Sustentabilidade na produção de derivados lácteos

A cadeia produtiva do leite representa um setor de expressiva relevância para a economia brasileira, recebendo atenção especial do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Com produção que ultrapassa 36 bilhões de litros anuais, o Brasil se destaca como o quarto maior produtor mundial de leite. Além da importância econômica, o setor desempenha papel significativo na esfera social, está em 98% dos municípios do país e contribui para a geração de empregos e renda para milhões de pessoas (BRASIL, 2022).

Com base nos dados divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, referentes ao faturamento no ano de 2022, o setor de laticínios alcançou um valor líquido de R$ R$138 bilhões, posicionando-se como o terceiro setor mais lucrativo, superado apenas pelos setores de derivados de carne e indústrias beneficiadoras de café, chá e cereais (MARTINS, 2022). O desenvolvimento tanto do faturamento quanto da produção desses setores é proporcional a população, uma vez que a demanda por alimentos acompanha a propagação da população mundial.

Nos últimos anos, observou-se a preocupação com o impacto ambiental decorrente da produção de alimentos, o que moldou um novo perfil de consumo global. Nesse contexto, o mercado de produtos orgânicos e de produção local registrou um avanço significativo. Diante desse cenário transformador, as indústrias e os produtores de alimentos enfrentam o desafio de conciliar a expansão da demanda com práticas sustentáveis e bem-estar animal (CGEE, 2014).

Os impactos ambientais estão associados a práticas que promovem modificações adversas ao meio ambiente e produzem efeitos indesejáveis a natureza (SÁNCHES, 2008). Diversas atividades industriais geram poluentes que impactam o meio ambiente, pois esses sistemas foram projetados para suprir demandas econômicas e necessidades do crescimento populacional sem se atentar a ele (CLAUDINO & TALAMINE, 2013).

 A geração de resíduos sólidos, de efluentes líquidos e as emissões de gases atmosféricos poluentes na indústria de laticínios estão associadas principalmente ao processo produtivo (SILVA, 2011). A atividade leiteira é complexa e, com o passar dos anos, vem inovando e adquirindo novos processos. De acordo com Basset-Mens et al., (2009), a produção está se transformando e indo em busca de maior produtividade, mais produção de leite em menos área de terra, buscando por avanços tecnológicos. Entretanto, há também um aumento no consumo de insumos fertilizantes, fontes de energia, água para irrigação e alimentação do rebanho leiteiro. Diante desse contexto, é importante que os resíduos e impactos ambientais sejam quantificados e qualificados para o correto manejo, descarte de acordo com a legislação ambiental vigente e para que novas soluções sustentáveis sejam viabilizadas na cadeia de produção leiteira. 

Há vários impactos ambientais notáveis em diversas etapas da atividade leiteira. No elo rural os problemas estão relacionados com a escassez de água, desmatamento da vegetação nativa por conta da criação do gado e das pastagens, grande quantidade de esterco e dificuldades no manejo, podendo impactar na contaminação do solo e lençol freático. Além disso, o gás metano, que é produzido pelos animais, contribui com os gases de efeito estufa e aquecimento global (DELGADO, 2007). 

No elo industrial, grande parte dos efluentes líquidos são as águas utilizadas para lavagem de equipamentos e resíduos oriundos do processo de fabricação de derivados lácteos. Os resíduos sólidos contemplam as embalagens plásticas e as embalagens de papelão, as cinzas das caldeiras e alguns metais e vidros. E as emissões atmosféricas são provenientes da queima de combustíveis (óleo ou lenha) nas caldeiras. As que são movidas a óleo emitem materiais particulados como óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos e monóxido de carbono. E as movidas à lenha, liberam esses mesmos poluentes, além de compostos como o ácido acético, metanol, acetona, acetaldeído e alcatrão (MACHADO; SILVA e FREIRE, 2001). 

No processo de fabricação, o soro de leite é um subproduto da produção de queijos e derivados lácteos, rico em nutrientes, pode causar poluição se não for tratado adequadamente antes do descarte. Se liberado diretamente em corpos d’água, o soro pode levar ao crescimento excessivo de algas e outros organismos, resultando em eutrofização, diminuindo os níveis de oxigênio na água, prejudicando a vida aquática e contribuindo para a degradação da qualidade da água (SURDO, 2022).

Por outro lado, o soro de leite é aplicado no solo como fertilizante devido a nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, dessa forma, o soro contribui para o enriquecimento do solo, promovendo o crescimento das plantas. Sua aplicação beneficia a fertilidade do solo, oferecendo uma alternativa sustentável para o descarte desse resíduo, ao mesmo tempo em que fornece nutrientes essenciais para o desenvolvimento das culturas agrícolas. No entanto, se o soro não for gerenciado corretamente pode resultar em problemas, pois o excesso de nutrientes pode contaminar o solo e afetar negativamente a qualidade do solo e dos cultivos, além de levar à contaminação da água subterrânea (ZANI, 2017).

Sendo assim, o engajamento das empresas na busca de uma gestão ambiental eficaz é fundamental. A busca por uma produção mais sustentável, o uso dos recursos de forma equilibrada, a adoção de maiores controles e de novas regras quanto à qualidade do produto, tecnologias e gestão são questões que garantem a competitividade da indústria perante os novos hábitos dos consumidores e suas preocupações (CYRNE et al., 2015).

A sustentabilidade na produção de derivados lácteos é uma questão vital no cenário contemporâneo, onde a conscientização ambiental e a busca por práticas agrícolas responsáveis são cada vez mais evidentes. Ao longo deste trabalho, exploramos diversas facetas dessa temática, examinando tanto os desafios quanto às oportunidades inerentes à produção de derivados lácteos sustentáveis.

Um dos aspectos centrais que emerge é a necessidade premente de adotar práticas agrícolas e industriais que minimizem o impacto ambiental. A produção convencional de derivados lácteos frequentemente está associada a elevados consumos de água, uso extensivo de energia e emissões significativas de gases de efeito estufa. Nesse contexto, estratégias sustentáveis incluem a implementação de tecnologias mais eficientes, a gestão racional dos recursos hídricos e a busca por fontes de energia renovável (CGEE, 2014).

Além disso, a promoção de práticas agrícolas sustentáveis na produção de leite é essencial para garantir a saúde dos ecossistemas agrícolas. Isso envolve a adoção de sistemas agroecológicos, a gestão adequada dos resíduos, a preservação da biodiversidade e o respeito aos direitos dos trabalhadores rurais. A transição para sistemas de produção mais sustentáveis não apenas protege o meio ambiente, mas também fortalece a resiliência das comunidades agrícolas, contribuindo para uma cadeia produtiva mais justa e equitativa (ZANI, 2017).

Além dos aspectos ambientais, a sustentabilidade na produção de derivados lácteos está intrinsecamente ligada à responsabilidade social e econômica. Iniciativas que buscam melhorar as condições de trabalho nas fazendas leiteiras, promover a equidade de gênero e apoiar pequenos produtores desempenham um papel crucial nesse contexto. Em um mundo onde a demanda por produtos lácteos continua a crescer, a integração de práticas sustentáveis na produção é não apenas uma escolha ética, mas também uma estratégia inteligente para garantir a viabilidade a longo prazo do setor. A conscientização dos consumidores sobre a origem e os impactos ambientais dos produtos lácteos desencadeia uma mudança nas preferências, impulsionando a indústria a adotar práticas mais sustentáveis (MARTINS, 2022). 

Em última análise, a sustentabilidade na produção de derivados lácteos não é apenas uma necessidade imperativa, mas uma oportunidade de criar sistemas alimentares mais resilientes, responsáveis e orientados para o futuro. O compromisso conjunto de produtores, indústrias, governos e consumidores é essencial para impulsionar essa transformação rumo a um setor lácteo verdadeiramente sustentável.

 

Referências:

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