Nos dias 12 a 15 de junho, a cidade de São Paulo foi palco da BioBrazil Fair e Naturaltech, uma feira que apresentou novas tendências de produção orgânica e natural para o público da América Latina. Além dos produtos alimentícios, a feira contou com marcas de cosméticos, higiene e limpeza. O Portal e-food esteve no evento a convite da certificadora QIMA/IBD e destacou os principais pontos observados durante o evento.
Produção orgânica
A produção orgânica reúne um conjunto de modelos alternativos de produção ecológica, sendo agricultura orgânica, biodinâmica, permacultura, agricultura natural, agrofloresta, entre outros. Esses modelos produtivos visam conciliar o desenvolvimento financeiro com processos extrativistas sustentáveis e não prejudiciais ao ecossistema local, desmotivando o uso de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos, sementes modificadas, reguladores de crescimento animal e intensa mecanização das atividades.
O Brasil possui cerca de 26 mil produtores orgânicos no Cadastro Nacional de Produtos Orgânicos (CNPO), realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o que garante que seus produtos possam ser comercializados em mercados, lojas, restaurantes, hotéis, indústrias e também podem ser exportados.
Durante a feira, as marcas expositoras mostraram como estão se ajustando ao formato ecológico de produção. Em seus stands, explicaram e demonstraram por meio de conversas, jogos, totens e atividades os modelos de produção utilizados nos seus produtos, os ingredientes naturais, cuidados com os animais e com a terra, além dos selos de certificação adquiridos para garantir que estão alinhados com as melhores práticas de produção.
Os principais selos vistos nos produtos expostos na BioBrazil Fair e Naturaltech foram:
Imagem 1: Principais selos de produção orgânica nos produtos expostos na feira
Sustentabilidade e redução de plástico
Em busca da sustentabilidade, as marcas expositoras optaram pela redução de plástico poluente de uso único na entrega de amostras grátis e brindes. As amostras de produtos foram distribuídas em copos de papel, com pás de bambu, em guardanapos de papel e algumas empresas preferiram deixar os itens à disposição dos visitantes para que pudessem pegar sem o uso de utensílios. A maioria dos brindes foram desenvolvidos com materiais reutilizáveis como acrílico, algodão cru nas ecobags e metal em copos.
Imagem 2: Amostra de produto oferecido em copo de papel e pá de bambu (Foto da autora)
Essas medidas estão alinhadas o relatório “Fechando a torneira: como o mundo pode acabar com a poluição plástica e criar uma economia circular”, apresentado no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) com medidas e sugestões para os países e para as empresas incentivando que o mercado “reutilize, recicle e reoriente e diversifique os produtos”, para que até 2040 a poluição plástica consiga ser reduzida em até 80%.
Um desafio considerável, já que em 2021 foram produzidas 139 milhões de toneladas de plástico poluente de uso único, 6 milhões a mais do que em 2019, sendo 40% destinados a embalagens de alimentos. Além desses dados, de todo o plástico produzido no mundo (de uso único ou não), apenas 9% é reciclado, no Brasil esse número cai para 1,3%. As marcas precisam estar alinhadas ao propósito mundial sendo tão importantes na indústria quanto nas medidas de preservação ambiental.
Plásticos, microplásticos e nanoplásticos são agentes causadores de poluição ambiental que prejudicam a saúde humana, dos outros animais e do meio ambiente. Nos cursos d’água, podem causar obstrução e emaranhamento de animais marinhos, ocasionando em milhares de organismos. O plástico não some, seu processo de degradação é a quebra em pedaços menores (micro e nanoplástico), que acabam fragmentados no meio ambiente. Já foram encontrados em estômago e outras partes de peixes, que atingem os humanos devido a escala da cadeia trófica. Em humanos, já foi encontrado na corrente sanguínea, no estômago, leite materno, coração e pulmão. Partículas de plástico também já foram encontrados nas nuvens e, recentemente, relatados como causadores de “plasticose”, uma doença que causa fibrose intestinal em aves.
Veganismo
Produtos veganos são aqueles livres de ingredientes de origem animal e/ou que não façam testes em animais. Esse segmento chamou muita atenção na feira, com uma quantidade de produtos ou marcas veganas que tiveram muito espaço de exposição. Em paralelo, as marcas não veganas aproveitaram para se adaptar ao novo estilo de vida dos consumidores e destacaram produtos veganos e certificados, como opção viável para os consumidores que desejam entrar em seu nicho, com custo similar aos produtos não veganos. Já as empresas inteiramente veganas superaram as expectativas trazendo produtos novos em releituras fiéis de produtos não veganos e com sabor incomparável. Entretanto, não perderam a originalidade em servir inovação de produtos exclusivamente com a skin vegana.
Imagem 3: Sorvete de leite de aveia (Foto da autora)
Sorvete, capuccino, pão de queijo e queijo (parmesão, cheddar, provolone), barras de cereal, suplementos alimentares, bebidas chocolates, salgadinhos, linguiça, sopas, cosméticos, produtos de higiene e limpeza foram alguns dos itens veganos, com ingredientes substitutos e plant based. Além do público alvo, os não veganos também puderam experimentar e despertar novos sabores e possibilidades de consumo sem ingredientes de origem animal.
O Selo Vegano da Sociedade Vegetariana Brasileira apresentado nas embalagens de diversos produtos expostos na BioBrazil Fair e Naturaltech exemplifica o crescimento desse market share. Segundo o site da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), o programa Selo Vegano já está implementado em mais de 3.900 produtos de cerca de 250 empresas, mais de 700 fabricantes fornecedores avaliados e mais de 4.700 ingredientes auditados, que variam em produtos de alimentos, cosméticos, higiene pessoal, suplementos alimentares, produtos de limpeza e vestimenta.
Imagem 4: Selo Vegano, atribuído pela Sociedade Vegetariana Brasileira
A escolha do estilo de vida vegetariano/vegano depende de vários fatores como preocupação com a saúde, preservação do meio ambiente e o bem-estar animal, em busca do sofrimento free. Esses pontos podem ser escolhas pessoais, mas vem atingindo uma escala maior nos últimos anos. Tanto que, independente do motivo, a quantidade de negócios abertos na categoria “vegana” aumentou 500% entre 2014 e 2024, segundo o Ministério da Economia. De acordo com o The Good Food Institute (GFI), cerca de 59% dos brasileiros já consomem alternativas vegetais na sua alimentação, esses dados fazem o Brasil faturar 15 milhões de reais com esses mercado.
Alguns dados sobre o crescimento do mercado vegano são um ponto de atenção importante para que olhemos esses produtos com outros olhos. A indústria vegana cresce 40% a cada ano no Brasil. Até 2027, a expectativa de crescimento da produção de queijos veganos é de 10% ao ano. Para cosméticos veganos esse número é de 6,3% por ano até 2025.
ESG
Os produtos em si chamam muito atenção dos visitantes da feira, mas é preciso destacar também as palestras com os temas ESG (Environmental, Social and Governance), produção orgânica e natural, produtos veganos, novas tendências de mercado e modelos de negócio, entre outras, que foram oferecidas durante o evento e trouxeram muito conteúdo informativo conectando a vivência de produtores, pesquisadores e acadêmicos e empresários que formam uma rede de conhecimento para apresentarem as melhores e mais eficazes práticas de produção.
Imagem 5: Produtores de cacau e vinho orgânico e o diretor da QIMA IBD em uma roda de conversa sobre produção biodinâmica. (Foto da autora)
Reservo um elogio especial à organização da feira, que acertou em cheio na oferta do restaurante dos expositores. Disponibilizaram duas ilhas de alimentos, uma orgânica e outra vegana, com pratos elaborados e preços acessíveis, para que os expositores pudessem se alimentar com qualidade, com variedade nutricional e sabor, para se manterem nos dias intensos de feira.
Referências
- BRASIL. Ministério da Agricultura e Pecuária. Orgânicos. [Brasília]: Ministério da Saúde, 27 maio. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sustentabilidade/organicos. Acesso em: 20 de jun de 2024.
- CHARLTON – HOWARD et al., ‘Plasticosis’: Characterising macro- and microplastic-associated fibrosis in seabird tissues. Journal of Hazardous Materials. V. 450. 2023.
- JORNAL DA USP. Apenas 9% do plástico global é reciclado; no Brasil, a porcentagem é ainda menor. 2024. Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/apenas-9-do-plastico-global-e-reciclado-no-brasil-porcentagem-ainda-e-menor/. Acesso em: 20 de jun de 2024.
- ONU BRASIL. Relatório da ONU aponta soluções para reduzir a poluição plástica. 2023. Disponível em:https://brasil.un.org/pt-br/231688-relat%C3%B3rio-da-onu-aponta-solu%C3%A7%C3%B5es-para-reduzir-polui%C3%A7%C3%A3o-pl%C3%A1stica. Acesso em: 20 de jun de 2024.
- SEBRAE DIGITAL. Oportunidades do mercado vegano e vegetariano. 2024. Disponível em: https://digital.sebraers.com.br/blog/mercado/oportunidades-do-mercado-vegano-e-vegetariano/. Acesso em: 20 de jun de 2024.
- SOCIEDADE VEGETARIANA BRASILEIRA. Mercado Vegano. Disponível em: https://svb.org.br/vegetarianismo-e-veganismo/mercado-vegano/#:~:text=Crescimento%20do%20Mercado,mais%20de%20300%25%20no%20Brasil. Acesso em: 20 de jun de 2024.
- UM SÓ PLANETA. Mesmo com restrições, mundo está criando mais resíduos plásticos de uso único do que nunca, segundo relatório. 2023. Disponível em: https://umsoplaneta.globo.com/sociedade/noticia/2023/02/06/mesmo-com-restricoes-mundo-esta-criando-mais-residuos-plasticos-de-uso-unico-do-que-nunca-segundo-relatorio.ghtml. Acesso em: 20 de jun de 2024.