“Café fake”: Mapa inspeciona produtos para apurar irregularidades

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) inspecionou três marcas suspeitas de comercializar “café fake” nos supermercados do Brasil. Trata-se de um produto vendido como “pó sabor café”, significativamente mais barato que o café verdadeiro. Para se ter uma ideia, em janeiro, um pacote de 500g custava R$ 14, enquanto o café tradicional era o dobro do valor.

A investigação foi comentada por Hugo Mota, Diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Ministério da Agricultura (Dipov/Mapa), durante um seminário organizado pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), em 19 de fevereiro. Das três marcas analisadas, duas já tiveram os laudos preliminares confirmando a presença de cascas e impurezas que podem conter toxinas e representar riscos à saúde. Entretanto, uma análise aprofundada das amostras ainda está em andamento.

“Na lista de ingredientes dizia haver polpa de café, quando, na verdade, se tratava de casca de café. O que precisamos ver é se essa casca é segura ou não para o consumo. O café a gente sabe que é, agora, a casca dele ainda não sabemos. É importante lembrar que a mercadoria com elementos estranhos pode conter ocratoxina, um composto tóxico prejudicial à saúde. Não podemos dizer o que vai resultar disso, pois precisamos fazer as análises para saber se o produto está infringindo as normas ou não”, explicou.

Celírio Inácio, Diretor Executivo da Abic, destacou que já foram identificados pontos de venda da mercadoria em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. “Não são tantos casos, mas quando um supermercado oferece esse produto, outros se sentem no direito de também oferecer. Seguiremos cumprindo com dedicação o nosso papel institucional de oferecermos café puro e de qualidade para a população, atuando de forma incansável em todos os temas que impactam a indústria”, disse.

Uma das queixas foi protocolada pela Abic, que alerta para o aumento de casos de cafés impróprios e bebidas que imitam rótulos e embalagens de café, mas não contêm o produto de verdade.

O que pode ser considerado “café fake”?

Qualquer produto comercializado como café, mas que, em sua composição, contenha resíduos da lavoura, como paus, palhas e cascas, além de outros vegetais, como cevada e milho, pode ser considerado um café fake. O café autêntico é produzido exclusivamente a partir do grão, ou seja, do endosperma do fruto do cafeeiro.

“A forma como esses produtos são comercializados já demonstra a intenção de enganar o consumidor. As embalagens são visualmente semelhantes às de café e estão posicionadas nas prateleiras ao lado dos cafés tradicionais, mas trata-se de uma fraude”, alerta a Abic.

O que diz a legislação?

A Abic esclarece que há uma legislação federal sobre o tema. “Não existe café de cevada ou café de milho, por exemplo. Produtos torrados e moídos vendidos sob o argumento de conter polpa de café são considerados fraudulentos, conforme a Resolução RDC nº 716, de 1º de julho de 2022. No Capítulo I, item II, a norma estabelece que o café torrado é exclusivamente o ‘endosperma (grão) beneficiado do fruto maduro de espécies do gênero Coffea, como Coffea arabica L., Coffea liberica Hiern e Coffea canephora Pierre (Coffea robusta Linden), submetido a tratamento térmico até atingir o ponto de torra escolhido, em grãos ou moído, podendo apresentar resquícios do endosperma (película invaginada intrínseca)’”, explica a associação.

Além disso, a Portaria SDA nº 570 do Ministério da Agricultura, que define o padrão oficial de classificação do café torrado, determina em seu artigo 43 que é proibido utilizar a designação “café” para produtos, sucedâneos ou compostos embalados que contenham outros gêneros vegetais ou que não tenham grãos de café como ingrediente exclusivo.

Entenda o aumento no preço do café

De acordo com especialistas, diversos fatores contribuíram para a alta do preço do café nos últimos anos. Desde 2020, a produção tem sido impactada por eventos climáticos adversos, como geadas, seca intensa e chuvas excessivas em períodos inadequados. Essas condições afetaram a oferta do produto.

Além disso, a demanda global pelo café continua elevada, e questões geopolíticas também influenciam o mercado. Como o café é uma commodity negociada em bolsas internacionais, a lógica de oferta e demanda impacta diretamente seu preço. O aumento no custo da matéria-prima pressiona a indústria, que repassa esse reajuste ao varejo, refletindo no valor pago pelo consumidor.

 

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