Diagnosticando Cultura de Segurança de Alimentos e seus muitos desafios

Falamos sobre Cultura de Segurança de Alimentos essa semana com a PhD canadense Brita Ball e, para trazer uma perspectiva mais abrasileirada do tópico, convidamos a Luiza Campello, especialista em Desenvolvimento de Recursos Humanos, com experiência em empresas como a Coca-Cola e Miller Heiman. Continue lendo para ver o que ela tem a dizer sobre a Cultura de Segurança de Alimentos no Brasil.

 

e-food: Durante os diagnósticos sobre Cultura de Segurança de Alimentos em que você atuou, o que mais te impressionou?

Como profissional com formação e carreira em Desenvolvimento de Pessoas, no que tange a fase de Diagnóstico de CSA de uma grande indústria, a minha atuação foi aferir/constatar se os valores da organização, as práticas, as capacidades/habilidades críticas comportamentais para mobilizar pessoas em direção ao objetivo da mudança estavam presentes nas lideranças entrevistadas. Se os profissionais das camadas operacionais reconheciam nas lideranças modelos de comportamento seguro para alimentos e se esses profissionais detinham o conhecimento pleno sobre Segurança de Alimentos e sobre como suas ações impactavam ou não no chamado alimento seguro. Se todos comungavam dos mesmos valores em termos de Segurança de Alimentos.

O que mais me chamou a atenção foi perceber que de alguma forma todos da área fabril já tinham tido algum contato com segurança de alimentos, inclusive através de treinamentos previstos nas políticas e normas que regem o setor. Por exemplo, todos conheciam os conceitos de BPF e de certa forma praticavam. Entretanto, eventualmente, não paravam um equipamento que apresentava algum pequeno desvio por questões de pressão de tempo e produção. Não entendiam como isso poderia impactar na integridade do produto. Ou seja, a produtividade sobrepunha a segurança do produto. Também compreendiam que Segurança de Alimentos seria a missão do “pessoal da Qualidade” e não deles próprios.

Em termos de Cultura de Segurança de Alimentos, em que os valores são espelhados pelas ações das  lideranças, pelas práticas e comportamento espontâneo dos colaboradores, percebemos que estávamos falando de coisas diferentes. A gente falava de cultura e eles falavam de compliance. Constatamos que apesar de o discurso de alguns líderes e colaboradores ser alinhados ao que espera-se ouvir sobre segurança de alimentos, não havia, de fato, uma Cultura de Segurança de Alimentos disseminada, que a cultura vigente ainda era aquela que deu origem à Organização.

 

e-food: Na sua opinião, qual tem sido o maior desafio em capturar o nível de maturidade da cultura de uma empresa de alimentos?

São alguns os desafios:

  1. Lidamos com o intangível. Identificar e avaliar os valores, observar como são expressados, mensurar em que grau uma empresa está preparada para migrar para uma cultura diferenciada, tendo em vista que precisamos obter, em pouco tempo, uma visão ampla de quais valores são compartilhados por todos os colaboradores.
  2. Na fase das entrevistas e grupos focais, obter o compromisso dos colaboradores para que todos expressem livremente sobre o como vivenciam a segurança de alimentos nas suas rotinas, nas relações interpessoais e com as suas lideranças. A preocupação de uma eventual exposição, muitas vezes mascara a verdade.
  3. Avaliar o gap de conhecimento sobre Segurança de Alimentos existente entre os profissionais da indústria e os profissionais administrativos, a alta gerência e da média gerência, dos líderes do não líderes, de forma que o resultado não apresente vieses.

 

e-food: Qual dica você pode compartilhar com os profissionais que pretendem atuar na área de Cultura de Segurança de Alimentos?

Primeiramente, estudar Cultura Organizacional e seus autores mais reconhecidos como Edgar Schein, Gareth Morgan etc. De forma mais pragmática e voltada ao varejo, sugiro a leitura do Frank Yiannas – Cultura de Segurança de Alimentos – Criando um Sistema de Gestão de Segurança de Alimentos Baseado em comportamento.

Teorias Comportamentais também são extremamente úteis e importantes no estudo sobre Cultura, especialmente se o profissional tiver formação técnica e não em Humanas.

Conhecer o que especialistas da área estão fazendo, ler suas publicações, fazer contato com eles, fazer benchmarking com empresas que passaram por processos de transformação cultural, especialmente, empresas de alimentos em que a Cultura de Segurança de Alimentos é uma questão de sobrevivência.

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