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Europa expõe preocupação com nível de arsênio no arroz produzido na Ásia e África

Estudo publicado abordou o impacto desta substância no desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes. No Brasil o nível de Arsênio está controlado

O relatório do mês de maio da norma International Featured Standards (IFS), intitulado “Trend Risk Report”, chamou a atenção para os perigos do arsênio (As) no arroz cultivado na Ásia e África, e o impacto que isso causa na Europa. O documento oferece informações sobre a influência deste tóxico na capacidade cognitiva de crianças.

Classificado como cancerígeno pela Agência Internacional para a Pesquisa sobre Câncer, órgão da Organização Mundial da Saúde, o As tem causado polêmica quando o assunto é alimentação há anos.

O arsênio é elemento químico de massa atômica 75, considerado tóxico e amplamente distribuído na biosfera. Ele pode ser encontrado na atmosfera, na água, em solos, sedimentos e organismos. Também é considerado um metaloide ou ametal, já que partilha características físico-químicas tanto de metais quanto de ametais.

O elemento pode se apresentar nas formas orgânica e inorgânica. A presença do arsênio ocorre naturalmente nos solos e no ar, a partir da queima de combustíveis fósseis. Desta forma, vestígios podem ser encontrados em muitos alimentos, mas o arroz é particularmente exposto devido às suas altas necessidades de água durante o crescimento.

De acordo com especialistas, o grão e outros alimentos importados de Bangladesh, país do sul da Ásia, possuem três vezes mais arsênio que os cultivados no próprio Reino Unido, como mostra uma pesquisa realizada na Universidade de Montfort, na Inglaterra, em 2005.

A forma inorgânica do arsênio é altamente tóxica, ou seja, uma exposição prolongada pode levar ao câncer e lesões de pele. Os cientistas também relacionaram o arsênio a um aumento de doenças cardiovasculares e diabetes. O elemento também foi associado a maior mortalidade infantil e desenvolvimento cognitivo prejudicado.

Pesquisa recente

Em maio, cientistas do Indian Consortium on Vulnerability to Externalizing Disorders and Addictions (cVEDA) publicaram um estudo que aprofunda os efeitos do arsênio com resultados alarmantes. Os cientistas examinaram 1.014 crianças e adolescentes na Índia

para exposição ao arsênico e desenvolvimento do cérebro e mostrou que uma maior exposição ao arsênio também leva a habilidades cognitivas mais baixas e síndromes comportamentais.

A pesquisa, então, concluiu que os efeitos do arsênio, especialmente em crianças em crescimento, são ainda mais graves do que se sabe. Diante deste cenário, em março deste ano, a Comissão Europeia decidiu endurecer os limites de As no arroz, sucos, sal e comida para bebês como parte de suas medidas para reduzir o risco de câncer por alimentos.

Os resultados do último estudo do Charité e do cVEDA apoiam esta decisão, mas também sugerem que esses valores ainda são muito altos, principalmente para bebês, crianças, adolescentes e jovens adultos cujos cérebros ainda estão em desenvolvimento. 

“Mesmo que os limites possam ser desafiadores para alimentos produtores e a cadeia de valor por trás deles, as medidas de precaução devem ser levadas a sério pelas empresas diante dos riscos em jogo”, ressaltaram os pesquisadores envolvidos nos estudos.

Arroz produzido no Brasil também oferece riscos?

Um levantamento do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), testou em 2017, 193 amostras de arroz produzido no Brasil e todas estavam abaixo do limite de arsênio permitido: 0,3 mg por quilo de alimento.

O limite de contaminantes químicos é estabelecido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em sintonia com as normas preconizadas pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, em inglês).

Assim como a Anvisa, pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) concluíram que o arroz brasileiro é seguro para consumo.

Fontes:

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39288151

https://www.foodsafetynews.com/2023/03/eu-to-lower-arsenic-levels-in-some-food-products/

https://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=6122

IFS Trend Risk Report May 2023 (disponível através de uma assinatura mensal no site do IFS).

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