Coprodutos de frutas na alimentação humana

INTRODUÇÃO

A produção brasileira de frutas continua a superar-se, onde mais de 44 milhões de toneladas de frutas são produzidas anualmente (ANUÁRIO BRASILEIRO DE HORTI&FRUTI, 2021). As boas condições climáticas e de solo permitem que tenhamos uma variedade de frutas o ano inteiro, adaptadas aos mais diversos biomas, e todas essas frutas têm algo em comum, porque fazem parte da diversidade e cultura brasileira (Fruticultura Brasileira, 2022).

Estima-se que 53% da produção de frutas é destinada à venda de orgânicos e 47% utilizada no setor agroindustrial para produção de polpa, farinha, geleias e outros produtos alimentícios. Com isso, o beneficiamento dessas frutas gera resíduos que muitas vezes não chegam aos devidos destinos e são descartados erroneamente, produzindo odores devido à decomposição da matéria orgânica e formação de chorume, representando uma ameaça ao meio ambiente, poluindo o solo, atingindo águas subterrâneas e rios (GUIMARÃES et al., 2023).

O Brasil encontra-se na lista dos 10 países que mais desperdiçam alimentos no mundo, e esse desperdício não é um problema só no Brasil, é um problema mundial e muitos desses alimentos poderiam ser reaproveitados na alimentação humana ou animal. Os números mostram que desperdício desses alimentos chega a cerca de 35% de perda. Mesmo assim, diante de números alarmantes, milhões de pessoas morrem anualmente de fome. Quando falamos em desperdício de alimentos não falamos apenas em comida, mas trata-se de um fator muito mais importante que engloba questões morais, políticas, econômicas e sociais (NONINO-BORGES et al., 2006).

Este estudo teve como finalidade conhecer os frutos, rendimentos, propriedades nutricionais e bioativas de coprodutos vegetais e as formas de aproveitamento destes na alimentação humana.

REVISÃO DA LITERATURA

O Brasil é um país com uma variedade de espécies de frutas nativas e exóticas, com potencialidade para o consumo in natura e processamento industrial; isso é dado devido a localização geográfica e clima tropical com plantações nativas, exóticas, tropicais ou regionais. Entretanto, algumas espécies são pouco conhecidas e exploradas, gerando um baixo consumo, sendo produzidas por sua maioria nos biomas da Floresta Amazônica, Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga (VIRGOLIN, 2015).

As frutas apresentam características sensoriais únicas e altos teores de açúcares, carotenoides, compostos fenólicos, polissacarídeos, ácidos orgânicos, pectina, lipídios e ácidos graxos, e baixos valores de vitaminas e minerais, esses compostos exercerem papel essencial no organismo além da nutrição básica (DANTAS, 2018; GALANAKIS, 2019).

No Brasil, a fruticultura é um dos principais segmentos que geram alto volume de resíduos (CAVALCANTI et al., 2011); dentre os resíduos agroindustriais gerados em grandes quantidades pode-se mencionar: resíduos do processamento de arroz (cascas, palhas e farelo), resíduos da limpeza de grãos em unidades de beneficiamento, bagaço de cana-de-açúcar, resíduos da indústria de processamento de frutas e hortaliças (cascas, bagaços e caroços) e resíduos provenientes da produção animal (CARNEIRO, 2012).

Após o processamento, frutas e vegetais geram subprodutos, os quais muitas vezes, não possuem destino específico, tornando-os contaminantes ambientais e gerando custos operacionais às empresas, uma vez que necessitam de tratamento para o descarte (INFANTE et al., 2013). Com a modernização da agricultura, e ampliação da produção de alimentos, os sistemas agrícolas ficaram mais intensos e, como consequência, a quantidade de resíduos/subprodutos agroindustriais aumentaram (SCHNEIDER et al., 2011).

Uma alternativa para redução dos volumes de coprodutos gerados é o uso de cascas e resíduos das frutas como matéria-prima de novos produtos, além dos benefícios econômicos, demonstra diminuição nos impactos ambientais e custos às empresas produtoras (LOUSADA JÚNIOR et al., 2005).

A casca, coproduto principal de alguns frutos, representa de 20% (manga) a 50% (jabuticaba) do peso total da fruta (KIM et al., 2012). Estas cascas descartadas contêm fibras solúveis e insolúveis, proteínas, lipídeos, além de diversos compostos com capacidade antioxidante, como polifenóis, carotenoides, flavonoides, antocianinas, vitaminas e enzimas (COCK et al., 2016).

QUADRO 1 – Rendimento de polpa, casca e semente de frutas.

Fruto Rendimento (%) Imagem do Fruto
Polpa Casca Semente
Jambo vermelho1 75,69 6,56 17,75
Açaí2 26,4 73,6
Mangaba2 75,5 11,0 13,4
Pitanga2 75,3 4,3 20,4
Murici3 81,4 18,36
Banana4 59,1 40,9
Maracujá5 39,52 50,96 9,52
Cagaita6 75,6 24,4
Pequi7 46,93 41,80 11,81

1Augusta et al., (2010); 2Carvalho, (2005); 3Araújo et al., (2009); 4da Silva et al., (2023); 5Silva et al., (2020); 6Roesler et al., (2007); 7Nascimento & Cocozza, (2015).

QUADRO 2 – Propriedades nutricionais e bioativas de coprodutos vegetais.

Fruto

Parte

Propriedades/Benefícios
Banana1

Casca

Rica em antioxidantes, potássio e fibras alimentares
Maracujá2

Casca

Rica em fibras alimentares, fibras solúveis, vitaminas e minerais

Semente

Ácidos graxos essenciais, ácidos graxos insaturados, alto teor proteico e de fibras
Bacuri3

Óleo da polpa

Ácido oleico

Semente

Extração do óleo
Araticum (Annona crassiflora Mart.)4

Polpa

Ferro e provitamina A

Semente

Alto teor de óleo
Bocaiuva (Acrocomia aculeata)4

Polpa

Carboidratos digeríveis, fibras alimentares, lipídeos, proteínas, minerais e valor energético

Amêndoa

Lipídios, proteínas e fibras alimentares e minerais
Cagaita (Eugenia dysenterica)4

Fruto

Fibras alimentares, vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais
Mama-cadela (Brosimum gaudichaudii Tréc)4

Polpa

Compostos bioativos
Pequi (Caryocar brasiliense)4

Polpa

Lipídeos e fibras alimentares

Amêndoa

Ácidos graxos poli-insaturados e ácidos graxos essenciais e compostos bioativos.

¹Ferreira et al., (2021); ²Guimarães et al., (2023); ³Vasconcelos et al., (2022); 4Reis & Schmiele, (2019).

FORMAS DE APROVEITAMENTO DE COPRODUTOS DE FRUTAS

As frutas em geral, produzem considerável quantidade de compostos químicos como, fibras alimentares, açúcares, minerais e vitaminas. Estes coprodutos são gerados através das cascas, sementes e amêndoas, que normalmente são desperdiçados para o consumo. Por possuírem quantidades apreciáveis de constituintes importantes para a alimentação humana, estes coprodutos de alto valor agregado, melhoram o perfil nutricional e possuem baixo custo, atributos que os tornam promissores para uso nos produtos alimentícios, principalmente em produtos de panificação (CUNHA et al., 2020).

O Araticum (Annona crassiflora Mart.) possui teor consideravelmente alto de óleo, o que admite extração em prensa contínua ou por batelada, rico em fibras alimentares, carotenoides, ácido ascórbico, vitaminas A e vitaminas E (REIS & SCHMIELE, 2019). Sua polpa, casca e sementes foram utilizados também para elaboração de pães de forma (NEVES, 2020).

A polpa do Bacuri é utilizada para desenvolver picolés, sorvetes, licores, bebidas lácteas, cervejas e cachaças (PRADO et al., 2018).

Neto et al. (2018), produziram geleia tipo mariola utilizando pó da casca de banana. É utilizado também no preparo de iogurte (Guimarães et al., 2023). Pode ser feito também doces, banana-passa, flocos e farinha (ANUÁRIO BRASILEIRO DE HORTI&FRUTI, 2021).

A Bocaiuva (Acrocomia aculeata), a polpa e a amêndoa in natura são utilizadas em produtos culinários como sorvetes, bolos, paçoca doce e cocada, podendo enriquecer dietas como fonte suplementar de nutrientes essenciais (RAMOS et al., 2008).

Já o fruto da Cagaita (Eugenia dysenterica), possui teor significativo de fibras alimentares, vitaminas, minerais, baixo valor energético e quantidades consideráveis de ácidos graxos essenciais (REIS & SCHMIELE, 2019). Podendo ser utilizadas no preparo de sucos, drinks, sorvetes, geleias e compotas (SANTOS, 2015).

A farinha da casca do maracujá possui elevado teor de carboidratos e de fibras, podendo ser utilizado para produção de biscoitos e bolos (GUIMARÃES et al., 2023). Seus resíduos possuem alto valor suplementar aos alimentos, podendo ser usados para fabricação de doces e geleias (SILVA, 2021).

Os frutos da mama-cadela (Brosimum gaudichaudii Tréc) possui quantidades consideráveis de compostos bioativos, como o ácido ascórbico e compostos fenólicos, além de elevados teores de carotenoides, apresentando características antioxidantes (REIS & SCHMIELE, 2019). A fruta é consumida in natura e também utilizada em sucos, sorvetes, doces, geleias, recheios de pães e bolos (Raupp, 2022).

A casca do pequi tem se mostrado promissora no preparo de farinha devido às propriedades tecnológicas favoráveis, como índice de absorção de água, solubilidade em água e volume de intumescimento (LEÃO et al., 2017). Suas amêndoas foram usadas para criar um óleo rico em propriedades anti-inflamatórias, cicatrizante e protetor gástrico (GUIMARÃES et al., 2023).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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