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Tudo que rolou no 1º Fórum Portal e-food: O novo normal das consultorias

Conversamos com especialistas da indústria e das consultorias para entender melhor os desafios que vamos encarar e qual é a maneira mais eficiente de encará-los.

No dia 3 de junho foi realizado o primeiro Fórum do Portal e-food com o tema “O novo normal das consultorias”. O evento lotou após poucos minutos de divulgação, então, se você não pôde participar, acompanhe o resumo de tudo que aconteceu neste post, desde as dúvidas que todos estão tendo, às dicas das cinco especialistas que participaram da mesa redonda: Camila Miret, da Especia ConsultoriaJana Moraes, da JM Comunicação & CoachingJuliani Arimura, da DNV GLMárcia Panucci, da Coca-Cola Brasil e Lígia Fonseca, da R&D Mars. Na mediação, tivemos as duas curadoras do Portal e-food, Natalia Lima, também consultora e professora da S2G Soluções, e Luciana Salles, da MQ Consultoria.

O tema do Fórum, “O novo normal das consultorias”, surgiu das conversas entre os profissionais: “Vou esperar tudo voltar ao normal”, “Quando as coisas voltarem ao normal a gente vê”, etc. Quanto mais tempo passa, mais percebe-se que as coisas não voltarão ao “normal”. Ao invés, teremos que, juntos construir um novo normal, que acomode as necessidades da indústria e a segurança de todos.

O “antigo normal” eram as auditorias presenciais, treinamentos e aulas; uma intensa agenda de viagens; uma curva de sazonalidade de contratos e uma demanda com logística, muitas vezes de alto custo. Mas como seria esse “novo normal”? Debater isso foi o objetivo principal do Fórum, capturando os diferentes pontos de vista das nossas participantes. Não tivemos a pretensão de encerrar o assunto com o modelo a ser alcançado no futuro, pois não há certezas, o intuito foi o de discutir juntos mudanças no jeito de fazer as coisas considerando as percepções dos envolvidos e a dinâmica atual do mercado de alimentos.

Já sabemos que as restrições quanto às aglomerações serão mantidas, mesmo quando não houver mais quarentena total, assim como a disponibilidade de voos não será abrangente. Tanto os clientes, quanto as consultorias estão financeiramente abalados, e há uma preocupação geral com as condições de saúde. Enquanto isso, há também um aumento na competitividade nas prestações de serviço, já que temos muitos profissionais desempregados e recém-formados.

Luciana Salles ressalta um estudo da Dentsu Aegis Network, realizado em março/2020, que explica as fases da pandemia:

 

No momento, ainda não chegamos na fase 4 e as consultorias estão tendo que se adaptar à rotina remota e ao home office. Dependendo da relação com o cliente, essa rotina pode ser mais ou menos difícil:

– Quando temos um cliente que já conhecemos e já conhecemos a fábrica, fica um pouco mais fácil de lidar agora com ele na forma online, mas quando o cliente é novo, é mais complicado. Como vou conhecer o processo dele? – questiona Camila Miret, da Especia Consultoria.

De maneira prática, algumas empresas estão adotando as vídeo chamadas como uma solução para esse questionamento, mas temos que notar que deve haver cuidado quanto à confidencialidade de informações. Por outro lado, muitas empresas não permitem o uso de câmeras, celulares, notebooks, etc., nas linhas de produção, seja por segurança quanto ao processo, quanto por proteção da propriedade intelectual deste cliente. Essas empresas vão ter que flexibilizar essas regras para acomodar as auditorias remotas.

Já do lado dos consultores, os contratos de confidencialidade precisarão se tornar mais rebuscados, incluindo uma proteção aos dados do cliente e, se possível, uma encriptação de ponta a ponta. “O pessoal do T.I. vai ter muito trabalho para manter a integridade e a segurança de ambas as partes”, comenta Camila.

Após alguns meses de distanciamento social, já pudemos notar que não teremos como fugir do trabalho à distância, mas isso cria uma preocupação nos consultores que temem a desvalorização do trabalho. “Será que o cliente vai ficar desconfortável com essa forma de atuação?”, pergunta Luciana, direcionando a questão para Márcia Panucci, da Coca-Cola Brasil:

– Estamos aprendendo juntos que essa é a única condição agora e por um bom tempo. Vamos ter que desenvolver novos protocolos que nem imaginávamos antes – responde Márcia.

Márcia chama atenção ao fato de que é importante que o prestador de serviço crie essa relação de confiança e de valor. Entender a necessidade do cliente, as dores dele e prover uma relação de parceria mais humanizada dos dois lados. Para Márcia, o trabalho à distância não vai ter a mesma qualidade, nem atender as necessidades que atendia antes, então isso vai enfraquecer a relação entre a empresa e o consultor. O que vai segurar as parcerias, no final do dia, será a qualidade da prestação de serviço e a confiança.

Para Juliani Arimura, da DNV GL, em algumas situações a obrigação de fazer o trabalho remoto foi, de certa forma, um ponto positivo para os consultores, já que muitos clientes insistiam na presença, mesmo quando era dispensável, seja para fazer um follow-up ou simplesmente negociar um contrato e ter que “apertar a mão”.

– Vamos trabalhar de maneira híbrida daqui pra frente, aproveitando o melhor da parte remota, mas em alguns momentos ainda teremos que estar presentes. – diz Juliani. – Quando eu fazia auditoria, eu sabia que o lugar estava sujo pelo odor, mesmo se parecesse estar todo limpo, ou então eu detectava indícios de um problema de gestão quando ouvia um funcionário falando com o outro. Perdemos essa parte sensitiva no remoto, mas creio que podemos equilibrar.

A DNV GL tem uma ferramenta na qual o auditor consegue controlar a tela do celular do cliente – ampliar, reduzir, congelar, marcar algo. Mas esse tipo de iniciativa não depende de só um lado, afinal tem cliente que nem internet tem na produção. No final das contas, Juliani acredita que estamos vivendo um momento bom no sentido dos aprendizados e da quebra de paradigmas.

É necessário levar para o cliente os benefícios desse trabalho à distância, porque, para muitos, se você não estiver lá no local, ele está pagando por um serviço sem entrega. Os consultores devem deixar de maneira clara os benefícios do trabalho remoto ou híbrido: a economia de recursos financeiros e de tempo, por exemplo.

Mas há efetividade na auditoria remota?

Para Lígia Fonseca, da Mars, a resposta é mais complexa do que sim ou não. Como indústria, ainda há muito a se fazer para avançar nesse cenário. Estar na fábrica, interagindo e observando o ambiente, faz parte do protocolo da auditoria. A discussão de como transportar isso para o trabalho remoto de forma mais eficiente está acontecendo o tempo todo na Mars, assim como na maior parte das empresas. De fato, como apontado por Juliani, vamos perder a questão do olfato e dos entreouvidos, mas é melhor do que nada.

Pensando em sistema de gestão e em como conduzir as auditorias, não há uma grande dificuldade em fazer isso virtualmente. “Para nós, o mais complicado está sendo decidir qual é o melhor protocolo para as fábricas”, explica Lígia. A tendência, ela confirma, é realmente o trabalho híbrido.

Quando o tópico é se adaptar a comunicação à distância, Jana Moraes, da JM Comunicação & Coaching, tem algumas dicas valiosas para todos que estão passando por essa transição:

  1. Tudo comunica, incluindo seu fundo e a roupa que você está usando.
  2. Não é necessário investir em equipamentos caros se não há necessidade – use o que você já tem. Fone com microfone melhora o seu áudio tremendamente, uma luminária bem posicionada já (pode) substituir uma ring light.
  3. Preocupe-se com a sua internet. Cobre pelo que está pagando, mas tenha paciência, com a sua e com a de quem você está falando, afinal agora estamos todos conectados ao mesmo tempo e a conexão há de ficar instável.
  4. Tente montar um roteiro com a pessoa que vai te guiar na câmera durante as auditorias. Inclua as orientações no seu planejamento (quando ela deve parar, como posicionar a câmera para enxergar melhor os detalhes, etc).
  5. Tenha uma cadeira confortável.

Para Jana, é importante continuar sendo você mesmo, entender que você não precisa mudar sua postura, porque a grande diferença é que agora o olho do seu cliente é a sua câmera. Pode parecer estranho no início, mas quando você entende isso, você muda sua relação com essa câmera.

– Ninguém teve tempo de se preparar para o que estamos passando. Todas as pessoas de todas as profissões estão passando pela mesma angústia. Agora ou você trabalha online, ou você não trabalha. – diz Jana.

Em uma combinação de desempregados pela crise pandêmica e muitos recém-formados, há um grande grupo novo de concorrentes no mercado de consultoria, mesmo que seja temporário. “Estou vendo muitas pessoas que querem desenvolver seu conhecimento, indo para áreas completamente diferentes, investindo em comunicação, se descobrindo e descobrindo outras maneiras de trabalhar”, comenta Camila Miret. O aumento da concorrência é natural.

Márcia Panucci traz duas reflexões no tópico da concorrência:

– A relação de trabalho está mudando e hoje vivemos em um mundo no qual a interdependência é clara. Se não trabalharmos em rede, não nos sustentamos. – Ela ressalta o papel de redes como o e-food. – E qual é o papel da consultoria hoje? Inclusive, devíamos mudar esse nome, porque é um rótulo ultrapassado. O papel é ser um parceiro de negócios que está ali para me apoiar e me ajudar a atingir meus objetivos. A auditoria é um processo para identificar riscos, para podermos eliminá-los ou mitigá-los. Qual é o impacto que estamos causando nos nossos clientes e no mundo? Só vamos sobreviver se trabalharmos em rede, como a que temos aqui hoje. E como vamos nos reinventar?

Juliani, da DNV GL, adiciona:

– Já vivi momentos de crise nos quais faltavam consultores e nos quais surgiram muitos consultores novos. O que eu aprendi foi: os bons ficam.

Juliani ressalta a importância de demonstrar seu valor e seu diferencial. “O serviço da minha empresa nunca é o mais barato do mercado, então quando eu estou falando com o cliente, eu pergunto para ele ‘O seu produto é o mais barato do mercado? Não, né? E você sabe por que, né? Eu também sei’.”

Natália acrescentou que precisamos ter cautela quanto a não desvalorização da remuneração na prestação do serviço remoto, pois a condição não presencial não está relacionada com a entrega do expertise do profissional e das suas horas de dedicação, apenas uma mudança do formato. Acredita pelo contrário a demanda remota vai exigir mais qualidade e jeito de mostrar o trabalho bem feito.

Luciana adiciona um pouco da sua experiência pessoal, afirmando a importância de trabalhar ajudando outros profissionais e construir uma rede. Muitas vezes, aparecerão pessoas no nosso caminho que não têm a experiência necessária para serem consultores, mas têm outras qualidades únicas e incríveis, e essas pessoas podem ser nossos parceiros. Parceiros que você possa confiar, desenvolver e contribuir juntos.

– Recebo muitos contatos de pessoas que me perguntam “como eu trabalho como consultor?” quando a pessoa não sabe nem qual é o produto dela. Eu tive o presente de ter alguém no início da minha carreira que me falou “pense em seu conhecimento como se fossem caixinhas”. Foi a Mariana Azevedo, da Coca-Cola, a quem sou eternamente grata. Ela disse: “pegue o seu conhecimento e coloque numa gôndola de supermercado”. Aquilo transformou a minha visão de consultoria e me fez montar meus produtos. Então, da mesma forma que eu tive a sorte de ter alguém na minha vida que me deu esse conselho, nós também, como profissionais experientes, devemos cultivar isso nos profissionais mais novos. Apesar de trabalharmos como profissionais autônomos, como seres humanos, precisamos disso. Como vimos lá no início, a fase 4 da pandemia é de um pensamento menos individualista, então vamos construir uma rede de relacionamentos que vai se ajudar.

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