Acerola: características e importância da fruta

INTRODUÇÃO

Origem e importância econômica

A acerola (Malpighia emarginata L.) é uma fruta tropical conhecida como cereja-de-bárbaros ou cereja-das-antilhas por ser originária da região das Antilhas na América Central e Norte da América do Sul. Esta fruta foi introduzida no Brasil durante a década de 50 por intermédio da Universidade Federal Rural de Pernambuco após a importação de sementes de Porto Rico (BELWAL et al., 2018; ABREU, 2019; FERREIRA et al., 2021), entretanto, somente na década de 80, teve a sua exploração difundida, em virtude da procura pelo produto por parte dos Estados Unidos, Japão e países da Europa (AEAAMA, 2019; SILVEIRA; ROSSI; PECHE, 2021). 

Conforme informações da Abrafrutas (2019) e Vidal (2021), o Brasil, dentre os países produtores do mercado de fruticultura mundial, detém a terceira posição no ranking, ficando atrás apenas da China e da Índia. Entretanto, ao se considerar apenas o mercado de acerola, o Brasil se torna o maior produtor, consumidor e exportador deste fruto, sendo cultivado em todas as regiões do país, com menos intensidade no Sul, por ser uma região com média de temperatura anual mais baixa que as demais. A produção de acerola concentra-se no Nordeste brasileiro, devido às suas condições climáticas, condições de solo e à adaptação da aceroleira, o que favorece a sua produção em larga escala (SANTOS; LIMA, 2020; FERREIRA et al., 2021).

Santos e Lima (2020) reportaram que a produção brasileira anual de acerola foi de aproximadamente 61 mil toneladas em 2017, sendo que a Região Nordeste representa cerca de 78% da produção nacional. Pode-se destacar Pernambuco, Ceará, Sergipe, Paraíba, Piauí, São Paulo, Pará, Paraná, Bahia e Espírito Santo com 21.351, 7.578, 5.427, 4.925, 4.690, 3.907, 3.695, 3.286, 2.023 e 915 toneladas, respectivamente.

A produção da acerola vem se expandindo de forma considerável, principalmente, por suas características nutricionais, devido ao seu elevado teor de vitamina C, carotenoides, compostos fenólicos e alta atividade antioxidante (BELWAL et al., 2018; SANTOS; LIMA, 2020). Tal fato se deve a um aumento na procura por produtos in natura e derivados do fruto por países como Estados Unidos, Japão e países da Europa em virtude dos seus benefícios nutricionais (BELWAL et al., 2018).

Aspectos nutricionais

Conforme a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO) (NEPA, 2011), a acerola é rica em vitamina C e carotenoides com valores de aproximadamente 941 mg/100g e 247 µg/100g, respectivamente, entretanto, deve-se destacar que os valores apresentados na Tabela 1 destes nutrientes são para frutos maduros, logo, ao longo do período de maturação, este valor pode se modificar.

Tabela 1 – Teores médios de Vitamina C e Carotenoides Totais de diferentes frutas

Fonte: NEPA (2011).

Os teores de vitamina C em frutos verdes de acerola podem alcançar valores de 1.600 mg/100g e 2.700 mg/100g, superando frutas popularmente consideradas como fontes desta vitamina, entre elas a laranja, o limão, o caju e a goiaba (AEAAMA, 2019). Além disso, a acerola também possui elevado teor de carotenoides em sua composição, como pode ser observado na Tabela 1. Dentre os carotenóides se destaca o β-caroteno, representando 90% de todos os carotenoides, seguidos de β-criptoxantina, violaxantina, luteína e fitoflueno (BELWAL et. al., 2018; NASSER et al., 2018; ABREU, 2019; PAIVA et al., 2021).

O teor de carotenoides também varia conforme a maturação, uma vez que ocorrem diversas reações de degradação da clorofila, pigmento predominante no fruto imaturo, e de síntese de antocianinas e carotenoides, causando alterações nas cores do fruto do verde para o amarelo, laranja, vermelho ou roxo (NASSER et al., 2018; ESTEVAM et al., 2018).

Além destes componentes, a acerola contém compostos fenólicos, agentes antioxidantes que estão associados à redução dos riscos de câncer, obesidade e doenças cardiovasculares, variando conforme a espécie, as condições ambientais e o estádio de maturação do fruto (BELWAL et al., 2018; GOMES FILHO et al., 2021). Gomes Filho et al. (2021), em seu estudo sobre compostos bioativos de acerola, citam que o teor de polifenóis totais varia entre 9.142 e 26.314 mg equivalentes de ácido gálico por quilograma, possuindo a acerola madura flavonoides, antocianinas, procianidinas, flavonóis e catequinas com maior predominância. Assim, pode-se considerar que a acerola possui elevada capacidade antioxidante.

Conforme a Tabela TACO (NEPA, 2011), a acerola possui elevado teor de água, carboidratos e quantidades significativas de proteínas e lipídeos, verificando-se também quantidades significativas de minerais e vitaminas do complexo B, representadas pela riboflavina (vitamina B2), niacina (vitamina B3), conforme apresentado na Tabela 2, e ácido fólico (vitamina B9) (CEAGESP, 2019). Entretanto, tais dados podem variar conforme a espécie, as condições ambientais e, também, o estádio de maturação do fruto (NASSER et al., 2018; ESTEVAM et al., 2018, GOMES FILHO et al., 2021, SILVEIRA; ROSSI; PECHE, 2021).

Tabela 2 – Composição química da acerola in natura

Fonte: NEPA (2011).

Estevam et al. (2018) avaliaram a composição química da acerola em diferentes estádios de maturação, com valores de pH na faixa de 3,09 a 3,63; acidez entre 0,97 a 1,01% de ácido málico; e valores de sólidos solúveis em torno de 6,32 e 7,48º Brix, enquanto Gomes Filho et al. (2021) citam valores de sólidos solúveis totais entre 3,76 e 14,10° Brix, de acidez entre 0,53 e 2,27% e pH na faixa de 2,58 a 3,91. 

Teores de sólidos solúveis diferentes podem ser explicados em virtude do processo de maturação da fruta e da oferta de água, visto que a concentração deste parâmetro é reduzida pela chuva ou irrigação excessiva, diluindo o suco celular. Em relação ao processo de maturação, as mudanças nos teores de sólidos solúveis se devem a processos de biossíntese, que no estágio maduro é maior, quando se compara ao verde; e devido à degradação de polissacarídeos. Deve-se destacar que a acerola contém, dentre os açúcares totais, glicose, frutose e quantidades mínimas de sacarose (NASSER et al., 2018; ESTEVAM et al., 2018; GOMES FILHO et al., 2021).

Na acerola há em sua composição ácidos orgânicos como ácido málico, cítrico e tartárico e estes também sofrem variação em suas concentrações diante do processo respiratório da fruta fora da sua planta mãe. Assim, durante a maturação, com o aumento dos sólidos solúveis na fruta, ocorre uma redução da concentração de ácidos, sendo este, assim como o pH, também um parâmetro de variabilidade na fruta (ESTEVAM et al., 2018; NASSER et al., 2018; GOMES FILHO et al., 2021).

A variabilidade nos parâmetros de identidade e qualidade pode dificultar a comercialização e o processamento da matéria-prima, pois a indústria necessita de produtos com características uniformes para atender à legislação. Diante disso, a seleção de frutas em estádios de maturação próximas visa à padronização de parâmetros de identidade e qualidade da fruta, a fim de que os frutos se apresentem com atributos desejáveis (ESTEVAM et al., 2018). 

Segundo a Instrução Normativa nº 37, de 1º de outubro de 2018 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que estabelece o padrão de identidade e qualidade de polpas de frutas, o valor mínimo de sólidos solúveis totais, pH, acidez total, açúcares totais e ácido ascórbico da acerola para o processamento é de 5,5 ºBrix; 2,8; 0,8 g/100g em ácido cítrico; 4 g/100g; e 800 mg/100g, respectivamente (BRASIL, 2018).

Embora alguns nutrientes contidos na acerola apresentem variabilidade em seus teores, o fruto ainda possui elevado teor de água e atividade de água, o que o torna um produto altamente perecível, sujeito a deterioração por microrganismos logo após a colheita (NASSER et al., 2018; ESTEVAM et al., 2018; ABREU, 2019; GOMES FILHO et al., 2021). 

Assim, para prolongar sua vida útil, a fruta é submetida a processamento logo após a colheita, obtendo a polpa por processo tecnológico adequado e congelando-a para ser utilizada em diversos outros produtos, como sucos e néctares (BELWAL et al., 2018; ABREU, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora a polpa de acerola seja um produto altamente perecível, seu método de conservação, o congelamento, garante uma vida útil elevada a este produto e pode ser utilizada na aplicação para a elaboração de outros produtos derivados. Além disso, como a acerola é fonte de vitamina C, compostos fenólicos totais e carotenoides, possui elevada capacidade antioxidante, que pode garantir o fortalecimento do sistema imunológico, a prevenção do envelhecimento precoce, a melhoria da visão e outros. Diante disso, tais benefícios indicam um elevado potencial mercadológico da acerola.

REFERÊNCIAS

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