A importância da salmonelose na cadeia de produção de suínos

A demanda mundial de alimentos passa por grandes mudanças, partindo de um mercado de commodities, visando atingir uma grande escala de produção. Com isto, uma produção com foco em eficiência, qualidade e sanidade baseada na biosseguridade e no bem-estar animal é ponto determinante para a sustentabilidade da produção (BATTISTON, 2021).  

O Brasil se destaca no cenário de produção de carne suína. No ano de 2022, a produção e exportação brasileira ficou em quarto lugar comparando com os demais países (EMBRAPA, 2023). Os Estados da região sul do Brasil, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná são os responsáveis por 71,5% do abate de suínos do país.  

Dessa produção, 22% são destinados para o mercado interno e 78% para exportação. A China é o maior importador (47,6%), seguido por Hong Kong (14%) e Chile (5,5%). O padrão habitual do consumo de carne suína no mundo aumentou de forma geral. No Brasil, o consumo per capita também tem aumentado ao longo dos anos, chegando a alcançar 18 kg/ano em 2022 (ABPA, 2023).  

Por outro lado, mesmo com o aumento do consumo desta proteína no mundo, ainda existem diversos rótulos e pré-conceitos perante o consumidor brasileiro. Apesar de grande parte da produção nacional ser direcionada ao mercado interno, fatores sociais relacionados aos hábitos, costumes, estilo de vida, questões culturais e religiosas, acercam essa proteína de origem animal que apresenta tantas qualidades e benefícios à saúde (MOTA, 2022).  

A carne é uma peça fundamental na busca de uma alimentação balanceada. É fonte de nutrientes essenciais e seu reconhecimento na nutrição humana vem se destacando cada vez mais (WEBER e ANTIPATIS, 2001). A qualidade da carne suína está diretamente relacionada a fatores como o sistema de criação, manejo, transporte e abate que o animal é submetido, além da genética, nutrição, idade e sexo dos animais (TERRA et al., 2000).  

Os patógenos que afetam os suínos podem representar um risco à saúde humana devido à ocorrência de infecções alimentares ocasionadas pela ingestão de produtos de origem animal contaminados. A inocuidade dos alimentos ingeridos pela população é um aspecto crucial para a saúde pública (SCHROEDER, 2023).  

Condições higiênicas inadequadas durante o abate dos animais, tratamento térmico insuficiente, armazenamento impróprio e falta de higiene durante o preparo dos alimentos constituem os principais fatores causadores de infecções alimentares e mortes. A ausência de patógenos nos alimentos e suas toxinas é uma condição básica para que os alimentos não transmitam enfermidades ao homem (AMORIM, 2021).  

Os consumidores de países industrializados são mais exigentes com relação à segurança de produtos alimentares. Entre as maiores preocupações destaca-se a salmonelose, que é considerada uma das mais relevantes zoonoses transmitidas por alimentos de origem animal, inclusive por produtos de suínos (DO CARMO, 2019).  

Salmoneloses são doenças causadas por bactérias do gênero Salmonella, uma enterobactéria encontrada em diferentes espécies de animais, sendo os suínos susceptíveis a uma grande variedade de sorotipos, dos quais foram identificados como importantes causadores de doença há mais de cem anos (ARRUDA, 2023).  

Para reduzir a prevalência deste patógeno nos produtos suínos, é fundamental implantar medidas de biosseguridade em todas as etapas da cadeia, desde a produção de insumos, passando pelas granjas, até nas plantas industriais de abate (CARDOSO, 2019).  

Além de controle de acesso de pessoas e veículos a áreas de criação, práticas minuciosas de higienização de materiais e equipamentos, manejo eficiente de resíduos, medidas de isolamento das propriedades, treinamento de funcionários, monitoramento da saúde animal e vacinação são procedimentos essenciais para evitar a entrada e propagação de doenças no rebanho (JUNGES, 2023).  

Os suínos infectados pela grande maioria dos sorovares de Salmonella não exibem sinais clínicos da doença, sendo, porém, portadores que podem excretar a bactéria de forma intermitente (FERREIRA, 2013). A salmonelose pode se apresentar durante o desenvolvimento da doença, na forma entérica com diarreia ou na forma generalizada, afetando vários sistemas, resultando em septicemia.  

A evolução da infecção classifica os sorotipos em dois grupos, os adaptados e os não adaptados aos hospedeiros. Os adaptados determinam frequentemente quadros clínicos severos, e não são isolados em outras espécies. Os sorotipos não adaptados, que formam o grupo das paratíficas, causam infecções subclínicas e podem infectar diversas espécies de hospedeiros (CARDOSO, 2006).  

A infecção dos suínos pode ocorrer em qualquer fase zootécnica, desde o nascimento até o abate (GONÇALVES, 2022). Estudos excluíram a maternidade como fase de risco para infecção de leitões, portanto, na fase de creche e sobretudo na fase de terminação estão os pontos críticos de difusão da infecção por salmonela.  

A salmonela é eliminada nas fezes dos animais infectados. Por isso a via fecal-oral é considerada a forma mais comum de transmissão do patógeno (TEIXEIRA, 2021). Quando colocados em ambiente contendo fezes contaminadas, os suínos suscetíveis geralmente adquirem a infecção (HERNIG, 2023).  

A transmissão através do contato naso-nasal também é admitida em função da presença do patógeno nas secreções orofaríngeas (FRESCHI, 2007). O fato de isolar frequentemente a salmonela em partículas de poeira em granjas suínas e sua capacidade de manter-se viável por longos períodos em aerossóis sugerem a possibilidade de transmissão aerógena (OLIVEIRA, 2005).  

 A salmonela pode levar a perdas econômicas na granja e abatedouros. A infecção pode aumentar o custo de produção devido, principalmente, à diminuição do ganho de peso diário e ao consumo excessivo de ração, piorando a conversão alimentar (KICH et al., 2017), além de ser responsável por condenações de carcaças no frigorífico e devoluções de contêineres com produtos exportados.  

De forma geral a Salmonella é uma bactéria intracelular facultativa, que no processo de infecção atravessa a camada epitelial do intestino, alcançando a lâmina própria, onde se proliferam, são fagocitadas pelos monócitos e macrófagos, resultando em resposta inflamatória, decorrente da hiperatividade do sistema retículo endotelial/monolítico fagocitário (SHINOHARA et al., 2008).  

No homem, o curso da doença costuma ser autolimitante levando de dois a quatro dias. Os indivíduos podem permanecer portadores da bactéria por semanas e mais raramente por alguns meses. Embora os casos sejam raros, os sorovares Choleraesuis, Sendai e Dublin podem produzir uma doença septicêmica severa no ser humano. É relatado que no caso da S.  Choleraesuis, 50% dos indivíduos podem ter bacteremia e cerca de 20% virem a óbito (COSTA, 2014).  

Os métodos tradicionais para o isolamento de salmonela entérica são baseados em cultivos utilizando meios seletivos através da caracterização das colônias suspeitas por testes bioquímicos e sorológicos (LIMA, 2022). Já o PCR representa maior avanço em termos de velocidade, sensibilidade e especificidade entre os métodos de diagnóstico (KASTURI et al., 2017).  

O tratamento das salmoneloses em suínos envolve o uso de antibióticos específicos, porém a maior eficiência e precisão no tratamento ocorre a partir do correto diagnóstico visto que os isolados de Salmonella podem apresentar alta variabilidade em seus perfis frente aos princípios ativos. Portanto, a realização de um antibiograma se torna fundamental para que se tome a melhor decisão, a fim de se obter a melhor escolha do medicamento (LANTMANN, 2022). 

Além da antibioticoterapia, as vacinas são importantes aliados no controle de doenças na suinocultura. Devem ser capazes de prevenir sinais clínicos, reduzir a excreção e ampliação da infecção, e aumentar o limiar de infecção dos animais suscetíveis. As vacinas vivas comerciais apresentaram, em relação às inativadas, bons resultados de indução de resposta  imune celular e produção de IgA (SCHWARZ et al., 2011). 

 

Referências bibliográficas  

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