Pesquisador da Embrapa Aves e Suínos esclarece dúvidas sobre a influenza aviária no Brasil

A decretação de estado de emergência zoossanitária no Brasil causada após a detecção da  infecção pelo vírus da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) – H5N1 – em aves silvestres despertou um alerta para as autoridades e, principalmente, para os consumidores. 

Depois de três anos convivendo com a pandemia causada pela Covid-19, é normal que a população reaja ao estado de emergência e fique ainda mais atenta aos desdobramentos que a gripe aviária possa vir a ter.

Mas afinal, como a influenza aviária pode ser transmitida e, sobretudo, como isso afeta o consumo de ovos e carnes de aves no país? Para esclarecer essas e outras dúvidas, o Portal e-food conversou com o médico veterinário e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Luizinho Caron

O especialista inicia a conversa reforçando que o risco de transmissão da gripe aviária em humanos é maior entre aqueles que têm contato próximo com os animais. Já a transmissão do vírus entre humanos é um risco remoto, não tendo, até o momento, nenhum caso comprovado. 

“Certamente o risco é maior com pessoas que manipulam as aves. O vírus da influenza que chegou ao Brasil não está no mundo desde agora, chegou na China em 1997. Ou seja, são mais de 20 anos circulando nesse país onde tem muita gente e muitas aves. Até então, são menos de mil casos de transmissão de aves para humanos”, diz Luizinho. O primeiro relato da influenza aviária, ou “gripe do frango”, foi de doença em galinhas, em 1918. A ocorrência da gripe aviária em humanos, causada pelos vírus H5N1, foi relatada pela primeira vez em 1997, em Hong Kong, na China.

O pesquisador esclarece a possibilidade de estarmos, futuramente, diante de uma nova pandemia caso o vírus evolua. Caron diz que isso só poderia acontecer em caso de mutação, no entanto, não há evidência para embasar que esse fato possa acontecer facilmente. 

Segundo a Embrapa Suínos e Aves, por conterem um genoma de RNA, os vírus de influenza estão sujeitos a mutações frequentes, uma vez que não possuem a capacidade de corrigir o processo de cópia do RNA durante a replicação do genoma viral para formação de nova partícula vírica. Estas mutações frequentes causam alta variabilidade dos vírus de influenza e, em consequência, os problemas com a incompleta proteção conferida pelas vacinas e pela variabilidade na patogenicidade dos diferentes vírus.

Por este fato, Luizinho Caron acredita que pensar em produzir vacinas é uma ação precipitada. “Se começar com as mutações, a cepa de hoje não vai resolver. Acho precipitado, mas essa é minha opinião”, diz. Atualmente, a vacinação de aves contra a influenza aviária não é permitida no Brasil, uma vez que o país não registrou a presença da doença na produção comercial. 

Carnes de aves e ovos não oferecem risco ao consumidor

Logo depois da decretação do estado de emergência por conta da influenza aviária, o consumidor passou a se questionar se as carnes e os ovos comercializados poderiam transmitir o vírus. O mercado financeiro também reagiu. Na terça-feira (23), um dia depois do anúncio do Ministério da Agricultura, foi registrado queda nos preços das ações dos frigoríficos brasileiros. 

Conforme analisado pelo site Inteligência Financeira, portal que acompanha as movimentações financeiras no Ibovespa, as ações de duas das maiores empresas do setor no Brasil amanheceram em queda. A BRF (BRFS3) estava entre as piores performances do índice, e fechou o dia com queda de 4,91%, enquanto Marfrig (MRFG3) despencou 5,18%. Na quarta-feira (24) o cenário de ações em queda se repetiu.

O pesquisador da Embrapa explica que não há motivos para deixar de consumir carnes e ovos, e alertou para as fake news envolvendo o caso. “Dificilmente os ovos podem estar contaminados na casca, esse vírus é inativado rapidamente no ambiente em poucas horas ou dias. Dificilmente vai ter capacidade para contaminar o consumidor”, diz.

Portanto, os ovos e carnes, assim como as aves abatidas com lotes saudáveis em frigoríficos podem ser consumidos sem risco de transmissão. “O que temos conhecimento são transmissões quando tenta-se abater uma ave silvestre doente com influenza”, completa ele.

Até o momento, são nove casos confirmados em aves silvestres, sendo sete no estado do Espírito Santo, nos municípios de Marataízes, Cariacica, Vitória, Nova Venécia, Linhares e Itapemirim, e dois no estado do Rio de Janeiro, em São João da Barra e em Cabo Frio. As aves são das espécies Thalasseus acuflavidus (trinta-réis de bando), Sula leucogaster (atobá-pardo) e Thalasseus maximus (trinta-réis real).

O Mapa alerta a população que não recolham as aves que encontrarem doentes ou mortas e acione o serviço veterinário mais próximo para evitar que a doença se espalhe.

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