A constante preocupação com a saúde tem sido divulgada pela mídia, sempre alertando sobre a importância de prevenir e tratar doenças crônicas, mas sucessivamente enfatizando o padrão de beleza do corpo. A obesidade é um problema de saúde pública atual, pois é acompanhada pelo aparecimento de diversas outras doenças devido ao excesso de peso, além do aumento de mortes prematuras ou da incapacidade do indivíduo de realizar suas atividades diárias (BRASIL, 2017). A correria dos tempos atuais levou a população mundial a obter hábitos alimentares incorretos, aumentando o consumo de alimentos processados, com elevado teor de calorias, juntamente com o sedentarismo, e que teve como consequência o aumento de indivíduos obesos (RODRIGUES; SCHMIDT; NAVARRO, 2008).
A obesidade já é considerada uma epidemia mundial, não sendo um problema só em países desenvolvidos, mas chega a atingir também os subdesenvolvidos (BLÜHER 2019). Portanto, adotar uma dieta com redução de calorias, consumindo alimentos mais saudáveis é uma alternativa para conseguir reduzir o peso corporal, e o pescado é uma ótima alternativa. Embora a pesca já seja uma atividade econômica no Brasil desde 1948, o consumo de peixes pela população brasileira ainda precisa crescer muito em todas as regiões do país como importante fonte de proteína na rotina alimentar. Quando questionado sobre o tema proteína animal, o pescado fica excluído das estatísticas e análises. Apesar das principais empresas brasileiras de proteínas de origem animal não demonstrarem interesse por pescado, essa é a proteína de maior produção e consumo mundial (SIDONIO et al. 2012).
As proteínas são fundamentais para a construção e reparação dos órgãos e tecidos do corpo. No Brasil, a ingestão de carne bovina foi de 29,3kg/hab/ano em 2018, sendo 5% abaixo do consumo do ano anterior; o consumo desta carne que já vinha diminuindo e atingiu o menor patamar de consumo dos últimos 25 anos. Especialistas acreditam que essa queda está relacionada à alta no preço da carne bovina e ao aumento do desemprego ocasionado pela crise sanitária da COVID-19 (SCHNEIDER et al. 2020). A alteração nos hábitos alimentares e no estilo de vida da população, decorrida especialmente a partir do século XX, fez com que o aumento de doenças cardiovasculares ganhasse maior evidência, visto que é a principal causa de mortalidade nas sociedades desenvolvidas. A culpa, no entanto, vem pelo fato da alta ingestão de gorduras de origem animal, já que estas aumentam os níveis de colesterol presentes no sangue (DIEHL, 2011). Os peixes, assim como o leite e seus derivados, são excelentes para substituir as carnes vermelhas. Tanto os peixes de água doce como os de mar são benéficos à saúde. O ideal é utilizar o pescado com diversas formas de preparo – assado, grelhado, ensopado ou cozido, incluindo na dieta diária. No Brasil, apesar do potencial aquícola, o consumo de pescado no ano passado ficou em torno de 10 kg por pessoa, muito abaixo dos 20 kg/pessoa/ano indicado pela FAO como a quantidade ideal (FAO, 2020). O baixo consumo de pescado pode ser influenciado por vários fatores, como por exemplo, o elevado preço em comparação com outras proteínas. A indústria precisa buscar alternativas para reduzir o custo do pescado para poder obter o aumento do consumo (MENDONÇA et al. 2017). O baixo consumo também pode estar associado à presença de crenças que só o pescado de rio tem o sabor agradável, já os criados em cativeiros não, e isso vem da presença de tabus alimentares (COSTA et al. 2013). A carne de peixe possui alto valor nutritivo, fácil digestão e sua gordura é classificada como insaturada, não alterando os níveis de gordura saturada no organismo, considerada prejudicial à saúde, principalmente de pessoas que possuem predisposição às doenças cardiovasculares. A carne de Pintado tem alta porcentagem de proteína e poucos lipídios, o que a torna uma ótima alternativa de consumo em uma dieta de baixa caloria (Tabela 1). Os surubins e pintados são considerados como peixes nobres e possuem muitas vantagens para a piscicultura: com uma carne branca de sabor suave e sem espinhas em “Y”, baixo teor de gordura, grande potencial gastronômico e rendimento de filé de 48,26%, o que os torna uma ótima escolha para o consumo. (RÔXO et al., 2018).
No Brasil o Pintado é uns dos peixes mais valiosos de água doce, distribuído principalmente na região Sul, Centro-Oeste e Sudeste. A espécie pode ser cultivada tanto como peixe ornamental como alimentar e é uma espécie importante para a região do Pantanal Sul-Mato-Grossense (LIRANÇO et al., 2008).
TABELA 1 – Valores nutricionais da carne do Pintado (Pseudoplastytoma spp).
Autor | Valor calórico (kcal/100g) | Carboidratos (%) | Proteínas (%) | Cinzas (%) |
Lipídeos (%) |
Alves et al., (2014) |
– | – | 17,20 | 1,65 |
3,20 |
Lanzarin, (2015) | 101,63 | 2,96 | 20,49 | 0,99 |
0,86 |
Frascá-scorvo et al., (2017) |
– | – | 19,29 | 1,56 |
– |
Brito; Silva; Diemer (2020) | – | – | 10,18 | 2,56 |
1,51 |
A composição química da carne do Pintado depende de fatores bióticos e abióticos, pertinentes à espécie e ao cultivo do peixe, e esses atributos irão influenciar na vida de prateleira do peixe e seus derivados. A ração do Pintado é algo que necessita de uma grande atenção, pois quando possui uma formulação adequada, os animais obtêm maior eficácia dos nutrientes, tornando assim a carne do peixe mais palatável ao consumo humano (BURKERT et al., 2008).
O Pintado é uma ótima alternativa para uma dieta hipocalórica, é encontrado principalmente na região Centro-Oeste do país e oferece gorduras monoinsaturadas, que são boas para o coração. A preocupação com uma alimentação mais saudável, com baixo teor de gordura, sem colesterol e sem aditivos químicos tem contribuído para o aumento da demanda pelas chamadas carnes brancas, que incluem os peixes (SILVA et al., 2012). Acredita-se que o consumo de peixe combata o estresse e a depressão e promova uma melhor concentração e memória. Por outro lado, pode proteger melhor contra processos vasculares inflamatórios e distúrbios psiquiátricos, como a doença de Alzheimer. Sua composição nutricional auxilia na circulação sanguínea, no funcionamento do cérebro, na saúde dos músculos e até mesmo no combate a doenças. E devido a todo esse pacote de vantagens, a disposição é facilmente aumentada. No mesmo sentido, pode-se destacar sua importância na redução do risco de acidente vascular cerebral (AVC) e na regulação dos níveis de açúcar no sangue e processo antienvelhecimento (KUBITZA, 2014). Para obter esses benefícios, o consumo de peixes deve ser feito com frequência semanal, sendo importante lembrar que não faz mal comer peixes todos os dias.
Pessoas obesas têm grande possibilidade de desenvolver doenças como a diabetes, resistência à insulina, problemas com apneia, cálculo biliar e hipertensão (GIGANTE, MOURA, SARDINHA, 2009). Manter hábitos saudáveis é mais que necessário para que possamos viver livres de várias enfermidades. As vitaminas são compostos orgânicos necessários em quantidades mínimas para promover o crescimento, manter a vida e a capacidade de reprodução. Essas substâncias devem ser ministradas na dieta, em dose adequada. O consumo diário de vitaminas necessárias para garantir o funcionamento adequado do organismo é mencionada como dose diária recomendada. As vitaminas são compostos orgânicos que agem em diversas atividades no organismo (MINEKUS et al., 2014).
O consumo do Pintado é uma excelente maneira de prevenir a osteoporose (fragilidade óssea), pois esse pescado é uma fonte de vitamina D, o que irá proporcionar o aumento da absorção de cálcio no intestino e consequentemente promover a prevenção dos desgastes dos ossos (SATORI et al., 2012). Mas não é só a prevenção de osteoporose que a vitamina D previne, mas também problemas como diabetes, infertilidade, câncer e problemas cardíacos. Essa vitamina está presente especialmente nos peixes gordos, porque a vitamina D encontra-se localizada na gordura dos alimentos, por ser rico em vitamina D, o Pintado é um grande aliado para o combate da insônia e dos problemas do sono, agindo de forma positiva na circulação cerebral e no fortalecimento do sistema cognitivo. Assim, as funções relacionadas à sonolência são restauradas (SOUZA, 2010).
Uma excelente forma de fortalecer os ossos e os dentes é aumentando o consumo de peixe, pois é um alimento rico em cálcio, reduzindo problemas com as cáries (PEREIRA et al., 2009). A carne de pescado é a que mais se condiz quando se trata de produto saudável para alimentação (CAMPOS, 2018). O ideal é comer o produto fresco e optar por métodos ou técnicas de cozimento que não alterem as propriedades nutricionais do peixe, evitando, por exemplo, peixes grelhados ou fritos. Lógico que para evitar problemas de saúde, é preciso manter uma alimentação saudável e ter acompanhamento médico, o que garantirá a qualidade de vida em qualquer idade.
Incluir diversos tipos de peixes na alimentação como o Pintado contribui para o emagrecimento, pois é uma fonte de proteína animal que é rica nutricionalmente. Além disso, fortalece a imunidade e recuperação muscular, auxiliando no ganho de massa magra. Contudo, vale advertir que é preciso a orientação de um nutricionista e a prática de exercícios físicos para a perda de peso adequada. Portanto, uma grande vantagem de consumir o Pintado, em relação às carnes bovina e suína, é a facilidade de preparo – os frescos cozinham em pouquíssimo tempo e podem ser usados em diversas preparações. Então por todos os benefícios, incluir ou aumentar o consumo de Pintado na alimentação é uma alternativa para obter as vantagens que os seus nutrientes essenciais proporcionam.
Referências Bibliográficas
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