Produtos alimentícios inovadores contendo novos ingredientes estão sendo idealizados para satisfazer as necessidades nutricionais e as novas tendências de consumo. Dessa forma, diferentes espécies vegetais, denominadas plantas alimentícias não convencionais (PANCs), estão sendo estudadas na literatura. Neste sentido, o Brasil que possui uma das maiores biodiversidades do mundo, é detentor de diversas plantas que possuem uma ou mais partes que podem ser utilizadas como alimento (Leal et al., 2018).
A utilização de PANCs pela indústria alimentícia ainda é limitada devido à falta de conhecimento científico sobre as características dessas plantas (Milião et al., 2022). Entretanto, elas podem contribuir no desenvolvimento de novos produtos alimentícios como a produção de farinhas, pães, bolos, sobremesas, geleias, sorvetes, bebidas, dentre outros, através do enriquecimento do perfil nutricional e aspectos sensoriais.
Ora-pro-nóbis (OPN) é uma trepadeira da família Cactaceae que tem alto teor de proteínas, e por isso, é popularmente identificada como “carne de pobre” no interior do Brasil. O teor proteico se deve principalmente à mucilagem e às proteínas de alta digestibilidade, perfazendo cerca de 25% de proteína, quantidade superior à encontrada em alimentos básicos como repolho (1,6%), alface (1,3%), milho (7,6 – 10%) e feijão (18 – 20%), em base seca (Silva et al., 2019).
A OPN pode ser consumida crua, cozida ou como ingrediente em produtos alimentícios. É uma espécie favorável na área da tecnologia de alimentos, para a idealização de novos produtos, capaz de ser utilizada para repercutir a demanda do mercado por alimentos funcionais (Biondo et al., 2018; Oliveira et al., 2019). Além disso, ela se torna uma alternativa de baixo custo para suplementar a ingestão de proteínas e, por possuir alta concentração de ferro, pode ser uma opção adicional no combate à deficiência de ferro (Oliveira & Naozuka, 2021).
O desenvolvimento de produtos enriquecidos com a OPN é pouco explorado, mas possui grande potencial para ser aproveitado pela indústria, devido ao seu alto teor nutricional. No Quadro 1, encontram-se produtos alimentícios com OPN encontrados na literatura.
QUADRO 1 – Desenvolvimento de produtos contendo ora-pro-nóbis (OPN)
Foi possível observar que a OPN realmente possui alto teor de proteínas, fibras, ferro, vitaminas e outros minerais, demonstrando-se uma excelente fonte para o enriquecimento nutricional de diversos produtos alimentícios, propiciando sua utilização em bebidas, pães, bolos e diversos produtos. Além disto, a mucilagem da OPN pode substituir ovos nas preparações alimentícias (Almeida & Corrêa, 2012), o que é especialmente interessante para consumidores com alergias alimentares ou restrições alimentares. Sua aplicação em formulações alimentícias pode proporcionar benefícios nutricionais, sensoriais e de textura, atendendo às demandas do mercado. Vale ressaltar que são necessários mais estudos sobre OPN, uma vez que a comunidade científica ainda precisa ampliar seu conhecimento sobre a composição química e as propriedades biológicas e/ou tecnofuncionais dessas plantas, a fim de permitir a sua utilização como fontes de nutrientes em escala industrial.
A promoção do cultivo, da comercialização e do desenvolvimento de novos produtos é necessária para que essa fonte de nutrientes de baixo custo seja acessível a toda população, especialmente a pessoas que se encontram com deficiência nutricional ou em insegurança alimentar (Oliveira & Naozuka, 2021). O desenvolvimento de alimentos provenientes de fontes sustentáveis é uma estratégia para atender às novas tendências de consumo e demandas nutricionais da população. A busca por fontes alimentares não convencionais de origem vegetal tem alto potencial de expansão da cadeia alimentar e com menor impacto ao meio ambiente.
Referências
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