Introdução
A palma forrageira (Opuntia ficus-indica) é uma planta nativa do México e pertence à família Cactaceae. Apresenta fácil cultivo em regiões áridas e semiáridas e é possível aproveitá-la integralmente, o que a torna uma excelente fonte de renda para pequenos agricultores. Seus frutos podem ser consumidos crus ou processados (Giraldo-Silva et al., 2023).
O fruto da Palma Forrageira (Figura 1), também conhecido como Figo-da-Índia, é uma baga ovoide de coloração amarela, alaranjada, roxa ou vermelha, apresentam cerca de 5 a 10 cm de comprimento, 8 a 10 cm de largura e sua polpa possui textura gelatinosa, doce e suculenta (Oliveira et al., 2022).
Figura 1. Frutos da Palma Forrageira.
Fonte: Revista Jardins, 2024.
Composição química dos frutos da Palma
Os frutos são ricos em vitamina C, B1, B2, A e E, e minerais como cálcio, potássio, magnésio, ferro e fósforo. Seu perfil lipídico é composto mais de 60% por ácidos graxos poli-insaturados e mais de 10% por ácidos graxos monoinsaturados. Além disso, possui compostos bioativos como carotenoides, betalaínas, ácidos orgânicos, tocoferóis e outros compostos fenólicos (Melgar et al., 2017; Oniszczuk et al., 2020; Giraldo-Silva et al., 2023).
Os carotenoides são pigmentos naturais presentes nos vegetais. Seu principal benefício à saúde está associado à sua ação antioxidante. Benefícios à saúde ocular, cardiovascular, função cognitiva e prevenção de alguns tipos de câncer também estão associados aos carotenoides, que não podem ser sintetizados pelo organismo humano e precisam ser consumidos através de alimentos ou suplementos (Eggersdorfer; Wyss, 2018). As betalaínas são as principais responsáveis pela coloração do fruto da Palma Forrageira (Melgar et al., 2017). Apresentam ação antioxidante, antitumoral, anti-inflamatória, hepatoprotetora, antimicrobiana, antidiabética e antilipidêmica (Carreón-Hidalgo et al., 2022).
Entre os ácidos orgânicos presentes no fruto da Palma Forrageira, o que se encontra em maior quantidade é o ácido succínico, que possui atividade antimicrobiana (Melgar et al., 2017). Os ácidos orgânicos possuem ação anticoagulante, anti-inflamatória e antioxidante, promovendo a perda de peso e prevenindo a dislipidemia, hipertensão, aterosclerose e diabetes (Izquierdo-Vega et al., 2020).
Entre os tocoferóis, o α-tocoferol predomina nos frutos da Palma e influencia positivamente a atividade antimicrobiana do fruto (Melgar et al., 2017). Os tocoferóis são um dos antioxidantes lipossolúveis mais importantes nos alimentos e possuem a capacidade de prevenir a oxidação, alguns tipos de câncer, doenças cardiovasculares e diabetes (Shahidi; de Camargo, 2016). Os compostos fenólicos estão associados ao tratamento de doenças como hipertensão e outras doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, infecções e doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer. Previnem diversos tipos de câncer, possuem ação anti-inflamatória, antibacteriana, antiviral, antialérgica e antioxidante (Rahman et al., 2021).
Fruto da Palma Forrageira e sua relação com a saúde
Estudos têm sido realizados com o fruto da Palma forrageira avaliando, principalmente, seu conteúdo de compostos fenólicos, atividade antioxidante e atividade antimicrobiana. Os resultados dessas pesquisas têm demonstrado o potencial dos compostos presentes no fruto, o qual pode ser utilizado tanto na indústria de alimentos como farmacêutica. De acordo com Gouws et al. (2019), o cladódio da palma forrageira tem demonstrado efeitos no controle do diabetes tipo 2, mas poucos estudos têm sido realizados para demonstrar o efeito do fruto sobre a glicemia, principalmente no que se refere a influência de suas fibras.
Oniszczuk et al. (2020) encontraram no fruto da Palma Forrageira, alto potencial antioxidante, com eliminação de radicais livres DPPH igual a 99,78%. Além disso, os autores identificaram no fruto 14 ácidos fenólicos, sendo o mais abundante o isoferúlico. O teor total de ácidos fenólicos livres encontrado pelos autores foi de 57,957 μg/g de matéria seca.
Aruwa, Amoo e Kudanga (2019), obtiveram extratos da polpa e casca, liofilizadas e desidratadas em estufas (45 °C/24 h), seguido de extração por quatro diferentes métodos (etanol, metanol, água e hexano). Ao final, foram obtidos 16 diferentes extratos e o maior conteúdo de compostos fenólicos totais foi encontrado no extrato obtido utilizando etanol na casca desidratada em estufa, que foi de 17,69 mg AGE/g. A atividade antioxidante foi avaliada pelos métodos DPPH e FRAP, sendo a maior atividade encontrada no extrato obtido por extração com hexano na casca desidratada em estufa, 15,59 EC50, mg/mL (DPPH) e 192,49, μmol Fe (II)/g (FRAP). Maior atividade antibacteriana foi encontrada nos extratos de etanol e metanol obtidos da casca liofilizada ou desidratada em estufa, com maior atividade antibacteriana sob bactérias Gram-positivas. De acordo com as conclusões deste estudo, os extratos obtidos das cascas apresentaram maior bioatividade in vitro, do que os extratos obtidos da polpa. Ainda assim, segundo os autores, tanto a casca quanto a polpa possuem potencial nutracêutico para aplicação tanto na indústria alimentícia quanto farmacêutica.
Melgar et al. (2017) avaliaram a atividade antimicrobiana do fruto da Palma Forrageira frente a diversas bactérias e fungos. Os resultados foram comparados com a atividade antibacteriana de ampicilina e estreptomicina, e antifúngica de cetoconazol e bifonazol, usados como antibióticos comerciais. O fruto da Palma apresentou atividade inibitória, bactericida e fungicida para as bactérias: Bacillus cereus, Micrococcus flavus, Staphylococcus aureus, Listeria monocytogenes, Escherichia coli, Enterobacter cloacae, Pseudomonas aeruginosa e Salmonella typhimurium e fungos: Aspergillus fumigatus, Aspergillus versicolor, Aspergillus ochraceus, Aspergillus niger, Trichoderma viride, Penicillium funiculosum, Penicillium ochrochloron e Penicillium verrucosum var. cyclopium, testados no estudo.
Ainda segundo esses autores, frente às bactérias, o fruto da Palma forrageira apresentou concentração inibitória mínima e concentração bactericida mínima, menores que as dos antibióticos comerciais avaliados, exceto para Staphylococcus aureus, quando avaliado frente à estreptomicina. Frente aos fungos Trichoderma viride e Penicillium ochrochloron, o fruto apresentou concentração inibitória mínima e concentração fungicida mínima, menores que as dos dois antibióticos comerciais avaliados. Para Aspergillus ochraceus, o fruto da Palma apresentou concentração inibitória mínima e concentração fungicida mínima menores, frente ao antibiótico cetoconazol.
Esses estudos evidenciam o potencial bioativo do fruto da Palma Forrageira. Muitos estudos também têm sido realizados avaliando a atividade biológica de extratos vegetais do fruto, mas são escassos os trabalhos que avaliam a atividade biológica de compostos isolados e purificados desse fruto, que merece maior atenção devido os diversos potenciais benefícios à saúde (Giraldo-Silva et al., 2023).
Aplicação na indústria de alimentos
Os compostos presentes no fruto da Palma Forrageira podem ser usados na indústria de alimentos como potenciais aditivos naturais, substituindo os sintéticos e contribuindo para a conservação dos alimentos, além de proporcionar benefícios à saúde do consumidor. Assim, eles podem ser utilizados como antimicrobianos naturais, reguladores de acidez (ácido succínico), antioxidantes lipossolúveis (tocoferóis), antioxidantes hidrossolúveis (betalaínas e ácido ascórbico) e corantes naturais (betacianinas/betaxantinas) (Melgar et al., 2017). Além disso, os frutos também podem ser utilizados em diferentes produtos alimentícios (Quadro 1).
Quadro 1. Diferentes formas de consumo dos frutos da Palma Forrageira.
Produto |
Pontos principais | Referência |
Pó | Figo-da-índia em pó acondicionado em embalagens laminadas durante 100 dias de armazenamento para caracterização (teor de água, atividade de água, acidez total titulável, açúcares redutores e cor). |
De Lisbôa; De Figueirêdo; Queiroz (2012) |
Geleia tradicional e diet |
Desenvolvimento e caracterização físico- química e sensorial de geleia tradicional e geleia diet de palma forrageira. O produto foi elaborado com diferentes concentrações de açúcar e a partir da formulação mais aceita (50% de palma e 50% de açúcar) foi desenvolvida a versão dietética, com uso da associação dos edulcorantes ciclamato de sódio e sacarina sódica, do agente de massa polidextrose e do texturizante goma xantana. | Carvalho (2015) |
Geleia |
Produto foi elaborado com diferentes açúcares (cristal, demerara e mascavo) e utilizou-se a proporção 50:50 (figo-da-índia:açúcar). | Medeiros (2018) |
Gelatinas de iogurte e iogurte grego | Foram desenvolvidas: a) gelatina de iogurte 0 % de matéria gorda com 5 % de polpa de figo-da-índia e aroma de manga; b) gelatina de iogurte 0 % de matéria gorda com 2,5 % de polpa de figo-da-índia e preparado de ananás maracujá; c) iogurte tipo grego bicamada com 8 % de polpa de figo-da- índia; d) iogurte tipo grego batido com 8 % de polpa de figo-da-índia. |
Pedro (2018) |
Iogurte desnatado | A geleia de figo da índia foi elaborada e em seguida, adicionada no iogurte desnatado. |
Silva et al. (2021) |
Barras de
cereais e biscoitos |
Foram avaliados a aceitabilidade, qualidade
global e nutricional de barras de cereais e biscoitos com diferentes concentrações de figo-da-índia amarelo e vermelho. |
Macedo (2022) |
Considerações finais
O fruto da Palma tem apresentado alta bioatividade, principalmente ação antioxidante e antimicrobiana, demonstrando, frente algumas bactérias e fungos, possuir maior desempenho inibitório e microbicida do que alguns antibióticos comerciais. O fruto possui diversos compostos, que de forma isolada, são de interesse das indústrias alimentícias e farmacêuticas, os quais merecem ser mais estudados e explorados. Além disso, mais estudos precisam ser realizados para verificar os impactos do fruto da Palma Forrageira e seus extratos sobre algumas doenças crônicas, como o diabetes.
REFERÊNCIAS
- ARUWA, C. E.; AMOO, S.; KUDANGA, T. Phenolic compound profile and biological activities of Southern African Opuntia ficus-indica fruit pulp and peels. LWT-Food Science and Technology, v. 111, p. 337-344, 2019.
- CARVALHO, M. S. Desenvolvimento e caracterização físico-química e sensorial de geléia tradicional e geléia diet de palma forrageira (Nopalea Cochenillifera). 2015. 62f. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2015.
- CARREÓN-HIDALGO, J. P.; FRANCO-VÁSQUEZ, D. C.; GÓMEZ-LINTON, D. R.; PÉREZ-FLORES, L. J. Betalain plant sources, biosynthesis, extraction, stability enhancement methods, bioactivity, and applications. Food Research International, v. 151, p. 110821, 2022.
- EGGERSDORFER, M.; WYSS, A. Carotenoids in human nutrition and health. Archives of Biochemistry and Biophysics, v. 652, p. 18-26, 2018.
- GIRALDO-SILVA, L.; FERREIRA, B.; ROSA, E.; DIAS, A. C. P. Opuntia ficus-indica fruit: A systematic review of its phytochemicals and pharmacological activities. Plants, v. 12, n. 3, p. 543, 2023.
- GOUWS, C. A.; GEORGOUSOPOULOU, E. N.; MELLOR, D. D.; MCKUNE, A.; NAUMOVSKI, N. Effects of the consumption of prickly pear cacti (Opuntia spp.) and its products on blood glucose levels and insulin: A systematic review. Medicina, v. 55, n. 5, p. 138, 2019.
- IZQUIERDO-VEGA, J. A.; ARTEAGA-BADILLO, D. A.; SÁNCHEZ-GUTIÉRREZ, M.; MORALES-GONZÁLEZ, J. A.; VARGAS-MENDOZA, N.; GÓMEZ-ALDAPA, C. A.; CASTRO-ROSAS, J.; DELGADO-OLIVARES, L.; MADRIGAL-BUJAIDAR, E.; MADRIGAL-SANTILLÁN, E. Organic acids from Roselle (Hibiscus sabdariffa L.) – A brief review of its pharmacological effects. Biomedicines, v. 8, n. 5, p. 100, 2020.
- MELGAR, B.; PEREIRA, E.; OLIVEIRA, M. B. P. P.; GARCIA-CASTELLO, E. M.; RODRIGUEZ-LOPEZ, A. D.; SOKOVIC, M.; BARROS, L.; FERREIRA, I. C. F. R. Extensive profiling of three varieties of Opuntia spp. fruit for innovative food ingredients. Food Research International, v. 101, p. 259-265, 2017.
- ONISZCZUK, A.; WÓJTOWICZ, A.; ONISZCZUK, T.; MATWIJCZUK, A.; DIB, A.; MARKUT-MIOTŁA, E. Opuntia fruits as food enriching ingredient, the first step towards new functional food products. Molecules, v. 25, n. 4, p. 916, 2020.
- RAHMAN, Md M.; RAHAMAN, Md S.; ISLAM, Md R.; RAHMAN, F.; MITHI, F. M.; ALQAHTANI, T.; ALMIKHLAFI, M. A.; ALGHAMDI, S. Q.; ALRUWAILI, A. S.; HOSSAIN, Md S.; AHMED, M.; DAS, R.; EMRAN, T. B.; UDDIN, Md S. Role of phenolic compounds in human disease: current knowledge and future prospects. Molecules, v. 27, n. 1, p. 233, 2021.
- REVISTA JARDINS. Método biológico do figo-da-índia. Disponível em: https://revistajardins.pt/metodo-biologico-do-figo-da-india/\. Acesso em: 26 nov. 2024.
- SILVA, B. M.; TROMBETE, F. M.; CARLOS, L. DE A.; KOBORI, C. N.; VILELA JUNIOR, E. T.; DA SILVA, W. A.; UBALDO, J. C. S. R. Elaboração e caracterização de iogurte desnatado saborizado com geleia de figo da índia Nopalea cochenillifera (L.) Salm-Dyck. HOLOS, v.1, p.1-16, 2021.
- SHAHIDI, F.; DE CAMARGO, A C. Tocopherols and tocotrienols in common and emerging dietary sources: Occurrence, applications, and health benefits. International Journal of Molecular Sciences, v. 17, n. 10, p. 1745, 2016.
- DE LISBÔA, C. G. C; DE FIGUEIRÊDO, R. M. F.; QUEIROZ, A. J. M. Armazenamento de figo-da-índia em pó. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 16, p. 216-221, 2012.
- MEDEIROS, C. F. Elaboração de geleia de fruto de palma (figo-da-índia) com diferentes açúcares. 2017. Monografia (Curso de Graduação em Nutrição), Centro de Educação e Saúde, Universidade Federal de Campina Grande, Cuité – Paraíba. 2017.
- MACEDO, E. H. R. S. G. Desenvolvimento de novos produtos com base no figo-da-índia. 2022. 92f. Dissertação (Pós-Graduação em Tecnologia e Segurança Alimentar), Universidade NOVA de Lisboa.
- OLIVEIRA, L. D. P., CASTRICINI, A., MARTINELI, M., OLIVEIRA, P. M. de. Caracterização de frutos de diferentes espécies de Palma Forrageira. Brazilian Journal of Development, v. 8, 68433–68439, 2022.
- PEDRO, S.I. Desenvolvimento de iogurtes com polpa de figo-da-índia. 2018. 83 f. Dissertação (Mestrado em Inovação e Qualidade na produção Alimentar) – Instituto Politécnico de Castelo Branco, Portugal.