do organismo, promovendo melhoria na circulação sanguínea e protegendo o organismo contra o acúmulo de lipídeos nas artérias, além de atenuar a proliferação das células leucêmicas. Apesar de largamente disseminadas na natureza, são poucas as fontes comerciais de antocianinas. Assim, o fruto da palmeira Juçara tem sido apontado como uma fonte promissora desses compostos.

Muitos pesquisadores, além da própria indústria de alimentos, têm demonstrado grande interesse por estes pigmentos, devido, principalmente, a suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. As antocianinas não são produzidas pelo organismo humano havendo, assim, a necessidade de obtê-las por meio da alimentação. Logo, o uso desses compostos em produtos alimentícios é um fator essencial para a funcionalidade, bem como para a agregação de valor ao produto final. 

Desta forma, o desenvolvimento de produtos alimentícios a partir da polpa de Juçara torna-se promissor e de grande importância para a inserção das antocianinas nos alimentos processados (Figura 1). 

Figura 1: Diferentes aplicações alimentícias dos frutos da palmeira Juçara.

Fonte: Autores.

A polpa de Juçara pode ser consumida de diversas maneiras, na forma de sucos, doces e      sorvetes, sendo também usada em recheios de bolos, pães, ou na forma tradicional, com adição de cereais e frutas in natura, semelhante ao que é oferecido no mercado para o açaí. No entanto, os frutos da palmeira são muito perecíveis, havendo a necessidade de métodos de conservação que permitam a expansão de sua comercialização. O fator responsável por esta alta perecibilidade é a elevada carga microbiana que juntamente com a degradação enzimática, são responsáveis pelas alterações de cor e pelo aparecimento do sabor indesejável no produto.

Dessa forma, tecnologias de congelamento ou secagem podem ser adotadas para conservar a polpa.

O congelamento rápido da polpa resulta em um produto de elevada qualidade, pois mantém      as características nutricionais e sensoriais por até 12 meses. A secagem da polpa de Juçara é outra alternativa para maior conservação, pois reduz a atividade de água e impede a multiplicação de microrganismos responsáveis pela deterioração, aumentando, assim, a sua vida útil.

A produção da polpa da Juçara em pó também propicia facilidade no transporte, armazenamento e manuseio, favorecendo a sua comercialização, especialmente a exportação. 

Diversos estudos têm apontado a necessidade de investigação, valorização e resgate de alimentos silvestres que, em alguns casos, podem apresentar valor nutricional superior aos comumente encontrados no mercado.  Além disso, o processamento dos frutos de Juçara representa novas fontes para a alimentação humana, especialmente para populações que se encontram em situação de deficiência alimentar e nutricional. 

 

Referências

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