O bioma Cerrado é conhecido como savana brasileira e conta com vasta biodiversidade, árvores com troncos grossos e retorcidos, cerca de 50 espécies nativas de diferentes famílias que produzem frutos comestíveis, geralmente consumidos pelos animais que habitam esse ambiente. As espécies desse bioma têm-se destacado por apresentarem potencial nutricional, com valor sensorial e econômico. O Cerrado brasileiro compreende os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, bem como, Maranhão, Tocantins, Pará, Rondônia, Bahia, Piauí e Norte de São Paulo (OLIVEIRA, 2005).
Esse bioma brasileiro apresenta aspectos físicos como topografia, solo, relevo e variedades fisiográficas, ou seja, por esse fator o Cerrado possui diversidade de paisagens e vegetações, necessitando manejo e conservação do meio. A madeira do Baru é muito procurada resultando em um nível elevado de desmatamento dessa fruteira no Cerrado, (Figura 1) o Baru está ameaçado de extinção. Entre os meios de conservação desses recursos há várias ações a serem implementadas entre estas, estão as Áreas de Reservas Legais (ARL), reflorestamento de locais desmatados, implementação de Áreas de Preservação Permanente (APP) reflorestamento com plantas nativas, distribuição de mudas, possibilitando a recuperação da vegetação (SOUZA & NAVES, 2016).
FIGURA 1 – Árvores do Cerrado.
Fonte: Autora, (2021).
O Baru (Dipteryx alata Vog.) (Figura 2), é uma árvore que pertence à família Leguminosae, muito produtiva, nativa do Cerrado com relevante potencial, apresentando alta produtividade, conhecida popularmente como baruí, barujó, baruzeiro, coco-feijão, cumaru, cumbaru e pau cumaru. O baruzeiro é uma árvore que possui altura em média de 15 metros, alcançando 25 metros de altura, apresentando copa larga ou alongada entre 6 e 8 metros de diâmetro e tronco com aspecto cinza claro apresentando aparente casca grossa. O fruto do Baru possui 1,5 a 5 cm de comprimento, formato ovalado, levemente achatado, revestido por uma casca fina, com coloração marrom-claro, mesocarpo fibroso com sabor adocicado e adstringente e o endocarpo lenhoso contendo uma única amêndoa dura e comestível por fruto. O baruzeiro apresenta alta produtividade, frutos com fácil transporte e armazenamento, a amêndoa do Baru é rica em proteína, fibra e minerais essenciais, lipídios, que pode ser incluída como novas fontes de alimento. (FAGUNDES, 2017).
O baruzeiro é uma árvore nativa do bioma Cerrado brasileiro, possui fontes de carboidratos, lipídios, minerais e proteínas, bem como, compostos bioativos, entre eles os carotenoides e polifenóis. As amêndoas geralmente são comercializadas pelas cooperativas, indústrias e organizações comerciais. Os frutos amadurecem em um período que as árvores estão praticamente sem folhas, nos meses de julho a novembro variando de local e ano. A maturação das amêndoas ocorre com o início da queda das folhas e dos frutos. O baru é considerado uma peça muito importante para a sobrevivência de animais residentes na região, pois seu fruto amadurece no tempo de seca, servindo de alimento para a fauna desse ambiente. Com uso sustentável, é possível estar presente na conservação da biodiversidade e contribuindo para a preservação dessa espécie nativa do Cerrado. A exploração é feita por meio do extrativismo, por ser uma matéria-prima natural é preciso manter equilíbrio ou o manejo sustentável da fruteira, pois a oferta de frutos tende a ser inferior a crescente demanda do mercado, então para se ter maior quantidade e qualidade de produção é necessário fazer o cultivo dessa fruteira (SIQUEIRA et al,. 2015).
FIGURA 2 – Árvore Baruzeiro.
Fonte: Autora, (2021).
O baru apresenta grande potencial funcional. Pois trata-se de uma fruta nativa do cerrado, rica em nutrientes com características sensoriais semelhantes ao amendoim. Pode ser utilizado principalmente na elaboração bolos, paçocas, sorvetes e consumido torrado ou in natura. As amêndoas apresentam cerca de 1 a 4 cm de comprimento, com película de coloração brilhante podendo ser avermelhada quase preta ou marrom amarelada, a amêndoa em si é branca-amarelada, rica em proteínas, lipídios, fibras, minerais e compostos funcionais. As amêndoas geralmente são consumidas torradas ou utilizadas como ingrediente em diversas receitas culinárias (SILVA et al., 2020).
FIGURA 3 – Fruto do Baru.
Fonte: Autora, (2021).
Os Compostos bioativos podem ser caracterizados como essenciais ou não, entre eles estão os polifenóis e as vitaminas, são encontrados na natureza com maior facilidade nas plantas, possibilitando sua inserção na alimentação de seres humanos e contribuindo com fontes de nutrientes. Os antioxidantes são os compostos bioativos que podem contribuir na prevenção e redução de algumas doenças entre elas, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer, hipertensão, mal de Alzheimer, obesidade. Podem ser classificados como antioxidantes primários e secundários, atuando diretamente no retardo e impedimento da oxidação (BENTO et al., 2014).
Os flavonoides são compostos fenólicos encontrados em vegetais, são existentes em legumes, verduras, grãos e frutas. Sendo assim, a absorção desses compostos fenólicos é através do intestino, ou seja, por meio de seu consumo alimentar. Existem muitos flavonoides variados, mas as principais classes são os flavonóis, flavanonas, isoflavonas e antocianinas. Os compostos fenólicos possuem benefícios para a saúde dos seres humanos e o fruto do baru apresenta potencial antioxidante, com elevada fonte nutricional, bem como, pode ser utilizada na elaboração de novos produtos alimentícios e farmacêuticos. São identificados como antocianinas, catequinas, chalconas, flavanóis, flavanonas, flavonas, isoflavonas e flavonóis. Exercendo a função de agentes redutores (ALVES, 2013).
Praticamente, o fruto do Baru é aproveitado por inteiro, desde a polpa até as amêndoas, a casca apresenta alta fonte de carboidratos, cinzas, fibras, lipídios e proteínas, podendo ser utilizado para enriquecer alimentos como bolos, sorvetes, iogurtes e pães, possibilitando melhoria na aceitação e qualidade sensorial. A amêndoa do baru pode ser considerada fonte alimentar com alto valor nutricional, apresentando alto teor de calorias, proteínas, lipídios e carboidratos e seu uso alimentício é consideravelmente apropriado para seres humanos (LEMOS et al., 2012).
TABELA 1 – Composição centesimal da amêndoa do Baru
Nas pesquisas realizadas por diferentes autores com a amêndoa de Baru o teor de umidade variou de 2,83% a 6,18, cinzas de 2,70% a 3,11%, carboidratos de 8,11% a 34,04%, lipídios de 37,19% a 39,88% e proteínas de 21,07% a 31,62%.
Finalmente, as análises realizadas pelos autores Czeder, (2009), Lima et al. (2010), Rocha, (2016) e Sanchez, (2014) mostraram que as amêndoas de baru apresentaram elevadas concentrações de carboidratos, lipídios e proteínas, podendo ser considerada fonte alimentar com alto valor nutricional. Seu uso alimentício é consideravelmente apropriado para seres humanos. O óleo da amêndoa do Baru possui cerca de 81,2 % de insaturação, possibilitando a utilização na indústria farmacêutica e alimentícia (TAKEMOTO et al., 2001).
Os consumidores esperam alimentos com propriedades nutricionais. O Baru, além dessas características, faz parte do bioma Cerrado, valoriza os bens naturais locais, contribui com o valor agregado, ganhos para os pequenos produtores e acima de tudo com a preservação de espécies nativas do bioma.
A amêndoa do baru e as formulações alimentares com o fruto, podem ser de suma importância para a saúde humana, contribuindo para o aproveitamento e melhora na carência nutricional. Os resultados das análises realizadas pelos autores mostram que as amêndoas de Baru (Dipteryx alata Vog.) Apresentam elevadas fontes de lipídios, proteínas e calorias, além de fibras alimentares e minerais, sugerindo sua utilização na alimentação humana.
Referências
ALVES, A. Compostos bioativos e capacidade antioxidante de frutas nativas do cerrado. 2013. 65 f. Mestrado (Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos). Universidade Federal de Goiás escola de agronomia e engenharia de alimentos programa de pós-graduação em ciência e tecnologia de alimentos. Goiânia, 2013. Disponível em: <https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/71/o/DISSERTA%C3%87%C3%83O_Aline_Medeiros_Alves_2013.pdf>. Acesso em: 14 mai. 2022.
BENTO A.P.N. COMINETTI, C. SIMÕES F. A. NAVES M.M.V. A amêndoa baru melhora o perfil lipídico em indivíduos levemente hipercolesterolêmicos: um estudo randomizado, controlado e crossover. O Nutr. Metab, metab. Cardiovasc. Dis., 24 (2014), pp. 1330-1336, 10.1016/j.numecd.2014.07.002. Disponível em: Baru (Dipteryx alata Vog.) fruta como opção de castanha e polpa com propriedades nutricionais e funcionais vantajosas: Uma revisão abrangente – ScienceDirect. Acesso em: 10 jan. 2022.
CZEDER, L. P. Composição nutricional e qualidade protéica da amêndoa de baru (Dipteryx alata Vog) de plantas de três regiões do Cerrado do estado de Goiás. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. 2009. Disponível em: https://repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tde/1441/1/Ludmila 7.pdf. Acesso em: 05 jul. 2022.
FAGUNDES, H. Seis mil anos de pão: a importância do pão para a humanidade. Aventuras na História, 2017. Disponível em:<tcc_eso_andreynascimentoarnaut.pdf (ufrpe.br)>. Acesso em: 10 jan. 2022.
FERNANDES, D. C.; FREITAS, J. B.; CZEDER, L. P.; NAVES, M. M. V. Nutritional composition and protein value of the baru (Dipteryx alata Vog.) almond from the Brazilian Savanna. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 90, n. 10, p. 1650-1655, 2010.
FREITAS, J.B.; NAVES, M.M.V. Composição química de nozes e sementes comestíveis e sua relação com a nutrição e saúde. Revista de Nutrição. v 23. p 269, n 2. 2010.
LEMOS, M. R. B.; SIQUEIRA, E. M. D. A.; ARRUDA, S. F.; ZAMBIAZI, R. C. The effect of roasting on the phenolic compounds and antioxidant potential of baru nuts (Dipteryx alata Vog.). Food Research International, v. 48, n. 2, p. 592-597, 2012.
LIMA, J. C. R., SOUZA A. R. M., TAKEUCHI K. P. Caracterização física e química de baru (Dipteryx alata Vog.) da região sul do estado de Goiás. 2010. Disponível em: <http://www.sbpcnet.org.br/livro/63ra/conpeex/mestrado/trabalhos-mestrado/mestrado-jean-carlos.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2022.
OLIVEIRA, R. S., BEZERRA, L., DAVIDSON, E. A., PINTO F., KLINK C. A., NEPSTAD D. C., MOREIRA A. Deep root function in soil water dynamics in cerrado savannas of central Brazil. Functional Ecology, v. 19, n. 4, p. 574-581, 2005.
ROCHA, F. CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA, FÍSICA E TERMOFÍSICA DA AMÊNDOA DO BARU (Dipteryx alata Vog.). 2016, CAMPO MOURÃO, Ministério da Educação Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Campo Mourão Departamento Acadêmico de Alimentos Engenharia de Alimentos. Disponível em: < Repositório Institucional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (RIUT): Caracterização química, física e termofísica da amêndoa do baru (Dipteryx alata Vog.) (utfpr.edu.br) >. Acesso em: 22 jun. 2022.
SANCHEZ R. M. Estudo fitoquímico e Propriedades Biológicas da Dipteryx alata Vogel (baru). Faculdade de engenharia de Ilha Solteira programa de pós-graduação em ciência dos materiais. Ilha Solteira, 2014.
SIQUEIRA, A.P.S. PACHECO M.T.B. NAVES M.M.V. Qualidade nutricional e compostos bioativos de farinha de amêndoa baru parcialmente desfaçada. Food Sci. Technol., 35 (2015), pp. 127-132, 10.1590/1678-457X.6532. Disponível em:< Qualidade nutricional e bioativa. visualização e informações relacionadas | Mendeley>. Acesso em: 11 fev. 2022.
SOUSA A.G.O. FERNANDES D.C. ALVES A.M. FREITAS J.B. NAVES M.M.V. Qualidade nutricional e valor proteico de amêndoas exóticas e castanha da Savana Brasileira em comparação com o amendoim. Food Res. Int., 44 (2011), pp. 2319 2325, 10.1016/j.foodres.2011.02.013. Disponível em:<Qualidade nutricional e valor proteico de amêndoas exóticas e castanha da Savana Brasileira em comparação com o amendoim – ScienceDirect>. Acesso em: 15 mai. 2022.
SILVA P. N. DIAS T. BORGES L.L. SANTOS A.M. A. HORST M. A, SILVA M.R. NAVES M.M.V. Compostos fenólicos totais e capacidade antioxidante de amêndoas baru e subprodutos avaliados em condições de extração otimizadas. Rev. Bras. O Cienc. Agrar., 15 (2020), pp. 1-6, 10.5039/agraria.v15i4a8530.
TAKEMOTO, E.; OKADA, I. A.; GARBELOTTI, M. L.; TAVARES, M.; AUED-PIMENTEL, S. Composição química da semente e do óleo de baru (Dipterix alata Vog.) nativo do Município de Pirenópolis, Estado de Goiás. Revista do Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, v. 60, n. 2, p. 113-117, 2001.
VALLILO, M. Composição da polpa e da semente, do fruto do Cumbaru (Dipteryx alata Vog.) – Caracterização do óleo da semente. Rev. Inst. Flor., São Paulo, 2(2):115-125, 1990.
VERA, R.; SOARES, M. S. J.; NAVES, R. V.; SOUZA, E. R. B.; FERNANDES, E. P.; CALIARI, M.; LEANDRO, W. M. Características químicas de amêndoas de barueiros (Dipteryx alata Vog.) de ocorrência natural no cerrado do estado de Goiás, Brasil. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal – SP, v. 31, n. 1, p. 112-118, Março 2009.