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Pesquisadores alertam sobre Salmonella resistente no esgoto de São Paulo 

Estudo aponta que uma das consequências do problema é o uso excessivo e não supervisionado de antibióticos por parte da população

As más condições de saneamento básico e a utilização excessiva de antibióticos no esgoto bruto da Região Metropolitana do estado de São Paulo acendeu um alerta para pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo. Em pesquisa divulgada no início de maio de 2023, os cientistas do Laboratório de Saúde Ambiental da FSP identificaram a presença de bactérias com resistência a antimicrobianos na região mencionada, o que representa uma ameaça à saúde pública local.

“A resistência antimicrobiana diz respeito à capacidade de bactérias e microrganismos de resistirem à ação de drogas que visam a seu tratamento. Esse é um problema consequente do uso excessivo e não supervisionado de antibióticos por parte da população”, explica Solange Rocha, primeira autora do estudo, ao Jornal da USP. Ainda segundo Solange, esse uso excessivo dificulta o tratamento de algumas doenças infecciosas. “O uso indiscriminado de antibióticos e quaisquer medicamentos está levando as bactérias a criarem cada vez mais resistência”, completa a pesquisadora.

Para se ter dimensão do problema enfrentado, dados atuais da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que até 550 milhões de pessoas sofrem com doenças diarreicas todos os anos, resultado do consumo de alimentos contaminados. Entre os microrganismos mais comuns nestes casos, destaca-se a Salmonella, uma bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae e que pode desencadear quadros de diarreia.

A pesquisadora Solange Rocha também ressaltou que o esgoto não coletado e sem o tratamento adequado cria um ambiente propício para o problema. Segundo ela, quase 56% da população recebe coleta de esgoto, mas somente 51% desse esgoto é tratado. “Então quando esse esgoto chega ao corpo d’água, ocorre a contaminação, seja por salmonela ou outras bactérias patogênicas”, diz. Paralelo a esse descarte impróprio, os antibióticos consumidos pelas pessoas são eliminados pelas fezes e urina e acabam nos esgotos – o que faz com que a Salmonella fique em contato constante com esses fármacos, dando origem a sua resistência. “Ao ampliarmos o acesso à água potável, ao tratamento de esgoto e à estrutura de saneamento, nós estaremos investindo na qualidade de vida da população”, conclui Solange.

Dados sobre o saneamento na Região Metropolitana de São Paulo

Cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem sem acesso a saneamento básico na capital de São Paulo, totalizando 370 mil residências sem ligação à rede coletora. De acordo com o Datasus 2019, a Região Metropolitana registrou mais de 6 mil internações por doenças relacionadas à falta de saneamento. 

A pesquisadora Solange, em entrevista ao jornal USP, concluiu então que pessoas mais carentes que habitam nas periferias de São Paulo têm muito mais probabilidade de se contaminarem, tanto pela ingestão da água que entrou em contato com o esgoto não tratado quanto pela interação com a salmonela.

O artigo que alertou para a presença de Salmonella resistente no esgoto bruto de São Paulo está disponível para leitura na íntegra no site da  revista The Journal of Infection in Developing Countries. Acesse aqui:  Antimicrobial profile of non-typhoidal Salmonella isolated from raw sewage in the Metropolitan Region of São Paulo, Brazil.

Fonte: Jornal da USP.

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