Centenas de profissionais da área de segurança de alimentos de todo o mundo se reuniram entre os dias 31 de março e 3 de abril na Conferência GFSI 2025, realizada em Dublin. Em palestras, painéis e bate-papos, líderes da indústria destacaram a necessidade urgente de modernizar as práticas de segurança de alimentos para acompanhar o ritmo de uma cadeia de suprimentos global cada vez mais complexa, atender às novas exigências regulatórias e cumprir a promessa de fornecer alimentos seguros aos consumidores.
No primeiro dia, foram lançadas as bases para discussões cruciais sobre o futuro da segurança de alimentos. As sessões destacaram a conexão essencial entre food safety e sustentabilidade, além do potencial transformador da aplicação de novas tecnologias no setor.
Sean Summers, CEO da Pick n Pay, destacou em um dos painéis que a segurança dos alimentos é uma área de não concorrência, com o consumidor sendo a prioridade máxima. “Do ponto de vista do varejo, isso está realmente no coração do que fazemos: fornecer alimentos com segurança aos nossos consumidores, em todas as nossas redes de lojas, onde quer que estejamos no mundo”, afirmou o executivo.
Uma sessão especial organizada pela Ecolab destacou o impacto significativo dos surtos de doenças transmitidas por alimentos, com foco especial na Listeria. A discussão reforçou a responsabilidade coletiva do setor em alavancar insights baseados em dados, aprimorar práticas de saneamento e aprender com ocorrências passadas para restaurar e manter a confiança do consumidor.
Inovação organizacional e tecnologias emergentes
Lisa Kiribathgoda, Gerente de Marketing da MSD Animal Health, apresentou tecnologias como a rastreabilidade científica por DNA na origem das cadeias de suprimento de carne — especialmente no setor de carne suína irlandesa — como formas de aumentar a transparência, garantir a verificação dos produtos e promover maior confiança ao longo da cadeia de valor.
Outro destaque foi a apresentação da jornada da Nestlé na implementação de um sistema HACCP digital, em parceria com a Veeva Systems. A iniciativa visa aumentar a eficiência, reduzir erros associados a processos manuais e melhorar a conformidade regulatória por meio de uma abordagem tecnológica acessível. A Rentokil também apresentou uma perspectiva forense sobre o uso de tecnologias inovadoras, como ferramentas orientadas por inteligência artificial, e demonstrou como estão sendo aplicadas para minimizar riscos e elevar os padrões de segurança dos alimentos.
O poder dos dados e da transformação digital
Com participação de representantes da McCormick & Company, Mars, Inc. e Nestlé, a sessão plenária do segundo dia — “Digitalização em Segurança de Alimentos” — explorou os avanços mais recentes na integração tecnológica e suas aplicações práticas. Os painelistas explicaram que a digitalização vai além da simples substituição de papel por sistemas digitais: trata-se de usar conectividade de dados, sensores e sinais para gerenciar proativamente a segurança e a qualidade dos alimentos em todo o processo produtivo. Eles também destacaram a importância do planejamento estratégico e do alinhamento regulatório.
“Estamos realmente tentando tornar tudo centrado no operador, porque, no fim das contas, a segurança dos alimentos é sobre as pessoas. Se todas essas ferramentas não estiverem ali para apoiar quem está produzindo comida todos os dias, estamos perdendo o propósito. Essa abordagem centrada no operador é essencial para o que estamos tentando fazer”, disse Olivier Mignot, Vice-Presidente Global de Gestão da Qualidade da Nestlé.
A sessão “The Nexus of Food Safety and Plastics” abordou os cenários científicos e regulatórios sobre contaminantes químicos na produção e embalagem de alimentos em papel e plástico, com foco especial nas substâncias perfluoroalquil e polifluoroalquil (PFAs), consideradas uma preocupação urgente devido ao seu potencial de migração para os alimentos. Mark Roberts, Diretor de Sustentabilidade e Economia Circular da Berry, destacou os desafios na produção de polipropileno reciclado para contato com alimentos, enfatizando a necessidade de triagem rigorosa, descontaminação eficaz e diretrizes regulatórias claras para garantir segurança e conformidade.
“Se você quer ter plásticos reciclados usados em aplicações alimentares, primeiro precisa de uma embalagem de plástico virgem bem projetada”, completou Cédric Dever, Diretor de Sustentabilidade da Consumer Goods Forum.
Um futuro mais seguro e transparente
No último dia da GFSI 2025, Donald Prater, da Food and Drug Administration (FDA) dos EUA, apresentou uma visão poderosa de uma nova era na segurança de alimentos, impulsionada por dados, inteligência artificial e sequenciamento genômico completo.
“O aprendizado de máquina está dobrando a eficiência da previsão de riscos, permitindo que identifiquemos ameaças potenciais com precisão sem precedentes. Não se trata apenas de listas de verificação, mas de nos equiparmos com ferramentas capazes de ‘encontrar a agulha no palheiro’ e conectar os pontos como nunca antes, garantindo um futuro alimentar mais seguro para todos”, afirmou Prater.
As sessões finais — “Riscos Emergentes” e “Gerenciamento de Alérgenos” — reforçaram a necessidade de estar à frente das ameaças futuras. Foram debatidas questões como resistência antimicrobiana, rotulagem clara e comunicação eficaz sobre alérgenos. A mensagem principal foi unânime: é hora de elevar as estratégias de risco e colocar a ciência e a transparência a serviço do consumidor.
A edição de 2026 da Conferência será realizada em Vancouver, no Canadá. Para mais informações, acompanhe o site do evento.