Tubarão ou cação? Qual a diferença entre eles?

Você sabia que os brasileiros utilizam a carne de tubarão comumente na alimentação humana do dia-a-dia? De modo geral, as importações de carne de tubarão no Brasil aumentaram consideravelmente desde a primeira metade da década de 1990, principalmente da espécie tubarão azul (Prionace glauca), tendo absorvido praticamente toda a produção desta espécie do Uruguai de 2002 a 2012 (FAO, 2018; FAO, 2020). 

Em 2006, o Brasil foi classificado pela FAO como o 11º produtor global de tubarões e o 17º exportador de barbatanas de tubarão, sendo o 2º no Atlântico Sul para ambos (ibid.). E em 2014, o país se tornou então o primeiro importador global de carne de tubarão de acordo com a FAO (DENT e CLARKE, 2015). Pode-se dizer que o produto, apesar de apresentar baixo valor comercial, é uma carne nutritiva e com ótimo rendimento.

Porém, muitos consumidores sequer sabem que consomem a carne de tubarão, uma vez que comumente tais produtos são comercializados como “cação” em mercados e restaurantes, independente da espécie, o que confunde o consumidor (BORNATOWSKI, BRAGA e VITULE, 2013; BORNATOWSKI et al., 2015). Às vezes, inclusive, observa-se o termo empregado também para carne de raia, como no caso da raia-viola brasileira (Pseudobatos horkelii), uma das espécies marinhas mais ameaçadas no Atlântico Sul, especialmente no Brasil. 

Tal denominação é derivada do espanhol, “cazón”, para melhorar a aceitação do consumidor. Notem como o desconhecimento de tal informação é gritante: em um estudo realizado em uma grande cidade do sul do Brasil, mais de 70% dos consumidores pesquisados não sabiam que “cação” se refere a tubarões, e mais da metade dos entrevistados afirmaram já ter comido “cação”, mas nunca consumido tubarões ou raias (BORNATOWSKI et al, 2015).

No Brasil, observam-se inclusive regionalismos sobre o uso do termo: em alguns locais, é apontado que cação é o filhote de tubarão; em outros, que a partir de determinado tamanho, considera-se como cação ou tubarão; e mais, que são animais taxonômicos diferentes.

Portanto, a partir do citado, pode-se dizer que não há diferença entre os termos, a não ser o uso de “tubarão” para o animal vivo, e cação para os produtos derivados do mesmo, como a carne e barbatanas. Nota-se a relevância do uso adequado dos termos listados, para maior conhecimento do que a população está consumindo. 

Piadas à parte, uma frase para nunca mais esquecer tais pontos levantados:? “Cação é o que você come, e tubarão é o que come você”. 

 

Referências Bibliográficas

BORNATOWSKI, H.; BRAGA, R. R.; VITULE, J. R. S. Shark mislabeling threatens biodiversity, Science 340 (6135): 923-923. 2013.

BORNATOWSKI, H; BRAGA, R. R.; KALINOWSKI, C.; VITULE, J. R. S. “Buying a Pig in a Poke”: the problem of elasmobranch meat consumption in Southern Brazil, Ethnobiol. Lett. 6 (1): 196–202. 2015.

DENT, F.; CLARKE, S. State of the global market for shark products, FAO. Fish. Aquac. Tech. Pap. 590. 2015.

FAO. The State of World Fisheries and Aquaculture 2018. Meeting the sustainable development goals. Rome. http://www.fao.org/3/I9540EN/i9540en.pdf. 2018.

FAO. The State of World Fisheries and Aquaculture 2020. Sustainability in action. Rome. https://doi.org/10.4060/ca9229en. 2020.

IBAMA, Estatística da Pesca 2006 BRASIL: Grandes regiões e unidades da Federação, 2008.

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