Considerado como a mais rica savana do mundo, o cerrado brasileiro possui vasta biodiversidade em fauna, flora e clima (BRASIL, 2010). Segundo maior bioma da América do Sul, com pouco mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, corresponde a cerca de 22% do território nacional. Geograficamente, abrange os estados da Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Tocantins. Quando se fala sobre diversidade de clima, o cerrado possui características que correspondem a climas equatoriais, tropicais e subtropicais, essas variações se dão devido as condições de radiação solar (NASCIMENTO et al., 2020).
FIGURA 1 – Cerrado. Fonte: Autores (2023).
Durante o processamento de frutos, cerca de 40% a 45% do seu peso refere-se a coprodutos como casca e sementes, sendo que 22% corresponde a semente do fruto e 20% a 25% a casca. Esses resíduos possuem alto valor nutritivo, relacionado a proteínas, fibras, minerais, vitaminas e outras propriedades funcionais (SILVA et al., 2021).
Segundo a FAO (2018) uma das dificuldades principais das agroindústrias é a produção sustentável dos alimentos, buscando segurança alimentar e diminuindo os impactos ambientais ligados a produção. O aproveitamento de resíduos orgânicos como coprodutos para desenvolvimento de alimentos é uma possibilidade de reduzir os desperdícios, além de agregar valor nutricional aos alimentos (PAULO et al., 2020).
As cascas de frutos, verduras e legumes não possuem destino apropriado, apresentam altos valores nutritivos, às vezes com teores maiores que as próprias polpas. Portanto, com base nos altos níveis de resíduos gerados pelo processamento de alimentos, nota-se a importância de novos estudos que viabilizem o tratamento e uso adequado desses resíduos, como forma de redução dos desperdícios e agregação de valor nutricional na aplicação de coprodutos em novos alimentos, visto que a maioria apresenta altos valores nutricionais (MONTEIRO, 2013).
O pequi (Caryocar brasiliense Camb.) é fruto nativo do cerrado, etimologicamente ligado à língua tupi: py = casca e qui = espinho, apresenta gosto inconfundível, é comumente encontrado na região Centro-Oeste do Brasil, onde o clima e solo são propícios ao cultivo da planta. Suas arvores chegam a atingir até 10 m de altura com média de 50 anos de vida, os frutos podem ser colhidos a partir do oitavo ano de cultivo, costuma florescer entre os meses de setembro e novembro com período de frutificação de outubro a fevereiro, sua arvore possui capacidade de produzir até 1000 frutos anualmente. O pequi apresenta casca esverdeada, polpa com tonalidades de amarelo e alaranjado simultaneamente e amêndoa coberta de espinhos finos que medem de 2 mm a 5 mm de comprimento, os frutos possuem de 1 a 4 sementes, que pesam entre 100 g a 150g cada (BRASIL, 2010).
FIGURA 2 – Árvore e frutos do pequizeiro. Fonte: Autores (2023).
Existem estudos que viabilizam o desenvolvimento e aplicação de testes do fruto de pequi sem espinhos. Segundo Kerr et al. (2007), no ano de 2005 iniciaram os testes com alterações genéticas do fruto com intuito de comercialização do pequi com caroço sem espinho. Visto que essa tecnologia proporciona o aumento na renda e melhoria das propriedades nutricionais do fruto, aumentando a área útil de consumo e com possibilidade de plantio em pomares caseiros.
É importante enfatizar o valor nutricional desse fruto, pois é rico em nutrientes e traz grandes benefícios a saúde humana, a polpa possui alto valor energético (358 kcal.100 g-1), com teores elevados de minerais, lipídios e vitamina C (BATISTA et al., 2019).
Um subproduto resultante do processamento do pequi é a casca, que representa 76,5% do fruto, possui baixo índice de reaproveitamento que por sua maioria apresenta um descarte inadequado, causando um elevado volume de resíduo na sua comercialização (BASILIO et al., 2020).
Segundo Campos et al. (2016) o epicarpo do pequi (casca) possui diversas formas de aplicação em produtos, como por exemplo extratos e farinha para aplicação em alimentos funcionais, fabricação de sabão e ração animal. Além do consumo do fruto em diversos pratos o pequi pode ser utilizado para extração de óleo da polpa e amêndoa, como agente fitoterápico (BRASIL, 2010),
Assim como os valores econômicos do pequi estão concentrados apenas na polpa do fruto, nota-se que esse elevado teor de resíduo descartado de forma inadequada, indica-se a relevância de desenvolvimento de novos estudos para a aplicação de casca como coprodutos em novos alimentos. Reduzindo os desperdícios e agregando propriedades nutricionais com intuito do desenvolvimento de alimentos funcionais.
Referências bibliográficas
- BASÍLIO, J. J. N.; RODRIGUES, L. A.; SILVA, M. S. A.; COLEN, F.; OLIVEIRA, L. S. Biochar de casca de pequi como componente de substrato para produção de mudas de Eucalyptus urophylla ST. Caderno de Ciências Agrárias, v. 12, p. 1-10, 2020.
- BATISTA, FRANCINE OLIVEIRA., SOUSA , ROMAILDO SANTOS DE. Compostos bioativos em frutos pequi (caryocar brasiliense camb.) E baru (dipteryx alata vogel) e seus usos potenciais: uma revisão. Braz. J. of Develop Curitiba, v. 5, n. 7, p. 9259-9270, 2019.
- Campos, R. P., da Silva, M. J. F., da Silva, C. F., Fragoso, M. R., & Candido, C. J.; Elaboração e caracterização de farinha da casca de pequi. Cadernos de Agroecologia, v. 11, n. 2, 2016.
- Food and Agriculture Organization of the United Nations, FAO. The State of Food Security and Nutrition in the World. Building climate resilience for food security and nutrition. Rome, 2018.
- Kerr, W. E., Silva, F. R. D., & Tchucarramae, B. Pequi (Caryocar Brasiliense Camb.): informações preliminares sobre um pequi sem espinhos no caroço. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 29, p. 169-171, 2007.
- Manual Tecnológico de Aproveitamento Integral do Fruto do Pequi. Brasília – DF. Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). Brasil, 2010.
- MONTEIRO, S. S. Caracterização Química da Casca de Pequi (Caryocar Brasiliense Camb.), Avaliação de seus Extratos e Aplicação em Linguiça de Frango para Aumento do Shelf Life. Universidade Federal de Santa Maria. 2013
- NASCIMENTO, D. T. F.; NOVAIS, G. T. Clima do Cerrado: dinâmica atmosférica e características, variabilidades e tipologias climáticas. Élisée, Revista de Geografia da UEG. Rev. Geo. UEG – Goiás, v.9, n.2, e922021, jul./dez. 2020.
- PAULO, C. R. V.; FEITOSA, M. K. B.; LISBÔA, C. G. C.; MOURA, L. B.; SILVA, I. M. R. B.; SOUSA, E. O. Elaboração e qualidade de biscoitos tipo cookie enriquecidos com torta da prensagem da amêndoa de Caryocar coriacium Wittm. Agropecuária Técnica, v. 41, n. 1-2, p. 16-24,2020.
- SILVA, B. N. N.; NECO, A. C. R.; SOUSA, E. O.; SILVA, I. M. B. R. Farinha da casca da manga para elaboração de massa pronta de pão de ló. Revista Brasileira de Agrotecnologia, v. 11, n. 2, p. 62-66, 2021.