Os galos possuem grande responsabilidade na entrega do produto final de uma granja reprodutora, que são os ovos incubáveis. Não raro vemos o produtor ter um cuidado especial com as fêmeas e negligenciar a condução dos machos. Pós transferência, cada galo é responsável pela fecundação de ao menos oito fêmeas. Com o passar das semanas e o amadurecimento sexual dos galos, ocorre o aumento da dominância e esta relação passa a ser de um galo para 12 fêmeas em médias gerais.
Para garantir o sucesso do sistema produtor de ovos férteis, alguns pontos na condução do macho reprodutor são essenciais e serão abordados a seguir.
A vida do macho reprodutor se inicia ainda na fase de recria, etapa destinada à formação dos futuros reprodutores. Nesta fase é fundamental que o macho atinja o peso standard (peso padrão da linhagem) na quarta semana de vida, uma vez que o peso aos 28 dias está diretamente ligado ao tamanho da ave e galos que não atingem o peso esperado em 28 dias tendem a ser galos pequenos, com menor comprimento de canela, dificultado mecanicamente a cópula.
Outro ponto importante ainda na fase de recria são as eliminações de galos na seleção de quatro semanas. Galos que que apresentarem peso corporal 20% abaixo da média do lote deverão ser descartados da reprodução, uma vez que estes galos tendem a ter um desenvolvimento testicular prejudicado e não serão bons reprodutores.
O maior desafio na condução de um lote de reprodutores é manter a uniformidade. Lotes desuniformes levam ao aparecimento dos extremos no plantel. De um lado galos pesados e mais dominantes que consomem um volume exagerado de ração e do outro lado aves dominadas, que não conseguem acesso à ração.
Para atenuar este problema, o plantel deve ser selecionado periodicamente. Já na fase de reprodução os galos devem ser selecionados nas semanas, 24, 28, 32 e 36. O objetivo é ter galos com o mesmo score de peito acasalados juntos. Galos uniformes disputam em igualdade por comida e espaço, o que reduz a possibilidade de surgir galos “estourados” ou galos refugos.
Com relação aos pesos dos machos, após a transferência dos galos é fundamental que não haja redução do peso corporal. É preciso deixar claro que a reprodução vem em segundo plano na vida do animal. Quando este começa a perder peso a primeira coisa sacrificada é a reprodução. Logo, o galo precisa ter um ganho contínuo de peso.
É preciso salientar que o ganho contínuo de peso não significa engordar o plantel. Galos com sobrepeso enfrentam dificuldades mecânicas para realização da cópula, como por exemplo o fato de que o galo gordo não consegue realizar o “beijo cloacal”, momento em que o galo encosta sua cloaca na cloaca da fêmea e faz a ejaculação. Uma média interessante de ganho de peso é de aproximadamente 60 gramas por semana.
Para atingir um ganho contínuo de peso é fundamental o arraçoamento correto. O uso de grades que restringem o acesso dos galos à ração das fêmeas ao longo do lote, e uso de mangueiras nas grades pós transferência, são alternativas viáveis para evitar o aumento de peso dos galos.
Ainda sobre arraçoamento de machos, um espaçamento de comedouro entre 20 e 25 cm por macho é suficiente. Grandes espaços de comedouro levam ao consumo excessivo de ração e, consequentemente, sobrepeso.
Caso a regulagem da altura do comedouro dos machos esteja mais baixa que o ideal, as fêmeas terão acesso à ração dos machos, reduzindo a ingestão diária prevista. Em lotes desuniformes os galos maiores tendem a consumir a ração dos galos menores, o que levará a eliminação de ambos, uns por sobrepeso outros por refugagem.
Quando se trata de reprodução, a cama (substrato que recobre o piso e tem por finalidade absorver a umidade gerada pelas fezes) é fator determinante na qualidade dos machos. Cama úmida e compactada causa lesão no coxim dos galos, conhecido como calo de pata. Estas lesões causam dor ao macho, que evita atividades físicas como a cópula.
Camas constituídas de eucalipto ou pinus apresentam boa capacidade de absorção de umidade. A quantidade de cama é tão importante quanto a qualidade. Geralmente uma cama na faixa de 10 cm é suficiente para promover boa absorção da umidade.
A regulagem dos equipamentos, como bebedouros e nebulizadores são imprescindíveis quando se fala em qualidade da cama. Caso algum ponto da cama umedeça é necessário revirar a cama, favorecendo a aeração, ajudando no processo de secagem. Torrões devem ser rastelados e descartados na composteira.
Além dos pontos citados anteriormente, é importante o produtor ter claro quais as características fenotípicas que determinam um galo que está se reproduzindo de um galo que está apenas ocupando espaço nos galpões. Um ponto de máxima atenção é o sincronismo sexual entre galos e galinhas. Caso os galos estejam sexualmente adiantados em relação às fêmeas, estes serão muito agressivos, o que fará com que as fêmeas se abriguem dentro dos ninhos para fugirem dos galos, impossibilitando a cópula.
O primeiro ponto a ser observado num reprodutor é a crista. Com o galo ainda no piso já é possível visualizar a crista. Uma crista grande e vermelha (Figura 1) é um indicativo de que o galo está copulando. Ao pegar o galo na mão deve-se atentar à cloaca e ao score de peito. A cloaca deve apresentar coloração avermelhada e umidade, indicativos de que está havendo cópula.
FIGURA 1 – Galo com crista e barbela grande e avermelhada. / Fonte: Acervo pessoal, (2023).
Na Figura 1 é possível observar a conformação da crista e barbela, mostrando o tamanho e coloração. Além disso, nota-se presença de sangue nas penas, o que indica que este galo está disputando território, o que é esperado em reprodutores ativos.
Ainda sobre características fenotípicas, um reprodutor disputa espaço com os demais galos, então é aceitável que os machos tenham cicatrizes na crista. A ação mecânica da cópula por sua vez leva a uma perda de penas e vermelhidão na região peitoral e cloacal do macho. As canelas do galo também apresentam coloração avermelhada devido ao atrito entre os corpos.
À esquerda observa-se as canelas de um galo apresentando vermelhidão e à direita uma cloaca vermelha, sem pena e com bom tamanho (Figura 2).
FIGURA 2 – Canela e cloaca avermelhada do macho. / Fonte: Acervo pessoal, (2023).
Um fator com forte correlação de alta fertilidade é o score de peito que deve ser avaliado e classificado. Geralmente é classificado entre 1 e 5. Para que se tenha acurácia nessa classificação é fundamental que o classificador seja treinado por um técnico capacitado e que a avaliação seja executada sempre pelo mesmo funcionário, uma vez que a avaliação é um tanto quanto subjetiva e cada pessoa poderá ter um entendimento. Na Figura 3 tem-se a descrição detalhada da classificação do peito do macho.
FIGURA 3 – Score de peito. / Fonte: Cobb Vantress, (2022).
Após feita a seleção e uniformização do lote, deve-se manter esta uniformidade através do controle rigoroso de gramas/ave/dia (GAD), que são as gramas que cada animal irá consumir durante o arraçoamento. Caso o produtor perceba desuniformização no lote, deverá fazer a “catação” dos galos durante o dia a dia. Ao deslocar pelo aviário e ver galos com conformação diferente dos demais, este deverá ser enviado para um box com machos similares. Isto evita perdas de machos por excesso de peso ou por refugagem.
Uma estratégia interessante na condução dos galos é ter um “galeiro” (Figura 4), que é um espaço cercado onde serão mantidos alguns galos que foram retirados do plantel para recuperação. Os galos entram no momento que começarem a perder conformação de peito e assim que se recuperarem deverão ser devolvidos ao plantel para acasalarem novamente.
FIGURA 4 – Galeiro. / Fonte: Acervo pessoal, (2023).
Portanto, é indispensável um manejo responsável na condução dos machos reprodutores, dada a sua importância na fecundação dos ovos e no potencial de transmissão genética à prole.
Referências
Cobb- Vantress. Matrizes Cobb – Guia de Manejo. 2022. Disponível em <https://www.cobb-vantress.com/assets/Cobb-Files/4732304d90/Cobb_Portuguese-Breeder-Guide.pdf>. Acesso em: 20 de jun. de 2023.