Propriedades bioativas de frutos do cerrado

O Cerrado é um bioma característico do Brasil, com árvores de troncos retorcidos, casca grossa e porte relativamente baixo em relação a outros biomas, é rico em frutas com sabores exóticos que podem ser consumidas in natura ou processadas. Está localizado na região central do país, compreendendo os Estados do Amapá, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Piauí, São Paulo e Tocantins. Pequenas áreas dos Estados do Paraná e Rondônia também fazem parte do Cerrado (EMBRAPA, 2022).

O Ministério do Meio Ambiente fundou em setembro de 2003, o Grupo de Trabalho do Bioma Cerrado, para propor um programa designado à conservação da biodiversidade do cerrado. Um ano após a fundação e a realização de várias consultas públicas, o grupo levou a proposta do Programa Cerrado Sustentável, que foi instituído por meio do Decreto 5.577, de 8 de novembro de 2005, para promover a conservação, recuperação e manejo sustentável do ecossistema, valorização da fauna e flora do Cerrado (BRASIL, 2022).

O aumento das atividades agrícolas no Cerrado brasileiro resultou em perda da vegetação nativa, diminuição da biodiversidade e altas emissões de gases que prejudicam o efeito estufa, portanto, o Código Florestal Nacional garante preservação por lei das áreas agrícolas de vegetação natural (POLIZEL et al., 2020). Entre o conjunto de ações que garantem a manutenção da vegetação do Cerrado estão, o cultivo em áreas reflorestadas, implementação de pomares com plantas nativas, produção e distribuição de mudas, recuperação da vegetação degradada e plantio em áreas legalmente protegidas (SOUZA & NAVES, 2016).

Araticum, Baru, Bocaiuva, Buriti, Cagaita, Gabiroba, Mama-cadela, Mangaba, Murici, Jatobá, Quiabo-da-lapa e Pequi, são frutos do Cerrado com potencial no cenário agroindustrial brasileiro, devido o valor comercial e nutricional, bem como, aroma, sabor e cor, que são propriedades particulares destes frutos, porém, são altamente perecíveis.  (REIS & SCHMIELE, 2019). 

O Cerrado ao longo de anos foi habitado pelos índios que cultivavam e se alimentavam dos frutos nativos, dessa forma, foram desenvolvidas e adaptadas maneiras de aproveitamento desses frutos, na forma de aperitivos, doces, bolos, sorvetes, sucos, licores e mingaus como fontes de renda para estes colonizadores. Devido ao valor comercial estas frutas tornaram-se atrativas para agricultores, agências de pesquisa, comerciantes, cooperativas, agências de saúde, assistência técnica, donas de casa, alimentação e universidades. Hoje, essas frutas são consumidas in natura e comercializadas informalmente (LUNA et al., 2010).

As características nutricionais dos frutos do Cerrado têm sido alvo de pesquisas, devido aos benefícios que este Bioma tem proporcionado (VIDELA et al., 2013). Segundo Rosa (2013) estes frutos são fonte de vitaminas A, C e E, e substâncias fenólicas. Devido a ação antioxidante e os benefícios produzidos na saúde humana, as indústrias de alimentos procuram incentivar a comercialização destes frutos através da elaboração de novos produtos (SIQUEIRA et al., 2013).

O estudo com a flora nativa apresentou crescimento, porém, as informações ainda são escassas. Compreende-se que frutos do Cerrado são fonte de nutrientes, ricos em compostos bioativos, entre estes estão a fibra dietética solúvel e insolúvel, proteínas, carboidratos, lipídios, carotenoides, fenólicos totais, minerais e vitaminas. Os compostos fenólicos são os compostos bioativos mais presentes nesses frutos, apresentando elevada atividade antioxidante (SCHIASSI et al., 2018).

De acordo com Silva et al. (2019) os frutos do Cerrado apresentam alto valor nutricional com compostos bioativos que promovem saúde e ajudam na redução de colesterol. Os compostos bioativos presentes nestes frutos podem reduzir ou prevenir alguns tipos de doenças como, diabete, doenças cardiovasculares, câncer, hipertensão, mal de Alzheimer, obesidade, certas afecções reumáticas e inflamatórias (NEVES, 2012).

Os compostos fenólicos oferecem vários benefícios para a saúde e os frutos do Cerrado apresentam diversidades de compostos com potencial antioxidante, representando altas fontes de nutrientes por meio do consumo, além disso, podem ser utilizados na elaboração de medicamentos. Os flavonoides possuem cerca de 4000 compostos, identificados como antocianinas, catequinas, chalconas, flavanóis, flavanonas, flavonas, flavonóis e isoflavonas, os antioxidantes em frutos são denominados pela capacidade de oxidação e redução, atuando como agentes redutores (ALVES, 2013).

As indústrias alimentícias, farmacêuticas e cosméticas utilizam frutos do Cerrado na produção de novos produtos benéficos à população.  O cultivo gera renda para pequenos e médios produtores residentes nesse ambiente, proporcionando o retardamento do desmatamento (LAND et al., 2017).

Morais et al. (2013) verificaram considerável potencial antioxidante na semente da Lobeira, polpa de Murici, epicarpo e mesocarpo do Pequi e pedúnculo de Quiabo-da-lapa, portanto, esses frutos são considerados fontes potenciais de antioxidantes naturais e devem ser explorados a fim de promover a saúde. Além disso, a polpa do pequi mostrou-se fonte de lipídios, fibras, carotenoides totais, compostos fenólicos, vitaminas e do mineral potássio, enquanto a amêndoa apresentou teores elevados de proteínas, lipídios e minerais (fósforo, potássio e magnésio) (ARRUDA et al., 2012). 

A polpa do pequi possui 33,4% de lipídios, 3% de proteínas e 10,02% de fibra alimentar. Cerca de 209 mg por 100 g de fenólicos totais está presente na polpa do pequi, apresentando valores elevados em comparação a outras frutas como o abacaxi 21,7 mg por 100g, açaí 136,8 mg por 100g, goiaba 83,1 mg por 100g, graviola 84,3 mg por 100g, maracujá 20,2 mg por 100g e morango 132,1 mg por 100g (LEMOS, 2012).

A amêndoa de baru possui elevado teor de calorias 502 kcal por 100 g, potássio 827 mg por 10 g, fósforo 358 mg por 100 g, magnésio 178 mg por 100 g, lipídios 38,2 g por 100 g, fibras 13,4 g por 100 g e proteínas 23,9 g por 100 g, diante disso, é indicado o consumo por seres humanos. O óleo extraído da amêndoa do baru apresenta cerca de 81,2 % de índice de insaturação, favorecendo a aplicação na indústria alimentícia e farmacêutica (TAKEMOTO et al., 2001).

A polpa da guavira (gabiroba) dispõe de compostos que auxiliam na atividade antioxidante como, beta-caroteno, compostos fenólicos e vitamina C (MORZELLE et al., 2015). São fontes de cálcio, cobre, minerais, magnésio, potássio, fósforo e zinco. Segundo Alves et al. (2013) a guavira contém vitamina B2 e apresenta baixa quantidade de lipídeos. Possui substâncias bioativas, compostos fenólicos e ácido ascórbico (PEREIRA et al., 2012; ROCHA et al., 2011). 

A Mama-Cadela possui alto teor de ácidos fenólicos, taninos e fenólicos totais, apresenta proteína globulina (250 mg por g) e carboidratos (51,54%) (ROCHA et al. (2011). De acordo com Abreu (2015) a Mama-Cadela contém grandes quantidades de compostos bioativos, como ácido ascórbico e compostos fenólicos, além de altos teores de carotenoides, principalmente licopeno e beta-caroteno, que possuem propriedade antioxidante.

 

Considerações finais

Os frutos nativos do Cerrado, são cultivados e apreciados pelos seres humanos. Atualmente, a busca por estes frutos tem aumentado devido ao valor comercial e nutricional que os frutos apresentam. O consumo destes frutos pode beneficiar na proteção ou tratamento de doenças devido a ação antioxidante.

Com isso, o mercado consumidor está em busca de produtos com apelo natural e funcional, e devido às altas perdas pós-colheita dos frutos do cerrado, a indústria alimentícia devido à necessidade desenvolveu maneiras de aproveitamento destes frutos, o que facilita a comercialização, por meio da geração de emprego e renda às populações locais, favorecendo a ampliação industrial, minimizando o desperdício e promovendo a geração de coprodutos.

 

Referências

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