Ilex paraguariensis, conhecida popularmente como erva-mate, é uma espécie encontrada no Brasil e sua presença é observada desde o Mato Grosso do Sul até o Sul do país, Paraguai e Argentina (Nogueira; Pereira, 2021). Dados do IBGE (2020) evidenciam que em 2020, o Brasil liderou a produção com cerca de 953 mil toneladas, seguido pela Argentina, com 812 mil toneladas e pelo Paraguai, com 150 mil toneladas. No Brasil, o estado do Paraná é o principal produtor, alcançando aproximadamente 425,9 mil toneladas no mesmo ano. Assim, no país, segundo dados da EMBRAPA (2023), a erva-mate apresenta importância econômica, ecológica e social.
A erva-mate (Figura 1A) é constituída por uma variedade de substâncias, sendo elas: compostos bioativos, minerais e vitaminas hidrossolúveis. É uma espécie vegetal rica em fitoquímicos como polifenóis, alcaloides e terpenos e, entre os polifenóis, estão inseridos os flavonoides, entre os alcaloides estão a cafeína e a teofilina e, entre os terpenos, estão saponinas e carotenoides (Heck; De Mejia, 2007). Suas folhas podem ser amplamente utilizadas, sendo empregadas tanto para fins medicinais quanto na preparação de bebidas estimulantes e alimentos. É consumida principalmente na forma de bebidas, dando origem ao chá (Figura 1B), chimarrão (Figura 1AC) e tererê (Figura 1D) que são produzidos por meio de infusão quente ou fria e são especialmente apreciadas e consumidas na região do Rio Grande do Sul (Kettermann et al., 2007).
Figura 1 – Folhas de erva-mate, chá mate, chimarrão e tererê. / Fonte: Bing
De acordo com Isolabella et al. (2010), o processamento da erva-mate envolve os estágios de colheita, sapeco, secagem, trituração, maturação e embalagem e, durante algumas etapas do processamento industrial, as folhas sofrem alterações na concentração dos compostos bioativos.
Diversas opções de chás de ervas prontos para consumo estão disponíveis, abrangendo desde versões naturais até aquelas aromatizadas e enriquecidas com nutrientes e compostos bioativos. Assim, o chá-mate vem alcançando grande popularidade entre as bebidas, devido à sua abundância de antioxidantes, vitaminas e minerais, que promovem o bem-estar geral. Além de serem uma fonte natural de energia, esses chás têm sido vinculados a uma série de benefícios à saúde, incluindo a melhoria do desempenho físico e suporte ao metabolismo saudável (Silva et al., 2022). O chá-mate vem conquistando cada vez mais espaço no mercado brasileiro e juntamente com o café são as bebidas quentes mais consumidas.
Diversos fatores interferem na concentração dos compostos presentes na erva-mate que irão ser transferidos para as bebidas. Dentre esses fatores estão presentes o tempo e a temperatura de infusão, a relação massa de erva e volume de água, a granulometria e a composição da erva e a presença de outras espécies de Ilex que são adulterantes (Bastos; Torres, 2003). Além disso, o processamento industrial causa modificações químicas nas folhas da erva-mate, gerando produtos de capacidade antioxidante variável (Bastos et al., 2006; Dartora et al., 2011; Valerga; Reta; Lanari, 2012).
Devido a sua composição, a erva-mate apresenta vários benefícios à saúde humana e, esses benefícios, não são apenas à saúde física do indivíduo, mas também melhorias na saúde mental, incluindo uma maior capacidade de memorização (Flora; Silva; Dreon, 2015).
Compostos fenólicos em erva-mate
Estudos relatam que o consumo de bebidas de erva-mate pode conceder proteção contra os efeitos dos radicais livres. A atividade antioxidante é conferida à erva devido a presença dos compostos de polifenóis que são capazes de deslocar elétrons, formar ligações de hidrogênio intramoleculares e também de inibir reações em cadeia, reparando as lesões decorrentes das espécies reativas (Bastos et al., 2007; Colpo et al., 2016).
Os compostos fenólicos nos extratos de erva-mate têm concentração variável de 0,73 a 1,6 g/L e são encontrados majoritariamente os ácidos cafeoilquínico e dicafeoilquínicos, pertencentes à família dos ácidos clorogênicos. Da Silveira et al. (2016) constataram que o consumo de 300 mL de chá mate corresponde a ingestão dos mesmos níveis de ácidos clorogênicos presentes em 50 mL de café. Dentre os flavonoides, os que são encontrados em maior quantidade são a rutina, o canferol e a quercetina (Bastos et al., 2007; Bracesco et al., 2011).
O uso de extratos de erva-mate no desenvolvimento de novos produtos com potencial tecnológico tem sido destacado, tanto na indústria alimentícia quanto farmacêutica (Chaicouski; Lazzaratto 2021). Pesquisas desenvolvidas ao longo dos anos têm buscado transformar alimentos comuns em alimentos funcionais adicionando extratos de erva-mate (Santetti et al., 2021; Chaicouski; Lazzarotto, 2022; Kautzmann et al. 2024). Entretanto, esses compostos são muito sensíveis às etapas de processamento de alimentos e podem interagir com matérias-primas (Chaicouski; Lazzaratto 2021).
Benefícios do consumo de extratos e chá de erva-mate: estudos in vivo
A ingestão do extrato da erva-mate por ratos com dieta rica em gordura ou açúcar durante 60 dias, causou diminuição dos níveis de peso corporal, gordura visceral, glicose e colesterol (Przygodda et al., 2010). Em um estudo com indivíduos obesos durante 12 semanas, ele acarretou melhorias da gordura corporal, sem efeitos adversos (Kim et al., 2015). Segundo Barroso et al. (2019), o chá mate preveniu a diminuição de colesterol HDL, o acúmulo de gotículas lipídicas nos hepatócitos, a desregulação da captação de glicose, o aumento de insulina e melhorou os indicadores de estresse oxidativo, ou seja, o chá mostrou possuir efeitos antidiabéticos e anti-inflamatórios que impedem o acúmulo de gordura no fígado.
Os estudos evidenciam o potencial da erva-mate em auxiliar as vias que regulam as respostas à sinalização de adipogênese, antioxidantes, anti-inflamatórios e insulina. Esses achados sugerem que a inserção da erva-mate na dieta pode ser vantajosa pois possivelmente irá auxiliar na redução de peso e no controle da obesidade do indivíduo que a consumir frequentemente (Przygodda et al., 2010; Gambero; Ribeiro, 2015; Antunes; Cardoso; da Silva Paula, 2017).
Em voluntários com alta viscosidade sanguínea, a erva-mate apresentou efeito na microcirculação. No estudo de Yu et al. (2015) foi administrado cinco gramas por dia de chá mate a diferentes grupos e observado uma hiperviscosidade sanguínea normalizada e fluxo sanguíneo saudável em indivíduos com doença cardiovascular.
Em pessoas dislipidêmicas, que possuem elevada taxa de colesterol e triglicérides ou diminuição dos níveis de HDL, foi administrado 1 litro de chá mate por dia durante 90 dias e foi encontrado aumento na proteção antioxidante do plasma e do sangue (Boaventura et al., 2012).
A ingestão oral e tópica do chá mate reduziu o dano ao DNA e a peroxidação lipídica no tecido cutâneo de ratos quando submetidos à radiação UVA e UVB (Barg et al., 2014).
De acordo com Cardozo et al. (2021), na indústria de bebidas funcionais, as opções que têm como base a erva-mate possuem boa aceitação pelo público consumidor.
Resultados obtidos por meio das pesquisas evidenciaram também que o chá de mate, bastante apreciado no Brasil, demonstrou eficácia em transportar os probióticos L. plantarum LP299V e L. rhamnosus GG. Os autores enfatizaram a alternativa inovadora e promissora para as indústrias de bebidas voltadas para os consumidores que priorizam uma alimentação saudável, alternativa e equilibrada (Silva et al., 2022).
Além disso, o extrato de erva-mate também foi capaz de reduzir significativamente a viabilidade de células de carcinoma humano de cólon, pulmão, esôfago e bexiga (Amigo-Benavent et al., 2017). Dessa forma é possível observar os benefícios à saúde promovidos pela erva-mate.
Considerações
A erva-mate apresenta muitos nutrientes e compostos bioativos que conferem diferentes benefícios à saúde do consumidor. Dentre eles a redução do peso corporal, regulação do colesterol, ação antioxidante e auxílio no desenvolvimento cognitivo do indivíduo. O chá pode ser consumido de diferentes formas sendo uma das bebidas mais consumidas pela população. Além disso, o seu extrato pode ser incorporado em diferentes formulações alimentícias como em pães e produtos cárneos.
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