Benefícios do uso de pré e probióticos na disbiose intestinal

Introdução

A alimentação é fundamental para a saúde e bem-estar e, com o passar dos anos, muitos conhecimentos e práticas relacionadas à alimentação evoluíram, ocorrendo também modificações nos padrões alimentares da população. A microbiota intestinal também sofreu alterações tal como o sistema alimentar, e estas alterações promoveram muitos impactos na saúde humana. Segundo Elechi et al. (2023), nas últimas décadas, o microbioma intestinal ganhou atenção devido aos benefícios para a saúde, bem como seus efeitos sobre diversas patologias.

Assim, a saúde intestinal, ao longo dos anos, tem sido objeto de estudo devido à sua relevância como elemento determinante para o funcionamento apropriado do organismo, compreendendo um ecossistema complexo formado por microrganismos que desempenham variadas funções imunológicas (Carlos; Mattei, 2023). Nesse sentido, Souza et al. (2021) destacam que a microbiota intestinal é composta por, aproximadamente, 100 trilhões de bactérias distribuídas por todo sistema gastrointestinal. Dessas   bactérias, estima-se   que   70%   estejam   no   intestino   grosso   e   delgado, interagindo e protegendo o organismo de infecções por microrganismos patogênicos (Oliveira; Hammes, 2016).  

Microbiota intestinal e disbiose

A formação da microbiota humana inicia-se no momento do parto, quando o recém-nascido é exposto à presença de inúmeros microrganismos. Em média, até os dois anos de idade, a criança atinge o pico de formação das bactérias adquiridas que seguirão até sua vida adulta (Paixão; dos Santos Castro, 2016).

Para os lactentes em aleitamento materno exclusivo, ocorre aumento significativo de bifidobactérias, quando comparado aos bebês alimentados com leite de vaca, confirmando, assim, que os nutrientes ofertados desde o início da vida influenciam na formação da microbiota (Ferreira, 2014).

A microbiota intestinal, comunidade complexa de microrganismos que colonizam o trato gastrointestinal, desempenha um papel crítico na manutenção da saúde humana, influenciando não apenas a digestão e a absorção de nutrientes, mas também uma série de processos metabólicos, imunológicos e neurobiológicos (Salomão et al., 2020). 

O hospedeiro humano vive em harmonia com a microbiota intestinal. No entanto, podem surgir desequilíbrios na composição e função desta microbiota, tanto quantitativas (aumento anormal do total de bactérias em determinado segmento do trato digestivo, como no supercrescimento bacteriano do intestino delgado) quanto qualitativas (quando há predomínio de bactérias de espécies mais patogênicas em detrimento da flora normal da região).  Tais alterações geram aumento de permeabilidade intestinal (“leaky gut”) e, consequente, disbiose como resultado de uma má nutrição, sedentarismo, cirurgias, envelhecimento e administração de medicamentos, principalmente antibioticoterapia recorrente. O aumento da permeabilidade intestinal permite a passagem de antígenos alimentares e bacterianos para camadas mais profundas da mucosa intestinal, atraindo células do sistema imune, como mastócitos e liberando citocinas pró-inflamatórias (Plaza-Diaz et al., 2019; Souza et al., 2021; Gandra et al., 2021). 

A disbiose é considerada um distúrbio consequente dos maus hábitos mantidos pela maioria dos indivíduos nos dias atuais, devido ao excesso do consumo de alimentos industrializados, a exposição a agrotóxicos e mudanças importantes no estilo de vida, que promovem impacto significativo sobre o sistema digestório especialmente, sobre a microbiota intestinal, que por sua vez, sofre as alterações qualitativas e quantitativas descritas acima. O diagnóstico de disbiose é precisamente clínico, sendo avaliados sinais e sintomas característicos de desordens gastrointestinais, como cólicas, diarreia, gases e prisão de ventre constantes (Vieira; Castro, 2021). Esses sintomas se tornam uma condição favorável à diversas doenças crônicas da atualidade.

Um dos pilares de seu tratamento é baseado na utilização de simbióticos, os quais são formados por prebióticos e probióticos que recuperam a microbiota intestinal atuando na prevenção de enfermidades (NeuHannig et al., 2019).

Prebióticos e seus benefícios

A incorporação de prebióticos à dieta ou a suplementação com pré e probióticos, é recomendada como uma estratégia para garantir benefícios à saúde (Garcia et al., 2024), sendo usada no tratamento da disbiose intestinal (Figura 1).

Figura 1 – Relação positiva entre microbiota intestinal, pré e probióticos.

Fonte: Puupponen-Pimiã et al., 2002. 

Os prebióticos são fibras solúveis e fermentáveis, carboidratos não digeríveis, incluindo a lactulose, a inulina e diversos oligossacarídeos, que não são absorvidos pelo organismo, mas que contribuem para o crescimento de bactérias desejáveis no cólon, beneficiando a saúde e o bom funcionamento do intestino (Pereira; Lusne, 2019). Por serem fermentados pela microbiota intestinal, afetam o organismo do hospedeiro de maneira benéfica, com função de modificar a atividade e a composição da microbiota, por estimularem, seletivamente, a multiplicação ou atividade de populações de bactérias desejáveis no cólon e por impedirem a multiplicação de patógenos (Cunningham et al., 2021; Tavares et al., 2022). Eles são metabolizados pela microbiota do cólon e atuam como principal fonte de energia, estimulando o crescimento de microrganismos benéficos, como as bifidobacterias. Este estímulo é seguido pelo acúmulo de metabólitos, principalmente de acetato, butirato e propionato, responsáveis pela manutenção de uma microbiota dinâmica e marcadores imunológicos específicos, importantes para a saúde do hospedeiro (Ferreira et al., 2011). 

De forma geral, exemplos de alimentos ricos em prebióticos são algas marinhas, alho, alho-poró, aspargo, aveia, biomassa de banana verde, batata yacon, cacau, cebola, cevada, dente-de-leão, farelo de trigo, maçã, raiz de chicória e semente de linhaça. Os frutanos do tipo inulina, frutanos seletivos de chicória fermentáveis, são os principais prebióticos usados (Patel et al., 2014). 

Se destacam entre os prebióticos, os oligossacarídeos, como os frutooligossacarídeos (FOS), galacto-oligossacarídeos (GOS) e xilooligossacarídeos (XOS). Os FOS podem ser encontrados em quantidades significativas em alimentos como cebola, banana, alcachofra, alho, chicória e na batata yacon (Santos; Cançado, 2009). Já os GOS podem ser extraídos de alimentos como leite humano, cebola, alho, banana, soja e chicória, porém com menor rendimento (Mahoney, 1998). Os XOS são classificados como prebióticos emergentes e encontrados naturalmente em brotos de bambu, frutas, vegetais, leite e mel (Carlson et al., 2017).

A inulina e a oligofrutose, empregadas na indústria de alimentos, são oriundas da hidrólise de chicória (Cichorium intybus) e alcachofra de Jerusalém. Elas pertencem a uma classe de carboidratos denominados frutanos e são consideradas ingredientes funcionais e prebióticos, uma vez que exercem influência sobre processos fisiológicos e bioquímicos do organismo, resultando em melhoria da saúde e em redução no risco de diversas doenças (Kaur; Gupta, 2002). 

Além da chicória e alcachofra, existe grande interesse pela batata yacon (Smallanthus sonchifolius), que contém uma concentração elevada de FOS. A maioria dos estudos sobre yacon estão voltados para seu efeito anti-diabetogênico, mas estudos também indicaram melhoria no trânsito intestinal (Ferreira et al., 2011).

Probióticos e seus benefícios

O termo probiótico originou-se do grego, que significa “para a vida”. São microrganismos vivos, não patogênicos, que atingem o hospedeiro de forma benéfica, permitindo o balanço da microbiota intestinal e prevenindo a colonização de bactérias patogênicas. O consumo de probióticos vem se tornando cada vez mais frequente entre indivíduos que sofrem de distúrbios gastrointestinais, sendo seu uso prescrito por médicos e profissionais de saúde qualificados (Frota et al., 2015; Ribeiro; Quincór; Maciel, 2024).

Os probióticos auxiliam a recompor a microbiota por meio da colonização da mucosa intestinal, ação que impede a adesão e posterior produção de toxinas ou invasão de células epiteliais por bactérias patogênicas. O quadro de disbiose envolve uma diminuição de bactérias dos gêneros lactobacilos e bifidobactérias no intestino. Esses probióticos são responsáveis por competir com as bactérias indesejáveis por nutrientes (Santos et al., 2023) e entre os mais usados para tratar a disbiose estão as espécies L. acidophilus, L. reuteri, L. rhamnosus, B. bifidum, B. longum, entre outras. 

Importante salientar que, embora possam compartilhar características comuns entre a mesma espécie, o efeito de cada probiótico é “estirpe-específico” (Barbuti et al., 2020) e, portanto, para incorporação para uso em patologias do trato digestivo, devem ter o estudo individualizado por cepa e voltado para cada cenário (ex: diarréia, constipação, dor abdominal, etc).

A união de pré e probióticos dá origem aos simbióticos e o consumo desses alimentos pode oferecer benefícios devido a ação sinérgica entre esses componentes (Pereira; Lusne, 2019). Idealmente, o tipo e a quantidade de prebiótico deve ser individualizado para cada tipo de bactéria (“prebiotic index”), para que o produto dessa interação favoreça a formação de ácidos graxos de cadeia curta, principalmente do butirato, benéfico para a saúde intestinal.

Basturk et al. (2016) avaliaram os efeitos de Bifidobacterium lactis B94 com inulina (simbiótico), de B. lactis B94 (probiótico) e somente de inulina (prebiótico) sobre os sintomas gastrointestinais de crianças com síndrome do intestino irritável. Os pesquisadores observaram redução de plenitude abdominal, melhora do inchaço após as refeições e constipação nas crianças que consumiram probiótico e simbiótico, sugerindo que o consumo confere benefícios à saúde.

Considerações finais

A disbiose é o desequilíbrio que ocorre na diversidade de bactérias intestinais, havendo predomínio de bactérias patogênicas, somado ao aumento de permeabilidade intestinal, culminando com estado pró-inflamatório e alteração de neurotransmissores do eixo cérebro-intestinal. A suplementação alimentar de prebióticos e probióticos é de suma importância para melhoria desse quadro, além de uma alimentação saudável. 

 

Referências Bibliográficas

 

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