A área de diagnósticos na indústria de alimentos se apoia fortemente na ciência para garantir confiabilidade, promover a conformidade regulatória e assegurar que tudo isso aconteça de forma eficiente e factível. Essa foi a principal mensagem da palestra “Diagnóstico: a ciência conectando a indústria com o regulatório”, ministrada por Lauane Gonçalves, especialista em Microbiologia na Hygiena, durante o Workshop Ciência em Ação.
O evento foi promovido pela Associação Brasileira de Proteção dos Alimentos (Brafp), em parceria com a Hygiena e com o apoio do Portal e-food, em celebração ao Dia Mundial da Segurança dos Alimentos, que tem como tema central a “Ciência em Ação”.
A especialista levou ao público que esteve presente no auditório da Universidade de São Paulo um panorama sobre o processo de criação e desenvolvimento dos métodos alternativos de diagnóstico microbiológico, essenciais para a rotina das indústrias de alimentos. “O ponto principal da minha fala foi trazer uma perspectiva para apresentar como o processo de criação de um método alternativo é feito”, explicou.
Ela reforçou a importância desses métodos para a liberação rápida de produtos, destacando que, embora sua aplicação seja cada vez mais comum, há um grande caminho de pesquisa e validação até que essas soluções cheguem ao mercado. “Tudo que hoje comercialmente é apresentado ao consumidor, especialmente pelas empresas que desenvolvem a tecnologia como a Hygiena, passou por um processo muito grande de desenvolvimento que começou, muitas vezes, há décadas atrás.”
Lauane usou como exemplo a técnica de PCR, que começou a ser desenvolvida nos anos 1980, foi consolidada nos anos 1990 em ambientes acadêmicos, e só anos depois se tornou viável para a indústria. “A gente levou pelo menos 15, 20 anos para que isso fosse comercialmente disponível”, conta a especialista.
Lauane explica ainda que a transição do ambiente acadêmico para o chão de fábrica é um desafio constante. “A tecnologia existe, a ciência é produzida diariamente. Temos desenvolvimento contínuo de novas tecnologias mais rápidas, modernas e sensíveis. Mas esse método precisa sair da universidade e ser traduzido para o cotidiano da indústria. Ou seja, ele [método] precisa se tornar factível para o uso, para a aplicação no cotidiano e apresentar uma robustez que se adequa a diferentes cenários, diferentes culturas, inclusive de mercado e de segurança de alimento.”
Por fim, a especialista da Hygiena ressaltou o compromisso das empresas desenvolvedoras com a qualidade e aplicabilidade. “Os desenvolvedores de tecnologia trabalham tentando preencher lacunas dos órgãos reguladores com as necessidades do mercado, levando em consideração os desafios de desenvolvimento de um produto para entregar a melhor tecnologia, da maneira mais fácil e usável para o consumidor.”
Outras temas abordados no workshop
As demais palestras do Workshop Ciência em Ação reforçaram o papel fundamental da ciência em todas as etapas da cadeia de segurança dos alimentos, da pesquisa à regulação.
Na palestra “Ciência aplicada na segurança dos alimentos”, Caio Carvalho, Microbiologista líder da Cargill para a América Latina, destacou os desafios da indústria em transformar conhecimento científico em prática. Ele explicou que esse processo passa por etapas, desde a produção acadêmica até a literatura técnica (normas, legislações, conferências), ganhando forma nos sistemas de gestão, políticas e cultura organizacional. “O maior desafio é colocar a teoria na prática”, afirmou o especialista durante sua fala.
Já a especialista em Regulação e Vigilância Sanitária da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Carolina Vieira, em sua palestra “A Ciência na regulação de alimentos”, apresentou a atuação do órgão frente a novos desafios, como os impactos das mudanças climáticas, incluindo a escassez de água potável e o aumento do risco de pragas. Ela reforçou ainda que o Codex Alimentarius continua sendo a principal referência científica da agência, e ressaltou: “Não existe avaliação de riscos sem a ciência”.