Gestão de Mudanças e Food Safety: elementos nas indústrias de embalagens e utensílios para alimentos

  • Luciana Salles

    • A Strawplast foi certificada na ABNT NBR ISO 9001 em 2006. Na época, a busca pela implementação do Sistema de Gestão da Qualidade foi motivada pela exigência de grandes clientes e pela necessidade de padronização dos processos da empresa. Quem conta um pouco sobre a história da Strawplast para o Portal e-food é a Vaneide Salvalagio Borghezan, responsável pelo Sistema de Gestão Integrada da empresa desde 2012.

    Vaneide começa trazendo uma observação muito interessante: a certificação na ABNT NBR ISO 9001 do Sistema de Gestão da Qualidade para o fabricante de embalagens e utensílios descartáveis para alimentos não é suficiente nos dias atuais. Os clientes querem algo específico, demonstrando sua preocupação crescente com a Segurança dos Alimentos e das embalagens que são utilizadas. Por isso, a implementação de Sistemas de Gestão baseados em normas reconhecidas pelo GFSI deixou de ser uma demanda somente para fornecedores de ingredientes e passou a contemplar os fornecedores de embalagens (Cantanhede, 2018).

    Vale comentar que, diante do cenário da pandemia da COVID-19, os consumidores e clientes ampliaram sua atenção para embalagens e utensílios descartáveis, justificada pela maior demanda de entrega de alimentos em casa (delivery) e por estarem mais exigentes quanto à confiabilidade do material (qualidade, higiene e segurança). Apesar de não existirem evidências sobre a contaminação de pessoas com COVID-19 através da ingestão de alimentos (CDC, 2020), a população intensificou os cuidados com a higiene e o manuseio de produtos e suas embalagens.

    O desenvolvimento do plano APPCC está sendo uma experiência importante na empresa, segundo Vaneide. Tudo começou como uma exigência de um grande cliente, que acelerou a implementação do APPCC em algumas linhas, e que acabou demonstrando a importância da ampliação do plano para as demais produções. Ela comenta que foi necessário alinhar expectativas com a alta gestão, sinalizar os fatores de sucesso e, principalmente, deixar claro que o resultado somente seria alcançado com a colaboração de todas as áreas, líderes e funções. E quando questionada sobre os desafios dessa colaboração, ela enfatiza que o importante é que as pessoas compreendam os motivos das mudanças. Se os times operacionais entenderem a relevância da Segurança dos Alimentos na continuidade dos negócios da empresa, eles terão menos resistência na adoção das práticas e procedimentos (GFSI, 2018).

    Na verdade, o plano APPCC nasce da colaboração. Para desenhar fluxogramas, analisar perigos e definir medidas de controle, uma equipe multidisciplinar com conhecimento dos processos deve entrar em ação (FAO, 1969). Vaneide comenta que representantes das áreas de manutenção, expedição, SAC, recursos humanos, SESMT e produção mapearam insumos e etapas, com o apoio da consultoria Aplicare, representada pela especialista Fabiana Silveira.

    Quando as empresas decidem pela implementação de um sistema de gestão, normalmente a conversa inicia sobre a decisão entre formar um especialista internamente ou contratar uma consultoria especializada. As duas opções trazem benefícios e podem ser encaradas como adequadas, dependendo das necessidades da empresa. No caso da Strawplast, a decisão foi pela contratação de consultoria, devido ao curto prazo para implementação das iniciativas exigidas pelo cliente na época. Além disso, Vaneide comenta que a consultoria tem auxiliado os profissionais envolvidos na condução das atividades, trazendo diferentes ideias e possibilidades de atender a um requisito, escolhendo a mais eficaz para cada situação.

    Fabiana Silveira destaca que o consultor de Segurança de Alimentos, ao ser contratado para um serviço de implementação como esse da Strawplast, precisa inicialmente perceber os elementos presentes na cultura da empresa do cliente. Esta percepção o ajudará a compreender a forma de comunicação instituída na empresa, direcionando a escolha de modelos e rotinas, que se adaptem melhor ao dia-a-dia da organização e das pessoas que a compõem. O GFSI (2018) cita em seu artigo sobre Cultura de Segurança de Alimentos, na dimensão Pessoas: “As pessoas são o componente crítico de toda Cultura de Segurança de Alimentos.” Fabiana complementa compartilhando que busca desenvolvimento pessoal contínuo sobre relacionamento interpessoal, além do aprimoramento técnico, o que tem a ajudado muito na condução dos seus serviços.

    Mesmo antes da decisão da Strawplast em implementar o APPCC, boas práticas de fabricação já eram adotadas, além de procedimentos relevantes para a qualidade dos produtos finais. Fabiana Silveira comenta que a alta direção da empresa historicamente demonstra uma forte preocupação com organização e limpeza, o que ajudou muito na implementação do APPCC. Elementos como valorização dos funcionários e capacitação contínua também fazem parte das prioridades da empresa e que facilitaram o projeto.

    Visto que a empresa tem a inovação como um valor, o Portal e-food perguntou para Vaneide sobre como é assegurada a segurança das embalagens e utensílios descartáveis desenvolvidos pela Strawplast. Ela relatou que qualquer alteração em insumos e produtos é validada por um responsável da área da Qualidade, que verifica as exigências legais, as análises e relatórios técnicos necessários, recomendando o que pode ou não ser implementado. Mudanças de fornecedores de insumos também passam por esse fluxo de aprovação, assegurando a gestão de mudanças e prevenindo problemas nos processos e produtos.

    Este caso destaca elementos que parecem simples e triviais, mas que fazem toda a diferença na condução de projetos referentes à Qualidade e Segurança de Alimentos. Essa diferença surge no “como” as coisas são conduzidas, comunicadas e reforçadas diariamente. Estamos falando de:

    Por fim, Vaneide compartilha uma dica que os profissionais da área de Segurança de Alimentos sempre devem estar atentos: “Desenvolvemos procedimentos operacionais simples e claros, com a participação dos profissionais responsáveis pelas atividades, de forma que eles compreendam o que deve ser feito e, principalmente, que utilizem o procedimento no seu dia-a-dia. Caso contrário, o procedimento somente será lembrado quando estivermos perto da auditoria.”

     

    Referências:

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