Óleos comestíveis não convencionais e seus benefícios à saúde.

Introdução

Óleos vegetais são produtos alimentícios fabricados pela indústria com a extração de substâncias presentes em frutos e sementes in natura. Os principais óleos utilizados na alimentação, são de soja, palma, girassol e colza, mas a composição pode diversificar conforme região de cultivo (GARCIA-ALOY et al., 2019). Existe uma variedade de óleos comestíveis menos utilizados, chamados de óleos não convencionais, como os óleos amazônicos e tropicais (KHALILI TILAMI & KOUŘIMSKÁ, 2022).

O principal componente dos óleos e gorduras, são os acilgliceróis (mono, di e triglicerídeos), compostos principalmente por ácidos graxos (AGs), que podem ser saturados – AGS (sem ligações duplas), monoinsaturados – AGMI (com uma ligação dupla) ou poli-insaturados – AGPI (com duas ou mais ligações duplas) (ORSAVOVA et al., 2015).

Os compostos bioativos presentes nos óleos e gorduras vegetais variam conforme sua planta de origem, parte da planta utilizada e forma de extração, entre outros fatores. Portanto, aumentar a diversidade de óleos e gorduras para a alimentação, promove maior diversidade de compostos bioativos na dieta, como os carotenoides, tocoferóis, ácidos graxos das séries ômega n-3, n-6 e n- 9 (MESQUITA et al., 2020). A diversidade de alimentos dentro de um mesmo grupo alimentar, como o grupo dos óleos, azeites e gorduras, agrada os sentidos, pois permite diversificar sabores, aromas, cores e texturas da alimentação, atendendo preferências regionais e pessoais (BRASIL, 2014), além de proporcionar maior diversidade de nutrientes e compostos bioativos.

Óleos e gorduras contêm pequenas quantidades de outros lipídios, como fosfolipídeos, constituintes insaponificáveis e ácidos graxos livres naturalmente presentes no óleo ou gordura. A principal diferença entre os óleos e gorduras é a forma a qual se apresentam na temperatura de 25 °C, sendo que os óleos vegetais apresentam estado líquido e as gorduras vegetais estado sólido ou pastoso nesta temperatura (ANVISA, 2021). Já o azeite, se distingue por ser produto proveniente da polpa do fruto e não de grãos, sementes ou caroços (RACT, 2024).

Como o azeite de oliva, que é extraído da polpa da azeitona, ou o azeite de pequi, quando a parte do fruto usada para extração é a polpa do pequi, enquanto o óleo de pequi é produto extraído da semente.

Existem diferentes perspectivas sobre o impacto dos óleos na saúde humana. As Dietary Reference Intakes (DRIs) para macronutrientes recomendam uma ingestão lipidica entre 20% e 30% do valor calórico total da dieta. Os lipídios possuem alta densidade calórica (9 kcal/g), o que contribui para o aumento da densidade energética da dieta (DED), influenciando na ingestão calórica e, consequentemente, o peso corporal. Em contrapartida, a dieta low carb, amplamente difundida, propõe uma restrição no consumo de carboidratos e prioriza a ingestão de proteínas e gorduras para o emagrecimento (ABESO, 2022). No entanto, o perfil de ácidos graxos dos óleos e gorduras ingeridos e a quantidade de lipídios da dieta, são os fatores que determinam os efeitos benéficos ou maléficos destes para saúde de quem os consome.

Nesse sentido, as recomendações das diretrizes internacionais, preconizam que seja reduzido o consumo de ácidos graxos saturados e incluídos os ácidos graxos insaturados (mono e poli-insaturados) na dieta (IZAR et al., 2021; MACH et al., 2020). Para tanto, as prescrições dietéticas, com vista à melhora em aspectos de saúde precisam ser definidas conforme diretrizes de recomendações nutricionais e necessidades nutricionais específicas de cada indivíduo. Além disso, a diversificação de óleos e gorduras disponíveis para o consumo humano pode facilitar a escolha de qual óleo utilizar para melhor adequação da alimentação ás necessidades de saúde de cada individuo.

Os óleos comestíveis não convencionais merecem mais atenção e mais estudos em vista aos seus possíveis benefícios à saúde e possibilidade de uso na culinária e indústria de alimentos. Alguns exemplos de óleos, azeites e gorduras com potenciais benefícios à saúde:

● Castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa Bonpl.): é da família Lecythidaceae, nativa da floresta amazônica. A amêndoa é rica em substâncias bioativas, como α- e γ-tocoferóis, compostos fenólicos e outros nutrientes. O óleo possui alto teor de ácidos graxos insaturados e poli-insaturados que é potencialmente benéfico para a saúde cardiovascular (COSTA & SILVA et al., 2019).

● Buriti (Mauritia flexuosa L.f.): é um fruto com forma elipsoidal, de coloração castanho-avermelhado, com polpa alaranjada. A presença de ácidos graxos insaturados e antioxidantes conferem ao fruto do buriti um potencial de uso para a indústria cosmética, alimentícia e de nutracêuticos (QUINTERO-ANGEL; MARTÍNEZ-GIRÓN & ORJUELA- SALAZAR, 2022). Devido à presença de tocoferóis (1.500 mg.kg −1 ) e carotenoides (900 mg.kg −1 ), o azeite de buriti pode ser considerado um alimento funcional.

● Baru (Dipteryx alata Vog.): é uma leguminosa do tipo drupa, de formato ovalado e levemente achatado, com coloração marrom, tegumento externo liso e brilhante e possui apenas uma amêndoa comestível. Estudos sugerem que o óleo de baru contribui para redução do risco de doenças cardiovasculares; esta característica pode ser atribuída principalmente à baixa quantidade de ácidos graxos saturados e ao alto teor de AGMI (BENTO et al., 2014; FETZER et al., 2018).

● Pequi (Caryocar brasiliense Camb.:) é um fruto do tipo drupa com epicarpo espesso de coloração esverdeada a tons de roxo e polpa amarela. Possui de uma a quatro amêndoas em sua parte central. O azeite de pequi contém diversas moléculas antioxidantes, como carotenoides, vitamina C e compostos fenólicos, sua suplementação oral tem sido investigada para prevenção e tratamento do câncer.

Estudos mostraram redução no dano ao DNA (ácido desoxirribonucleico), menor peroxidação lipídica no carcinoma de pulmão e inibição do crescimento do tumor no câncer de mama (COLOMBO et al., 2015; MIRANDA- VILELA et al., 2011, 2014; OMBREDANE et al., 2022).

Os lipídios, assim como os outros macronutrientes, são cruciais para a saúde humana e possuem diversas funções fisiológicas. Eles promovem saciedade, transportam as vitaminas lipossolúveis, fornecem ácidos graxos essenciais, são substratos para a formação de membranas celulares, precursores de hormônios esteroides (como os hormônios sexuais) e desempenham papel importante nos processos inflamatórios e resposta imunológica. A depender da quantidade e qualidade dos lipídios na dieta, estes podem contribuir significativamente para a melhora e manutenção da saúde e prevenção de doenças, por isso o estudo dos óleos, gorduras e azeites, sua composição e efeitos na saúde são primordiais.

Referências bibliográficas

● ABESO. Posicionamento sobre o tratamento nutricional do sobrepeso e da obesidade: departamento de nutrição da Associação Brasileira para o estudo da obesidade e da síndrome metabólica (ABESO – 2022) / coordenação Renata Bressan Pepe [et al.]. São Paulo: ABESO, 2022.

● ANVISA. Resolução de Diretoria Colegiada – RDC – N° 487, de 26 de Março de 2021. BENTO, A. P. N. et al. Baru almond improves lipid profile in mildly hypercholesterolemic subjects: A randomized, controlled, crossover study. Nutrition, Metabolism and Cardiovascular Diseases, v. 24, n. 12, p. 1330–1336, 1 dez. 2014.

● BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

● COLOMBO, N. B. R. et al. Caryocar brasiliense camb protects against genomic and oxidative damage in urethane-induced lung carcinogenesis. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v. 48, n. 9, p. 852–862, 21 set. 2015.

● COSTA E SILVA, L. M.; DE MELO, M. L. P.; REIS, F. V. F.; MONTEIRO, M. C.; DOS SANTOS, S. M.; GOMES, B. A. Q.; DA SILVA, L. H. M. Comparison of the Effects of Brazil Nut Oil and Soybean Oil on the Cardiometabolic Parameters of Patients with Metabolic Syndrome: A Randomized Trial. Nutrients, v. 12, n. 1, p. 46, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.3390/nu12010046. Acesso em: 24 set. 2021.

● FETZER, D. L. et al. Extraction of baru (Dipteryx alata vogel) seed oil using compressed solvents technology. The Journal of Supercritical Fluids, v. 137, p. 23–33, 1 jul. 2018.

● GARCIA-ALOY, M. et al. Biomarkers of food intake for nuts and vegetable oils: an extensive literature search. Genes & Nutrition, v. 14, n. 1, p. 1–21, 19 mar. 2019.

● IZAR, M. C. de O. et al. Posicionamento sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular – 2021. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 116, n. 1, p. 160–212, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.36660/abc.20201340.

● KHALILI TILAMI, S.; KOUŘIMSKÁ, L. Assessment of the Nutritional Quality of Plant Lipids Using Atherogenicity and Thrombogenicity Indices. Nutrients 2022, v. 14, n. 18, p. 3795, 14 set. 2022.

● MACH, F. et al. 2019 ESC/EAS Guidelines for the management of dyslipidaemias: lipid modification to reduce cardiovascular risk. European Heart Journal, v. 41, n. 1, p. 111– 188, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehz455. Acesso em: 30 set. 2021.

● MESQUITA, J. DE A. et al. Fatty acid profile and physicochemical characterization of buriti oil during storage. Ciência Rural, v. 50, n. 11, p. 1–11, 7 out. 2020.

● MIRANDA-VILELA, A. L. et al. The protective effects of nutritional antioxidant therapy on Ehrlich solid tumor-bearing mice depend on the type of antioxidant therapy chosen: histology, genotoxicity and hematology evaluations. The Journal of Nutritional Biochemistry, v. 22, n. 11, p. 1091–1098, 1 nov. 2011.

● MIRANDA-VILELA, A. L. et al. Oil rich in carotenoids instead of vitamins C and E as a better option to reduce doxorubicin-induced damage to normal cells of Ehrlich tumor- bearing mice: hematological, toxicological and histopathological evaluations. The Journal of Nutritional Biochemistry, v. 25, n. 11, p. 1161–1176, 1 nov. 2014.● OMBREDANE, A. S. et al. Pequi oil (Caryocar brasilense Cambess.) nanoemulsion alters cell proliferation and damages key organelles in triple-negative breast cancer cells in vitro. Biomedicine & Pharmacotherapy, v. 153, p. 113348, 1 set. 2022.

● ORSAVOVA, J. et al. Fatty Acids Composition of Vegetable Oils and Its Contribution to Dietary Energy Intake and Dependence of Cardiovascular Mortality on Dietary Intake of Fatty Acids. International Journal of Molecular Sciences, v. 16, n. 12, p. 12871–12890, 5 jun. 2015.

● QUINTERO-ANGEL, M.; MARTÍNEZ-GIRÓN, J.; ORJUELA-SALAZAR, S. Agroindustrial valorization of the pulp and peel, seed, flour, and oil of moriche (Mauritia flexuosa) from the Bita River, Colombia: a potential source of essential fatty acids. Biomass Conversion and Biorefinery, v. 1, p. 1–9, 12 jan. 2022.

● RACT, Juliana. A diferença entre óleo e azeite começa na matéria-prima. Alimentos sem mitos. Disponível em: https://alimentossemmitos.com.br/a-diferenca-entre-oleo-e- azeite-comeca-na-materia prima#:~:text=%E2%80%9CConsideramos%20o%20azeite%20um%20'subtipo,USP% 20(FCF%2FUSP). Acesso em: 29 out. 2024.

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