Portal colaborativo para profissionais, empresas, estudantes e professores da área de Segurança de Alimentos.

Composição química do peixe Armau (Pterodoras granulosus)

A pesca é uma atividade econômica e social significativa no Estado de Mato Grosso do Sul, particularmente no Pantanal e em toda a Bacia do Alto Paraguai (CATELLA et al., 2008). De acordo com estudos sobre pisciculturas do programa Peixe Vida em Mato Grosso do Sul, Gontijo et al. (2005) observaram que pequenos proprietários rurais, comunidades indígenas, colonos rurais e pescadores, sobrevivem da prática pesqueira. Segundo dados do Peixe Br (2022) os peixes de cultivos em Mato Grosso do Sul apresentaram no ano de 2021, produção de 37.400 toneladas ocupando o 8° lugar do ranking nacional, superando o ano de 2020, que produziu 32.390 toneladas. 

A pesca é baseada na extração de recursos pesqueiros do ambiente natural como rios, lagos e oceanos. Enquanto a aquicultura refere-se ao cultivo controlado de criação de peixes, geralmente em espaços confinados, a carcinicultura criação de camarões, a algicultura cultivo de algas, a ranicultura criação de rãs, a quelonicultura criação de tartarugas e tracajás, a malacocultura criação de moluscos como ostras e mexilhões e a criação de jacarés e anfíbios (SCHULTER & VIEIRA, 2017).

O município de Coxim/MS, situado na região pantaneira, é intitulado a capital do peixe, devido aos rios que proporcionam opções de pescados. Desta maneira o município tornou-se ponto turístico, e importante fonte de renda para alguns moradores da região (CRUZ & FUJIHARA, 2018). Dentre os peixes do Pantanal, o Armau (Pterodoras granulosus) é uma espécie de baixa demanda no mercado consumidor, frequentemente descartado apesar de ser abundante nas pescarias.

O peixe Armau é uma espécie de água doce, conhecido também como abotoado, armado, armau e bacu-pedra. Esta espécie é onívora com predisposição a ser herbívora, são capturados por espinheis e iscas naturais, como pequenos pedaços de peixes, minhocuçu e moluscos (HAHN, 1992).

O Armau pertence à família Doradídeos, encontrado em vários rios brasileiros. Nos rios de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, são localizados em poços fundos, que se deslocam atrás de alimento. Possui dois ferrões laterais e um dorsal (Figura 1), podendo atingir 70 cm de comprimento (BRITSKI et al., 2007). 

 Fonte: Britski et al., (2007).

FIGURA 1 – Peixe Armau (Pterodoras granulosus).

O Armau é um peixe de couro, entretanto, o consumo e comercialização é baixo, não apresenta benefícios econômicos, portanto, pouco apreciado na culinária. Habita em águas profundas como poços, lagos de várzea e matas inundadas. São capazes de nadar e sobreviver em profundidade, e em baixo nível de oxigênio e temperaturas variáveis, essas características o diferenciam das outras espécies (ALVES, 2020).

O Armau é comercializado apenas na forma cortada, limpa sem pele e evisceração, delimitando sua aprovação no mercado consumidor (BOMBARDELLI & SANCHES, 2018). Sabe-se que estudos direcionados a está espécie podem agregar valor ao produto, beneficiar o crescimento e a lucratividade do setor relevante, complementar a qualidade e o melhor manejo desse pescado (BOMBARDELLI & SANCHES, 2005).

O peixe Armau são pescados por pescadores e adquiridos em colônias. Dados expõem que respectivamente 25% dos peixes são comprados das colônias, e 75% adquirem diretamente dos pescadores. Estes peixes são congelados limpos e na forma in natura, é considerado uma carne pouco predileta pelos atributos sensoriais marcantes (MARTIN, 1998).

A carne de pescado pode ser comercializada de forma in natura, ou industrializada, podendo atender as necessidades dos consumidores em termos de nutrição, praticidade, acessibilidade, facilidade de preparo e economia (FERREIRA et al., 2002). Devido a crescente demanda por alimentos mais saudáveis, a produção de pescado vem se expandindo para atender as necessidades dos consumidores que buscam alimentos com maior valor nutricional (COSTA & CASSUCCI, 2010).

Os produtos industrializados derivados da aquicultura possuem relevante mercado a ser explorado no Brasil, assim como em diversos países onde a diversidade de produtos industrializados é ampla. O beneficiamento e a industrialização podem agregar valor e promover a popularização do consumo do produto, como tem ocorrido na cadeia produtiva do frango (BARTOLOMEU, 2011). Muitas indústrias estão demonstrando interesse em desenvolver novos produtos à base de pescado que, além de agregar valor, também possam aumentar o consumo desse nobre alimento saudável (VEIT et al., 2011).

Os principais componentes do pescado são água 50% a 85%, proteína 12% a 24% e lipídios 0,1% a 22%, que correspondem a cerca de 98% da porção total comestível. Os 2% restantes consistem em compostos minoritários, dentre os quais se destacam sais minerais 0,8% a 2,0%, carboidratos e vitaminas (NUNES et al., 2008). 

Dentre os nutrientes requeridos para o fornecimento de energia na dieta dos peixes destacam -se os lipídeos, devido ao seu alto valor energético e adaptabilidade nas dietas, assim como as proteínas, que são encontradas tanto em animais marinhos quanto terrestres (PAIVA, 2010).

Os lipídios são as principais reservas energética dos animais com 9,4 kcal/g de energia total. A principal função é gerar energia metabólica na forma de ATP por meio da beta-oxidação. Este macronutriente é representado principalmente pelos triglicerídeos (ácidos graxos e glicerídeos). São fontes de energia e ácidos graxos essenciais necessários para o desenvolvimento normal, proporcionam melhor palatabilidade aos alimentos e servem como veículos para a absorção de vitaminas lipossolúveis e estéreis. Para os peixes, os lipídios não são apenas a principal fonte de energia metabólica para o crescimento dos ovos aos adultos, mas também fonte de energia metabólica para a reprodução (ALMEIDA, 2010).

O peixe é caracterizado por alto teor de ácidos graxos ômega-3, e a ingestão desses ácidos graxos tem sido associada a efeitos positivos para a saúde, como pressão arterial regulada, níveis baixos de triacilglicerol no sangue e redução do crescimento da placa aterosclerótica (NUNES et al., 2008). É um excelente alimento para o desenvolvimento das crianças sendo indispensável na dieta dos idosos, reduz o risco de Alzheimer, demência, fadiga mental, além de reduzir os hormônios do tecido adiposo e controlar o apetite (RINCO, 2008).

TABELA 1 – Composição química (g.100g-1) do filé de Armau (Pterodoras granulosus) obtida por diferentes autores.

Autor

Valor Calórico (kcal/100g)

Carboidratos (%)

Proteínas (%)

Cinzas (%)

Lipídeos (%)

Umidade (%)

Santos et al. (2021)

3,51

72,52

Minozzo, (2010)

78

0,09

14,01

1,11

        2,37

82,42

Bombardelli & Sanches, (2008)

14,23

1,29

        3,52

75,82

A composição química dos peixes depende de vários fatores, como época do ano, maturidade sexual, idade e parte do corpo que está sendo analisada, sendo que as características sensoriais e nutricionais são influenciadas por esses fatores (RASOARAHONA et al., 2005).

Dentre a população brasileira, há pessoas que sofrem de deficiências nutricionais devido a dieta pobre em proteínas de qualidade. Portanto, as empresas visam desenvolver resíduos de valor agregado para consumo humano. Do ponto de vista ambiental, trata-se de alternativa que lhes confere uma destinação nobre, pelo aproveitamento total do pescado, isto é, descarte zero de resíduos ao meio ambiente, portanto a produção destes produtos gera benefícios econômicos, empregos e rentabilidade para os pescadores artesanais (PIRES, 2015).

Produtores artesanais têm transformado resíduos de pescado em produtos de valor, como as escamas que além de ser um subproduto da pesca facilmente disponível, é descartadas por pescadores, peixarias ou consumidores, entretanto comprovou-se que o subproduto do pescado pode ser empregado, após lavagem e manuseio adequado, as escamas são utilizadas para confeccionar brincos, colares, pulseiras, objetos de decoração de ambiente, flores e chaveiros, dependendo da criatividade do artesão (CALVANO et al., 2012).

De acordo com Feltes et al. (2010), os resíduos sólidos de pescado são utilizados na fabricação de ração animal, alimentação humana, biodiesel, catalisadores, fertilizantes, produtos químicos e óleo de peixe. Os óleos são usados para dar acabamento em couro, vernizes e tintas, ou podem ser usados na aquicultura, como é tradicionalmente feito no Brasil.

Portanto, conclui-se que o pescado é um alimento funcional, conhecido pela composição química e elevado valor nutricional. Dentre os produtos de origem animal é essencial por garantir benefícios a saúde humana. No Mato Grosso do Sul, a pesca tem crescido significativamente, possui relevância para o desenvolvimento econômico e social. No município de Coxim a pesca é importante pois gera renda para moradores locais, várias espécies de peixes são vistas, em destaque o Armau, que se encontra em abundância nos rios da região.

 

REFERÊNCIAS

  • ALMEIDA, L. C. Desempenho Produtivo, Eficiência Digestiva e Perfil Metabólico de Juvenis de Tambaqui, colossoma macropomum (CUVIER, 1818), alimentados com diferentes taxas carboidratos/lipídio. 2010. 80 f. Tese (Doutorado em Genética e evolução). Universidade Federal de São Carlos, Programa de Pós-Graduação em Genética e Evolução. São Carlos, 2010.
  • ALVES, M. Peixe abotoado (ou armau) é encontrado em vários rios brasileiros. 2020. Disponível em: <https://agro20.com.br/peixe-abotoado/>. Acesso em: 2 mar. 2022.
  • BARTOLOMEU, D. A. F. S. Desenvolvimento e Avaliação da Aceitação de Embutido Defumado “tipo mortadela” elaborado com CMS de tilâpia do Nilo (Oreochromis Niloticus) e fibra de trigo. 2011. 114 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Alimentos). Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011. 
  • BOMBARDELLI, R. A.; SYPERRECK, M. A.; SANCHES, E. A. Situação atual e perspectivas para o consumo, processamento e agregação de valor ao pescado. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia da Unipar, v. 8, n. 2, p. 181-195, 2005.
  • BOMBARDELLI, R. A.; SANCHES, E. A. Avaliação das características morfométricas corporais, do rendimento de cortes e composição centesimal da carne do armado (Pterodoras granulosus). Boletim do Instituto de Pesca, v. 34, n. 2, p. 221-229, 2018. 
  • BRITSKI, H. A.; DE SILIMON, K. D. S.; LOPES, B. S. Peixes do Pantanal: manual de identificação, ampl. Brasília, DF, Embrapa Informação Tecnológica, 2007.
  • CALVANO, D. M. et al. Artesanato Com Escamas De Peixe: Uma Alternativa De Complementação Da Renda Familiar De Mulheres Pescadoras Do Pampa. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 4, n. 3, 15 mar. 2013. 
  • CATELLA, A. C.; MASCARENHAS, R. O.; ALBUQUERQUE, S. P.; ALBUQUERQUE, F. F.; THEODORO, E.  R.  M.  Sistemas de estatísticas pesqueiras no Pantanal, Brasil:  aspectos técnicos e políticos. Pan-American Journal of Aquatic  Sciences,  v.  3, n.  3, p.  174-192, 2008. 
  • COSTA, D. P. S.; CASSUCCI, A. R. Processamento de nuggets de peixe e avaliação sensorial. Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010. 
  • CRUZ, L. M. O.; FUJIHARA, C. Y. TURISMO, NATUREZA E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL EM COXIM, MS. ANAIS DO SEMEX, n. 11, 2018. Disponível em: https://anaisonline.uems.br/index.php/semex/article/view/5502>. Acesso em: 09 de ago. 2022.
  • ESCOBAL, J. J. R. Qualidade nutricional do casco da Tartaruga-da-Amazônia Podocnemis expansa (Schwegger, 1812). 2011. 29 f. (Relatório final). Universidade Federal do Amazonas Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação departamento de Apoio à Pesquisa Programa Institucional de Iniciação Científica. Manaus, 2011. Disponível em: < https://riu.ufam.edu.br/handle/prefix/1968>. Acesso em: 09 de mar. 2022.
  • FELTES, M. M. C.; CORREIA, J. F. G.; BEIRÃO, L. H.; BLOCK, J. M.; NINOW, J. L.; SPILLER, V. R. Alternativas para a agregação de valor aos resíduos da industrialização de peixe. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.14, n. 6, p. 669-677, 2010. 
  • FERREIRA, M.W.; SILVA, V.K.; BRESSAN, M.C.; FARIA, P.B.; VIEIRA, J.O. & ODA, S.H.I. Pescados processados: maior vida de prateleira e maior valor agregado. Gráfica/ UFLA, Lavras, 2002. Disponível em: <http://docplayer.com.br/33314400-Pescados-processados-maior-vida-de-prateleira-e-maior-valor-agregado.html>. Acesso em: 19 de abr. 2022.
  • GONTIJO, V. de P. M. et al. Diagnóstico das Pisciculturas do Programa Peixe Vida em Mato Grosso do Sul. Dourados, MS: Documentos / Embrapa Agropecuária Oeste, 2005. Disponível em: <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/250810/1/DOC200569.pdf>. Acesso em: 18 de abr. 2022.
  • HAHN, N. S.; MONFREDINHO, A.; FUGI, R.; AGOSTINHO, A. A.  Aspectos da alimentação do armado, Pterodoras granulosus (Ostariophysi, doradidae) em distintos ambientes do alto rio Paraná. Revista Unimar, Maringá, 14 (Suplemento): p, 163-176. 1992. 
  • MARTIN, R. V. MARTINS, R. S. Levantamento da cadeia produtiva do pescado do reservatório de Itaipu. Revista Teoria e Evidência Econômica, v. 7, n. 13, 1998. Disponível em: <http://seer.upf.br/index.php/rtee/article/view/4804/3232>. Acesso em: 05 de abr. 2022.
  • MINOZZO, M. G. Paté de pescado: alternativa para incremento da produção nas indústrias pesqueiras. 2010. 228 f. Tese (Doutorado em tecnologia em Alimentos). Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2010. 
  • NOGUEIRA, M. M et al. A pesca artesanal e as tartarugas marinhas no litoral paraibano: aspectos etnozoológicos e conservacionistas. 2015. 51, f. Dissertação (Mestrado em desenvolvimento e Meio Ambiente). Universidade Federal da Paranaíba, João pessoa, 2015. 
  • NUNES, M. L.; IRINEU, B.; BANDARRA, N.; MORAIS, M. D. G.; RODRIGUES, P. O. Produtos da Pesca: Valor Nutricional e Importância para a Saúde e Bem-Estar dos Consumidores. Publicações Avulsas do IPIMAR. 18. Lisboa, 2008. Disponível em: <https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/33912>. Acesso em: 16 de abr. 2022.
  • PAIVA, K. C. Utilização de ração a base de sorgo na alimentação de tilápia do nilo (Oreochromis niloticus) sobre as características zootécnicas do peixe e características físicas, químicas, bioquímicas, histomorfológicas viscerais e sensoriais do filé. 2010. 121 f. Tese (Doutorado em Alimentos e Nutrição). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Araraquara. São Paulo, 2010.
  • PEIXEBR. Anuário Brasileiro da Piscicultura PEIXE BR 2022. Texto Comunicação Corporativa, p. 79, 2022. Disponível em: < https://www.peixebr.com.br/anuario2022/>. Acesso em: 05 de abr.2022.
  • PIRES, D. R. Desenvolvimento de fishburguer à base de pescado marinho de baixo valor comercial capturado na Baía de Sepetiba. 2015. 91f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos). Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2015. 
  • RINCO, N. B. O uso da tilápia em uma alimentação saudável. 2008. 59 f. Monografia (Especialista em Gastronomia e saúde). Universidade de Brasília, Centro de Excelência em Turismo. Brasília-DF, 2008.  Disponível em: <https://bdm.unb.br/bitstream/10483/390/1/2008_NataliaBravimRinco.pdf>. Acesso em 15 de abr.2022.
  • SANTOS, J. B.; BARRETTO, L. C. O.; SANTOS, P. L.; SANTOS, T. S.; BALIEIRO, A. L. Avaliação do efeito tecnológico do uso da mucilagem de chia (salvia hispanica) na elaboração de linguiça do peixe armau (pterodoras granulosus). In: congresso internacional da Agroindústria, p. 1-20, 2021.
  • SCHULTER, E. P., VIEIRA FILHO, J. E. R. Revolução da piscicultura no brasil: diagnóstico e desenvolvimento da cadeia produtiva de tilápia (Texto para Discussão, No. 2328). Rio de Janeiro: Ipea 2017.
  • VEIT, J. C.; FREITAS, J. M. A.; DOS REIS, E. S.; MALUF, M. L. F.; FEIDEN, A.; BOSCOLO, W. R.  Caracterização centesimal e microbiológica de nuggets de mandi-pintado (Pimelodus britskii). Semina: Ciências Agrárias, v. 32, n. 3, p. 1041-1047, 2011. 
  • ZANCHETT, S.  A.  S.  Trajetórias, vivências e significações:  os pescadores profissionais de Coxim/MS. Revista Rascunhos Culturais, v.1, n.1, p. 163 –179, 2010.
Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia mais