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A importância do Programa de Manejo Integrado de Pragas na retomada dos Serviços de Alimentação

A especialista Ana Mary lista elementos relacionados ao MIP, destacando práticas e cuidados essenciais para a segurança dos alimentos.

A pandemia do novo coronavírus trouxe mais relevância aos procedimentos de boas práticas e de higiene, uma vez que se referem a atividades necessárias para a manutenção das condições higienicossanitárias e que muitas vezes são negligenciados pelos estabelecimentos produtores de alimentos.

Dentre as boas práticas, destaca-se o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que é um programa de melhoria contínua que incorpora ações preventivas e corretivas, com o uso de estratégias que garantam resultados favoráveis sob o ponto de vista sanitário, ambiental e econômico, para impedir que pragas possam gerar problemas significativos (CRBio, 2015).

Em virtude dos protocolos de segurança estabelecidos pelo Ministério da Saúde (MS) durante a pandemia, alguns serviços de alimentação ficaram meses com parte das suas instalações fechadas. E outros, para manter o funcionamento, realizaram investimentos no atendimento e entrega por meio de aplicativos de delivery. Dessa forma, os processos de aquisição e recebimento de matérias-primas, estoque, área de produção e entregas estão funcionando de maneira ampla e acelerada.

Algumas pragas merecem atenção nesses ambientes, por serem consideradas vetores mecânicos de microrganismos, dentre elas: as baratas, as moscas e os roedores.

As baratas transportam diversos agentes patogênicos (CORNWELL, 1968), que ficam aderidos ao corpo, principalmente, em pêlos e cerdas das pernas, sendo transportados mecanicamente de uma área contaminada para a uma área limpa (SERRA-FREIRE,1999). Segundo Perez (1989), abrigam-se em ambientes quentes, úmidos e protegidos da luz, e à noite entram em atividade nas áreas de manipulação de alimentos, cozinhas, depósitos, padarias, restaurantes, hospitais e residências.

Junqueira et al, (2017), concluíram que as moscas domésticas, são capazes de carregar até 351 bactérias diferentes. As varejeiras, também conhecida pelas cores vibrantes azul e verde, transportam 316 tipos de microrganismos nocivos à saúde humana.

Os impactos negativos nos programas de pré-requisitos de segurança de alimentos, influenciam de forma direta nos resultados esperados no manejo integrado de pragas, expondo dessa forma o consumidor final ao risco de contaminação.

No período de março a agosto de 2020, algumas não conformidades foram sinalizadas pelas empresas prestadoras de serviços de controle de pragas, sendo consideradas cruciais e portas de entrada para a contaminação dos processos produtivos. Dentre elas, pode-se listar:

  1. Triagem precária ou muitas vezes inexistente no recebimento de matérias-primas e produtos acabados;
  2. Presença de vestígios de roedores e baratas vivas no estoque;
  3. Embalagens mal acondicionadas, principalmente as de papelão utilizadas nas entregas;
  4. Manejo inadequado dos resíduos;
  5. Cancelamento do contrato ou diminuição das visitas técnicas periódicas da empresa controladora de pragas, com o objetivo de reduzir custos.

Uma matéria publicada recentemente no portal de notícias Pragas & Eventos (https://www.pragaseeventos.com.br/), relatou a presença de baratas em refeição adquirida pelo consumidor, por meio de entrega via aplicativo. Segundo a matéria, o cliente acionou a justiça e será indenizado por exposição da saúde do consumidor ao risco, “ante a comercialização e posterior ingestão de alimento impróprio para consumo, capaz de gerar sensação de repugnância e perigo para a saúde, mesmo que não tenha ocorrido a ingestão efetiva do alimento”.

Dessa forma, minimizar os níveis de infestação das pragas e os efeitos adversos provocados por esses animais através do MIP, é algo que envolve competência técnica por parte das empresas prestadoras de serviços, bem como o engajamento e a participação ativa dos Responsáveis Técnicos e Gestores da Qualidade da empresa contratante nos procedimentos realizados.

Campos (2015), mostra nos resultados da sua pesquisa, que os restaurantes que possuem nutricionistas apresentam níveis de bom a ótimo de higienização, organização e as boas práticas sistematizadas.

É importante lembrar que o MIP ou CIP deve contemplar um conjunto de ações eficazes e contínuas de controle de vetores e pragas urbanas, com o objetivo de impedir a atração, o abrigo, o acesso e/ou a proliferação dos mesmos (BRASIL, 2014).

De acordo com Giordano (2011), existe a necessidade de agregar o controle de pragas com os programas de boas práticas de fabricação (BPF), Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), com procedimentos (POP) claros e objetivos, além de práticas de 5S. Enfatiza ainda, que as etapas de prevenção e monitoramento são essenciais nesse processo com vistorias técnicas sistemáticas.

No caso das não conformidades listadas acima, é urgente e necessário que os Responsáveis Técnicos e demais profissionais envolvidos na gestão da qualidade e segurança de alimentos, adotem os seguintes procedimentos:

  • Seleção e qualificação de fornecedores, exigindo a realização do controle de pragas nos seus estabelecimentos que assegurem ausência de infestações;
  • Controle de entradas e saídas de produtos, garantindo a rotatividade no estoque e minimizando a proliferação de pragas;
  • Acondicionamento de produtos em pallets, respeitando o distanciamento das paredes;
  • Vedação de acessos, uso de telas e vistoria frequente nos estoques, cozinhas e áreas de manipulação;
  • Central de resíduos limpa e higienizada;
  • Coleta diária dos resíduos acondicionados em lixeiras com tampa, e descartados rigorosamente dentro do prazo estabelecido em cronograma;
  • Retomada do contrato o mais breve possível com a prestadora de serviços, estabelecendo um cronograma de visitas compatível com a infestação presente no estabelecimento.

É importante ressaltar que a etapa de monitoramento é fundamental. Por meio dela, é possível verificar os índices de controle de infestação, redirecionar estratégias e acompanhar de perto a contribuição dos colaboradores no programa de controle de pragas.

O processo de avaliação deve ser realizado de maneira conjunta entre os Responsáveis Técnicos do estabelecimento e da prestadora de serviços, por meio dos dados registrados no comprovante de execução dos serviços, dos relatórios das visitas, planilhas de ocorrência de pragas, com vistas a eliminar sempre a causa raiz da infestação, ou seja, os 4 A´s : água, acesso, abrigo e alimento.

Desse modo, para assegurar alimentos inócuos ao consumidor no processo de reabertura dos serviços de alimentação ou através da continuidade do negócio apenas com delivery, é necessário o compromisso contemplando de forma contínua a essencialidade do programa de manejo integrado de pragas nos estabelecimentos. Dentro dessa perspectiva é relevante a contratação de empresas legalizadas e profissionais qualificados.

 

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RDC nº 216, de 15 de setembro de 2014. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação

CAMPOS, L. P. E. Monitoramento de Blattella germanica em restaurantes na cidade de Salvador e identificação das condições favoráveis à proliferação. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências – Rio Claro. 2015.

CORNWELL, P.B. The cockroach. A laboratory insect and an industrial pest. London: Hutchinson. v.1, 1968.

CRBio- RESOLUÇÃO Nº 384, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2015. Disponivel em<https://www.crbio01.gov.br>. Acesso em: 2 set, 2020.

GIORDANO J.C.; Risco de Infestação em áreas de Shopping e importância das boas práticas de Manipulação. Revista Controle de Contaminação, ano 13, n.145, p. 45-47, 2011.

JUNQUEIRA, A. C. M. et al. The microbiomes of blowflies and houseflies as bacterial transmission reservoirs. Scientific Reports, 7: 16324-16353-x, 2017.

PÉREZ, J.R. La cucaracha como vetor de agentes patógenos. Bol. Of. Sanit. Panam., v.107, n.1, p.41-53, 1989.

SERRA-FREIRE, N. M. Protozoários parasitos de baratas: mais um problema no controle da Periplaneta americana. Vetores & Pragas, v.2, n.5, p.16-19, 1999.

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