A produção sustentável preconiza a preservação dos recursos naturais, ou seja, que a matéria prima seja utilizada de forma racional, bem como a prorrogação da vida dos produtos (ciclo de vida), de forma que os mesmos possam ser reinseridos em novas cadeias produtivas, promovendo assim uma economia circular.
Para o cultivo de alimentos são essenciais o uso do solo e da água, por exemplo, que com o passar dos anos vêm sendo degradados por atividades humanas irresponsáveis. Atividades essas que são utilizadas como justificativas para suprir a demanda do crescimento populacional, juntamente com a crescente fome mundial. Porém, sabe-se que a problemática da fome no mundo não é pela falta de alimentos (Silva et al., 2015), mas sim pela má distribuição equitativa dos alimentos, principalmente para as populações mais pobres. Populações essas que estão em uma constante insegurança alimentar (Silva et al., 2015).
Em 2015, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), que visam atingir diversas metas que envolvem união entre homem, natureza, economia e educação, e com perspectivas que unem pessoas, planeta, prosperidade, parceria e paz.
Diante dos fatos apontados que envolvem a escassez dos recursos naturais, destacam-se alguns exemplos dos ODS relacionados a essa temática: ODS 1: Erradicação da pobreza, ODS 2: Fome zero e agricultura sustentável, ODS 4: Educação de qualidade, ODS 6: Água potável e saneamento e ODS 11: Cidades e comunidades sustentáveis.
Trazendo essa perspectiva de como os recursos naturais são importantes para a manutenção da vida e como a sociedade pode ter soberania e segurança alimentar, observam-se alternativas de cultivos sustentáveis de animais e vegetais, com a possibilidade de serem desenvolvidos dentro das residências. Uma dessas formas de cultivo se chama Aquaponia Residencial.
A aquaponia é um sistema de cultivo animal e vegetal, cuja principal economia advém da redução do uso de água. A aquaponia aplica técnicas de cultivo referentes à aquicultura e hidroponia, onde ambos utilizam a mesma água no seu processo de desenvolvimento. Desta forma, obtém-se a recirculação e consequentemente o reaproveitamento da água durante a produção de peixes (ou outros organismos aquáticos adaptados a aquicultura) e plantas (características da hidroponia). É um processo cíclico de simbiose, no qual os dejetos dos peixes são nutrientes para os vegetais e os vegetais purificam a água que retorna ao tanque dos peixes.
Existem diversos tipos de sistemas aquapônicos de pequena, média e grande escala. Os principais são: media filled-bed (ou cama de cultivo, cama/leito de mídia), NFT (Nutrient Film Technique ou Fluxo Laminar de Nutrientes) e DWC (Deep Water Culture, floating, raft, jangada ou cultivo flutuante). O princípio é o mesmo, porém cada um apresenta suas particularidades. O mais adequado para um sistema de cultivo residencial é o media filled-bed por apresentar simplicidade e baixo custo inicial. Para a montagem deste sistema simples são necessários: um tanque de peixes; uma mesa de cultivo (onde as plantas serão cultivadas); argila expandida ou pedra brita; uma bomba de circulação de aquário ou lago; tubos e conexões; aerador; mudas; peixes e ração para peixes.
Basicamente a mesa de cultivo pode ser um recipiente de plástico de formato retangular ou oval com perfurações que dão caminho para instrumentos responsáveis pela recirculação de água, ou seja, enchimento e esvaziamento do sistema. Os instrumentos atribuídos a isso são: o sifão bell (que fica dentro da cama de cultivo e funciona por meio da gravidade), o cano que conecta o tanque dos peixes com a cama de cultivo dos vegetais e uma bomba de água que auxilia no controle de evasão dela. O tanque dos peixes pode ser um aquário, bombonas, containers, caixas d’água dentre outros. O aerador localizado dentro do tanque dos peixes serve para aumentar a concentração de O2. A imagem abaixo exemplifica de forma sucinta o funcionamento deste sistema.
Fonte: AQP Brasil
Entende-se que a aquaponia é um sistema sustentável que contribui para soberania e segurança alimentar. A prática da aquaponia residencial dá ao indivíduo autonomia e segurança em relação aos alimentos que terá em sua moradia, já que ele será responsável pelo cultivo, pelo manuseio e por todo cuidado que os peixes e vegetais precisarão. É um projeto prático, econômico e sustentável. Além disso, por sua dinâmica, a aquaponia também pode ser utilizada como educação ambiental em diversos ambientes educacionais.
Referências:
- ALFARO, C. Guia Prático: Aquaponia em sua casa. Aquapônica, p. 79, 2013. Disponível em: https://aquaponiabrasil.files.wordpress.com/2015/09/guiaprc3a1tico-aquaponia-aquaponia-em-sua-casa-por-clc3a1udio-alfaro1.pdf. Acesso em: 19 out. 2022.
- AQPBRASIL. Aquaponia. Disponível em: http://aqpbrasil.com/home/aquaponia/. Acesso em: 10 mai. 2022.
- BIALLI, A. P.; CRUZ, I. D. AQUAPONIA: Manual para produção em pequena escala. Universidade Federal do Paraná, p. 43, 2013. Disponível em: https://gia.org.br/portal/wp-content/uploads/2013/06/Manual-de-Aquaponia.pdf. Acesso em: 19 out. 2022.
- CIRILO, A. J. Crise hídrica: desafios e superação. Revista USP, n. 106, p. 45-58, 2015.
- SILVA, J. A. B., FONTANA, R. L. M., COSTA, S. S., RODRIGUES, A. J. Teorias Demográficas e o Crescimento Populacional No Mundo. Caderno De Graduação – Ciências Humanas E Sociais – UNIT – SERGIPE, v. 2, n. 3, p. 113-124, 2015.
- SOMERVILLE, C. et al. Small-scale aquaponic food production: integrated fish and plant farming. FAO Fisheries and aquaculture technical paper, n. 589, p. I, 2014. Disponível em: https://www.proquest.com/openview/6c3a0de6739c75c63321ef0a7d133463/1?pqorigsite=gscholar&cbl=237320. Acesso em: 14 abr. 2022.