O resultado de uma pesquisa britânica trouxe uma nova visão sobre os microplásticos (MPs) na vida marinha. O estudo realizado pela Universidade de Portsmouth, na Inglaterra, sugeriu que o acúmulo de MPs nos alimentos não tem a preocupação necessária e expôs a problemática da ingestão dessas partículas por parte das ostras. A princípio, a comunidade de cientistas usava microplásticos limpos, que não refletem os microplásticos ambientais que são rapidamente colonizados por comunidades microbianas (plastisfério) em ecossistemas marinhos.
Pesquisadores passaram, então, a levar em consideração que a produção de plástico aumentou dramaticamente ao longo das décadas, de aproximadamente 2 milhões de toneladas de plástico produzido anualmente na década de 1950, para 350 milhões de toneladas em 2017.
Neste estudo, a absorção e bioacumulação de microplásticos limpos e revestidos com Escherichia coli, por ostras nativas europeias (Ostrea edulis) foram comparadas, e as respostas fisiológicas de ostras à exposição foram investigadas. A ingestão de microplásticos revestidos de E. coli foi dez vezes maior do que a captação de microplásticos limpos. Os cientistas envolvidos na pesquisa disseram que os MPs que escondiam o biofilme se parecem mais como alimento para as ostras, o que explica a preferência.
Por isso, os microplásticos foram intitulados pela pesquisadora principal, Dra. Joanne Preston, como o “Cavalo de Tróia do mundo marinho”. Apesar do experimento ser realizado em ostras em condições de laboratório, os pesquisadores acreditam que resultados semelhantes podem ser encontrados em outras espécies marinhas comestíveis que também filtram a água do mar para alimentação.
“Isso sugere que a absorção de microplásticos ambientais na teia trófica marinha por filtros alimentadores bentônicos pode ser maior do que se pensava anteriormente. O consumo de oxigênio e a taxa respiratória de ostras expostas a E. coli microplásticos revestidos aumentaram significativamente ao longo do tempo, enquanto os microplásticos virgens não produziram nenhuma resposta fisiológica significativa mensurável”, revelou parte do estudo publicado.
Embora os microplásticos não se bioacumulem nos tecidos da ostra em curto prazo, os microrganismos assimilados pela ingestão de microplásticos revestidos podem ser transferidos para níveis tróficos mais elevados. Isso representa um risco, não apenas para a vida marinha, mas também para a segurança de alimentos e a saúde humana, podendo ser vetores de doenças. Isso acontece porque o plástico não se decompõe no animal marinho e é consumido posteriormente pelos humanos.
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