Conversamos com a especialista em desenvolvimento profissional e consultora da HACCP Mentor, Amanda Evans-Lara, sobre como o ensino contínuo é um fator importante na carreira de profissionais de Food Safety. Amanda trabalhou por sete anos como inspetora no governo australiano antes de abrir sua empresa de consultoria há vinte anos atrás, procurando independência e flexibilidade.
Com a base de conhecimento de mais de 25 anos de experiência em Segurança do Alimento, Amanda mentora empresas e profissionais do setor alimentício com um objetivo: tornar a conformidade simples e fácil.
e-food: No seu webinar no IFSQN, você disse que “o aprendizado nunca deve acabar” e que “deveria ser uma obrigação durante toda a carreira do profissional de Segurança de Alimentos de continuar o seu desenvolvimento profissional”. Como você acompanha novos desenvolvimentos no seu dia a dia e equilibra isso com sua rotina de trabalho?
Tem algumas formas diferentes que eu uso. A maior parte do que eu acompanho vêm de e-mails, newsletters que eu me cadastro para me manter atualizada.
Eu sempre estou participando de webinars. Tento fazer pelo menos um webinar de desevolvimento profissional por semana.
Eu tenho uma inscrição no LinkedIn Learning para me manter atualizada e melhorar como profissional, sempre me qualificando mais.
Coisas simples como acompanhar – quando possível – as auditorias dos meus clientes e interagir com outros auditores, porque aprendo muito com os meus colegas. Temos uma rede de colegas nos quais podemos nos apoiar, se temos qualquer dúvida ou queremos uma opinião diferente sobre algo, sabemos que podemos contar um com o outro.
e-food: Qual você diria que é o principal recurso para quem está começando na área?
Depende. Eles estão trabalhando como um profissional de qualidade em uma empresa de alimentos? Existem vários sites com opção para você se inscrever e receber updates.
No mínimo – dependendo de onde você mora – você deveria receber informações do governo, atualizações sobre recalls e coisas do tipo. É um bom começo.
Se você trabalha como auditor, a empresa que você audita deveria te mandar notícias também. Você também tem a oportunidade de fazer networking com os seus colegas de profissão. Você pode fazer isso trabalhando com qualidade em uma empresa, claro, dado que você tenha contato com outros profissionais da área.
Fora disso, não tem muito mais de graça, a não ser que pertençam a outra empresa ou site, como o fórum do IFSQN, onde você pode entrar e interagir com outros profissionais que respondem suas perguntas e você as deles.
e-food: Como conhecimento, habilidades e atributos funcionam como uma equação para criar o “melhor profissional de segurança de alimentos”?
Se eu puder usar uma analogia: para um banco ser forte, ele precisa de uma boa base. Se você só tem um desses pilares funcionando, seu banco ficará bambo. Tendo esses três itens – o conhecimento, as habilidades e os atributos certos -, isso te fará bem-sucedido.
Tendo uma boa quantidade de conhecimento, as habilidades para implementar esse conhecimento e seus atributos pessoais para ser capaz de entregar esse conhecimento e essas habilidades, é isso que te fará ser bem-sucedido. Não importa realmente em qual área você trabalha ou sequer se você trabalha na indústria de alimentos. Se você é um enfermeiro, um médico, ou trabalha em qualquer área, você precisa desses três itens para ser bem-sucedido. Se você não tem um, faz uma grande diferença. Você precisa dos três pilares para ter um banco firme.
e-food: Falando sobre um plano de carreira, para as pessoas que acabaram de sair da graduação, qual é, na sua opinião, o plano de ação mais efetivo: começar a trabalhar na área e aprender no emprego ou investir em mais educação antes de começar a trabalhar?
Olha, eu definitivamente acho que começar a trabalhar. Na maior parte porque você vai estar fazendo mais que só a parte teórica das coisas. Se você só investe no aprendizado, em mais cursos, mais especializações, você não tem a oportunidade de implementar esse conhecimento que você está adquirindo, de testar as coisas, ver o que funciona e o que não funciona.
Não tem lugar melhor para aprender que em um emprego. Você terá a oportunidade de aprender bem mais rápido e você verá o que funciona ou não. Se você errar, você, eu espero, aprenderá com o seu erro. Esse é um ambiente que permite que você aprenda com seus erros.
Eu definitivamente acredito em, sim, faça seus cursos e gradue-se, e conforme você passa por diferentes níveis da sua carreira, terão diferentes cursos que você terá que fazer, mas pelo menos você poderá aplicar esse conhecimento diretamente no seu trabalho. Implementando, você aprenderá melhor.
e-food: Quais são as diferenças (boas e ruins) de trabalhar para o governo e ter sua empresa de consultoria?
Eu trabalhei para o governo da Austrália por sete anos e acho que uma das maiores razões por trás da minha saída foi que eu precisava de flexibilidade na minha vida. Na época eu tinha uma filha de três anos de idade que tinha um problema médico que consumia grande parte do meu tempo, entre visitas ao hospital e coisas do tipo. Então, eu precisava dessa flexibilidade. O que eu vi no governo é que eles são flexíveis até certo nível, mas você ainda precisava ir trabalhar todos os dias. Quando minha filha ficava doente ou algo do tipo, eu tive que começar a usar folgas não pagas, então começou a ter um impacto no meu pagamento.
Da perspectiva do governo, sim, você tem que vir trabalhar todos os dias. Sim, você tem que estar no lugar X na hora X. Mesmo sendo bom ter aquele salário regular e saber quanto eu receberia no final do mês, esse salário tem um teto. Enquanto quando você trabalha para si mesmo, não há limite no quanto você pode ganhar.
Tendo minha empresa, eu consigo ter um nível de liberdade e flexibilidade, o bastante para cuidar da saúde da minha filha. Quando eu saí do governo, eu tive meu segundo filho. Da perspectiva de uma mãe trabalhadora, me deu oportunidade de estar em casa para os meus filhos quando eles chegam da escola, dos cinco aos dezoito anos. Eu pude vê-los muito mais, participar de eventos na escola, na comunidade etc. Me deu muito mais flexibilidade.
Falando de salário, você definitivamente tem que saber se organizar para saber o que está recebendo. Pode ser que você não receba todo mês, talvez só receba quando concluir um projeto específico. Então, se você tá ok em trabalhar desta forma, acho que a consultoria seria boa para você.
Creio que a consultoria também me deu acesso a bastante variedade. No momento que eu estou, eu posso escolher para quem trabalho – mas mantenha em mente que eu estou fazendo consultoria há 20 anos. Realmente depende da sua vida e dos seus objetivos.
Preciso dizer que com a pandemia do Covid-19 acontecendo, eu estou bem colocada, já que trabalho de casa de qualquer forma. Eu passei 20 anos criando uma vida que me dá a flexibilidade e a oportunidade de trabalhar de onde eu quiser no mundo. Existem outros auditores que não deram essa sorte, porque trabalham ao vivo e não estão podendo ir aos locais para conduzir auditorias. De novo, depende do que você quer da sua vida. Mas eu não voltaria a trabalhar para um chefe ou para o governo porque agora eu tenho a flexibilidade para fazer o que eu quero e não há limites para o quanto eu posso ganhar.
e-food: Você tem uma consultoria de sucesso. Muita gente quer criar sua própria consultoria para aproveitar os benefícios que você citou acima. O que você acha que faz uma consultoria ser bem-sucedida?
Não é fácil! Isso é a primeira coisa que devem se lembrar. Eu trabalhei muito, muito, para tornar meu negócio o que ele é hoje, mas, claro, tem alguns itens a serem riscados…
Se quisermos retomar a conversa do conhecimento, habilidades e atributos de tocar o seu negócio – e isso vale para qualquer negócio – você tem que ter um bom nível de comunicação, tanto escrita quanto verbal, atenção aos detalhes – você não pode “meio” que fazer as coisas, tem que completar o trabalho. É essa atenção aos detalhes que as empresas estão procurando, então você precisa colocar os pingos nos Is em todos os projetos que você faz.
Você precisa ser extremamente organizado. Quando eu comecei, se você puder imaginar, eu tinha uma filha de três anos de idade, um recém-nascido e tentando começar meu negócio. A organização foi extremamente importante. Conforme meus filhos foram crescendo, eu precisei da habilidade de organizar as coisas ao redor deles e de todas as coisas que as crianças fazem depois da escola – basicamente tocando meu negócio e o meu lar.
Tem um monte de outras habilidades que pessoas que procuram começar o seu negócio precisam ter. Ser flexível. Ser multitarefa.
Acredito que quando você olha para as diferenças de alguém que trabalha para uma empresa ou para o governo, é que nesses o seu trabalho é só fazer o seu trabalho. Seja ser um auditor, inspetor, etc. Quando você tem o seu negócio, a sua empresa, você tem outra camada de responsabilidades e habilidades que você precisa ter; você precisa ter a habilidade de tocar uma empresa, como fazer seu imposto de renda, como fazer a contabilidade, como vender seu peixe – como você vai arrumar trabalho? Como você vai se anunciar para conseguir os trabalhos que te darão seu salário? Como você se mantém atualizado?
Você tem que pensar em todos esses fatores quando você tem sua empresa, e isso é fora o seu conhecimento, habilidades e atributos ligados a Segurança de Alimentos. Então, tem muitos fatores a se levar em conta quando você decide criar o seu negócio.
Você definitivamente tem que ter a personalidade certa e a perseverança de não desistir. As coisas podem ficar difíceis, mas não teve um momento nos últimos 20 anos que eu pensei “ai, vou voltar para o meu trabalho antigo”. De novo, isso tudo depende do seus objetivos de vida.
Muita gente me pergunta também isso: “Como eu faço o que você faz?”. Eu acabei de gravar um podcast com uma colega justamente sobre isso e estou criando um portal para ajudar as pessoas a desenvolver essas habilidades que não necessariamente são ligadas a Food Safety. Estou fazendo isso porque algo que me ajudou muito no início foi ter um mentor. Tive um no governo de Food Safety, meu ex-chefe. Foi ele, na verdade, que me incentivou a criar minha empresa e sair do meu trabalho no governo. Ele conseguia ver que eu estava tendo dificuldade em equilibrar meu trabalho com a condição médica da minha filha.
Quando eu comecei com a minha empresa, eu participei de um programa do governo chamado “Women in Business” [Mulheres Empreendedoras] e tive uma mentora lá. Ela me ajudou muito e o programa também, a entender como vender meu trabalho, o quanto cobrar, tudo que vem com ter uma empresa. Então se você tem algo desse tipo onde você mora, use isso.
e-food: A percepção que temos aqui no Brasil é que você primeiro tem que ter um emprego, seja no setor público ou privado, e daí você migra para ter sua empresa de consultoria, porque você tem seus contatos e experiência. Você acha que seria possível ir de só tendo o diploma para ser um consultor ou você tem que ter essa experiência de trabalho?
Eu acho que você precisa da experiência. Pensa se alguém quer usar seu serviço, como você vai colocar credibilidade nisso? Se eu fosse fazer cirurgia no coração, eu não escolheria o médico novo no hospital, eu escolheria o melhor do ramo que está fazendo a cirurgia com sucesso há um tempo.
Acontece bastante das pessoas quererem trabalhar como consultores e cobrar um preço baixíssimo, mas no final o cliente acabar insatisfeito. Isso acontece porque o profissional não sabe o que entregar, porque ele não tem experiência na área. Você definitivamente precisa de experiência, mas você também precisa saber do que está falando (é aqui que o ensino entra). Tem que ter credibilidade atrás do que você faz. Eu não comecei meu negócio quando saí da universidade. Quem ia me levar a sério se eu não tinha nenhuma qualificação ou credibilidade pra justificar meu trabalho?
Outra coisa que pode dificultar é a falta de depoimentos de pessoas que podem atestar que você tem essas habilidades e qualificações. Se você têm elas e não tem quem atestar isso, vai ser bem mais difícil ter sua empresa.
É como qualquer coisa na vida. Como dirigir um carro. Você não sai da autoescola sendo motorista profissional. Você precisa se provar antes.
O HACCP Mentor é uma consultoria de educação e conformidade de Food Safety servindo empresas de alimentos pelo mundo todo. A empresa foi criada com o objetivo de tornar o processo de conformidade simples. Eles fazem isso ajudando a educar todos que manipulam alimentos, empresas de alimentos e a indústria de alimentos sobre os requerimentos da segurança e qualidade dos alimentos.
A principal consultora de Food Safety e especialista em conformidades, Amanda Evans-Lara, tem mais de 25 anos de experiência trabalhando com empresas de alimentos na Austrália e internacionalmente. Uma forte plataforma de habilidades e conhecimento foi construída depois de trabalhar inicialmente por 7 anos como Inspetora de Alimentos para o governo australiano e pelos últimos 20 anos como auditora de Food Safety, educadora e consultora de conformidades. Amanda é uma auditora certificada pela ExemplarGlobal com treinamento local e internacional em Food Safety, regulamentos e requerimentos HACCP.
Saiba mais sobre ela aqui, veja mais sobre suas qualificações aqui e confira a Amanda Evans-Lara no Linkedin.