Um lugar para criar, prototipar, testar e concretizar projetos que, até então, só se tinha no papel. Quem nunca teve uma ideia de que gostaria muito de colocar em prática, mas só faltou uma oportunidade que viabilizasse esse projeto? Para quem é estudante, acadêmico, professor, pesquisador, empreendedor, ou uma pessoa que ama o universo de possibilidades que o “criar” pode proporcionar, já passou por isso. Agora esse lugar já existe!
Em expansão no mundo todo, os Laboratórios de Fabricação, os FabLabs, também se expandem no Brasil e têm impulsionado cada vez mais o conceito do “faça você mesmo” do movimento maker. Eles têm se tornado ferramentas que possibilitam a realização desse movimento que põe em prática conceitos e incentivam a criação, o empreendedorismo e a inovação.
FabLabs chegam ao sul do Brasil
Em 2023, dois projetos de FabLabs serão implantados na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), nas áreas de Bioinsumos. São eles: o 1° FabLab na área de FoodTechs na América Latina, o BioFabLab, e o Food Tech FabLab. Eles contarão com recursos do Ministério da Agricultura e Pecuária e do Abastecimento, e o órgão executor será o InovaTec UFSM Parque Tecnológico.
O que são as FabLabs?
Derivado do termo em inglês Fabrication Laboratory, FabLabs são ambientes equipados com máquinas e ferramentas de fabricação digital que impulsionam e incentivam a inovação, aprendizagem e o empreendedorismo local. Esses ambientes surgiram junto com o crescimento do Movimento Maker, fornecendo espaços de interação entre empreendedores, pesquisadores, estudantes e comunidade em geral para que possam experimentar, aprender, compartilhar conhecimento e desenvolver projetos a partir do uso de tecnologias colaborativas. Esses makerspaces possuem tecnologias como:
- Impressoras 3D;
- Cortadoras a laser;
- Máquinas de fresagem CNC entre outras ferramentas de fabricação.pen
O primeiro Laboratório de Fabricação foi desenvolvido pelo programa do Center for Bits and Atoms (CBA) no Massachusetts Institute of Technology (MIT). No Brasil, em 2017, segundo panorama feito e publicado no texto Laboratórios de Fabricação Digital: um estudo da região Sul do Brasil no I Congresso Internacional: Pesquisa e Desenvolvimento, foram identificados 32 FabLabs, sendo 13 na região Sul, com um no Paraná, seis em Santa Catarina e seis no Rio Grande do Sul. Atualmente, o número já demonstra ser muito maior se observarmos o mapa disponível no site da Rede FabLab Brasil e como aparecem na imagem abaixo.
Dados disponibilizados pelo Instituto FabLab Brasil localizaram 147 FabLabs pelo país e desse total, 6 se encontram no Rio Grande do Sul. Um fato relevante é que nenhum deles trabalha com a área de Food Tech ou Bioinsumos e, essas informações nos permitem observar a importância da criação desses ambientes e a proporção destes projetos tanto a nível local quanto a nível nacional. Observe:
E qual a função de um FabLab? Para Maria Daniele Dutra, gestora do InovaTec e coordenadora dos projetos que serão executados na UFSM, é oferecer acessibilidade e, portanto, mais igualdade em nossa sociedade, isso porque, segundo ela, são espaços pensados para dar acesso facilitado à inovação e ferramentas às pessoas, seja por meio da formação aberta e gratuita, seja por potencializar as redes e processo colaborativo, que intensificam a aprendizagem prática da tecnologia. Assim, esses ambientes auxiliam no processo de geração de projetos e produtos ligados às demandas da sociedade, podendo colocar Santa Maria como uma das cidades rota da inovação na área de alimentos e produtos biológicos.
Confira:
O Food Tech FabLab
Para o FabLab no ramo de FoodTechs, o objetivo é implantar um sistema indutor de inovação e empreendedorismo no Parque Tecnológico da UFSM, o FoodTech FabLab, através da instalação de uma infraestrutura física com equipamentos, fornecendo assim capacitação profissional e treinamentos nessa área.
E o que são FoodTechs? São empresas que trabalham ressignificando os sistemas alimentares, utilizando tecnologias para criar soluções inovadoras que podem aprimorar seus nichos de aplicação que como:
- processamento de alimentos;
- novos ingredientes e produtos;
- sistemas de entrega por aplicativo (delivery), rastreabilidade;
- varejo e food service: novos equipamentos e serviços e até mesmo trabalhando no problema do desperdício de alimentos na ponta final da cadeia de alimentação.
Na prática, vemos que a criação de um FabLab de FoodTech impulsiona a criação de serviços e processos que visam melhorar toda essa cadeia de produção, e consequentemente alavancar a qualidade dos produtos e, também, a experiência do consumidor.
Juliano Barin, professor na Universidade Federal de Santa Maria que desempenha atividades de pesquisa e ensino na área de FoodTech, é um dos membros participantes do projeto e falou sobre a importância da criação de uma infraestrutura de desenvolvimento tecnológico para a área alimentícia dentro da nossa universidade e o impacto de ter esse ambiente para a formação dos estudantes na nossa instituição, pois se tem um sistema multifatorial, em que haverá diversas possibilidades ao redor do FabLab.
“Vai impactar muito positivamente em questão de acesso e geração de conhecimento, porque ao se trabalhar com FabLab geraremos uma série de conhecimentos que depois serão explorados na pesquisa, pelas empresas, e que vão agregar conhecimentos novos que até então não se tinha. Então, se espera que com isso consigamos induzir os processos de inovação, e assim, gerar novos empreendimentos “, completa.
O BioFabLab
O projeto do BioFabLab que será implantado, tem como objetivo criar um espaço de co-criação e inovação que apoiará empreendedores no setor agropecuário com foco na área de Bioinsumos. E o que são Bioinsumos? são quaisquer produtos, processos ou tecnologias de origem vegetal, animal ou microbiana, destinados ao uso na produção, no armazenamento e no beneficiamento de produtos agropecuários.
Pode parecer complexo, mas um exemplo de onde podem ser utilizados esses bioinsumos dentro da cadeia do agronegócio é no controle de qualidade de produção, como o doutor em Engenharia de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas, docente da UFSM e membro do projeto, Márcio Mazutti, fala:
“Hoje no Brasil se perde muito no pós-colheita. Frutas, principalmente frutas e hortaliças. Então, você pode utilizar um microrganismo para controlar esses fungos que atacam as frutas, diminuindo a incidência desses fungos, consequentemente você a preserva por mais tempo” afirma.
Sobre o projeto
O projeto será executado usando a infraestrutura física da Planta Piloto de Bioinsumos (PPB) e a justificativa para a sua implantação se dá pelo fato de o Brasil ter desenvolvido uma grande importância na produção agrícola e, consequentemente, um grande consumidor de insumos como sementes, energia, fertilizantes e agrotóxicos, dependendo da importação de 76% desses ingredientes de países fornecedores como China, Rússia, Canadá e Índia.
Consequentemente, têm uma dependência maior nesses países para a importação de insumos, o que pode acabar afetando as safras. O Brasil é um dos países que mais utilizam agrotóxicos no mundo, e os bioinsumos surgem como uma alternativa sustentável que esses produtores podem acessar e utilizar em sua cadeia produtiva.
A nível estadual, o último Censo Agropecuário realizado em 2017 e publicado em 2019, demonstrou que no Rio Grande do sul, 80,5% dos estabelecimentos foram considerados como de agricultura familiar (do total de 365.094 estabelecimentos localizados em território gaúcho, o que equivale a 7,2% de todos os estabelecimentos do território nacional). Dessa forma, uma característica marcante do estado, nessa área, é a agricultura familiar.
Segundo Mazutti, muitas vezes esses pequenos agricultores ficam à mercê dessas tecnologias, o que acaba afetando a produtividade das colheitas e na preservação desses produtos. Assim, a utilização desses bioinsumos pode beneficiar a cadeia do agronegócio da região.
“A partir do momento que você começa a disseminar conhecimento, você começa a mostrar para esses pequenos agricultores que é possível eles começarem a pensar em produzir um biodefensivo, ou caso não queiram produzir, que eles podem comprar de diferentes empresas, biodefensivos e aplicá-los […] eu acho que essa é a principal contribuição que você tem em termos de desenvolvimento regional.” pontua.
Ele comenta que o BioFabLab auxiliará no desenvolvimento científico e tecnológico, a partir do aporte de conhecimento dos estudantes, pessoas e empresas vinculadas, para desenvolver tecnologias. E essas tecnologias, de alguma forma, estarão disponíveis para a sociedade.
“Quando eu falo sociedade, eu falo do produtor individual que quer produzir o seu bioinsumo na propriedade, assim como empresas que querem ter, a partir do contrato de transferência de tecnologia, essa tecnologia e produzir para a comercialização. O BioFabLab vai ser um agente que dá esse suporte, que possibilita essas coisas acontecerem, tanto em desenvolvimento tecnológico, como em prestação de serviço para pessoas físicas, pessoas jurídicas, enfim, que queiram fazer utilização do sua infraestrutura.”
Assim, o BioFabLab terá o objetivo de promover e criar soluções inovadoras que promovam a saúde do solo, a proteção de culturas e a sustentabilidade agrícola. Dentro desse ambiente poderá ocorrer:
- O desenvolvimento de microrganismos benéficos;
- biofertilizantes;
- biopesticidas e outros produtos biológicos que podem substituir ou complementar insumos químicos tradicionais, visando reduzir o impacto ambiental e promover práticas agrícolas mais sustentáveis.