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Carne cultivada: uma alternativa sustentável

De acordo com a ONU (2012), a população mundial em 2024 poderá ultrapassar 8 bilhões de pessoas. Projeções para 2050 sugerem um número superior a 9,5 bilhões, um crescimento de 13,16%, de 2012 a 2024, e de 34,90%, entre 2012 e 2050. Esse aumento populacional irá gerar um aumento na demanda por recursos naturais básicos, como os alimentos (SAAT; FACHINELLO, 2018). Diante deste cenário, as instituições (universidades, centros de pesquisas e indústrias) estão se movimentando para atender esta demanda (FAO, 2017).

A carne de origem animal e seu processamento demandam recursos excessivos e geram gases de efeito estufa, propiciando problemas ambientais (MATTICE & MARANGONI, 2020). O setor pecuário emite 18% do gás de efeito estufa global induzido pelo homem e 37% do metano atmosférico global (BHAT et al., 2015).

A produção de carne artificial é uma alternativa para reduzir a exploração industrial do animal e aumentar a produção de carne, assegurando mais saúde, menos doenças, impactos no ambiente e no clima, no gasto de energia, uso de água e terra fértil, e produção de poluentes, além da conservação da fauna (BHAT et al., 2015).

Existem benefícios substanciais para a saúde pública decorrentes da produção de carne cultivada. O processo de produção da carne cultivada garante a ausência de contaminantes e uso de antibióticos durante o cultivo. A carne cultivada utilizará concentrações seguras e moderadas de conservantes, como o benzoato de sódio, para proteger a carne em crescimento dos micróbios (ZHANG et al., 2020).

Deste modo, a produção da carne artificial torna-se vantajosa, uma vez que, quando comparada com a carne convencional, evita o abate animal, além do qual, diante a menção de Castro et al. (2021), possui influência sobre o bem-estar animal.

A carne artificial, de laboratório, in vitro, cultivada ou sintética, é derivada de um tecido com células cultivadas em laboratório, diferente da carne convencional que precisa abater os animais para obter o produto cárneo (BONNY et al., 2017). 

Um dos métodos para se produzir a carne artificial, baseia-se na retirada de pequenas quantidades do sangue de animais em biópsia, procedimento cirúrgico no qual se colhe uma amostra de tecidos ou células do animal, e o material coletado terá cultivo adequado com nutrientes e fontes de energia que irão favorecer a multiplicação das células musculares (BHAT et al., 2015).

Embora a carne cultivada seja considerada uma alternativa promissora à carne convencional, ainda está numa fase inicial e há questões fundamentais que precisam ser resolvidas, relativas a restrições sociais e éticas, engenharia de tecidos eficiente, condições de cultura ajustadas, biorreatores de grande escala e desenvolvimento de meios de cultura isentos de soro, seguros e econômicos     (TUOMISTO, 2019).

Outra questão importante diz respeito à aceitação da carne cultivada pelo público. Algumas pesquisas mostram que, embora as pessoas compreendam a necessidade de desenvolver alternativas sustentáveis à carne, permanecem pessimistas em relação aos desafios do aumento da produção, dos custos e da segurança alimentar, que ainda precisam desenvolver muita investigação e promoção de segurança para conceito saudável de carne cultivada (SANTOS, 2019).

A produção da carne cultivada pode trazer benefícios como a diminuição de emissões de gases do efeito estufa, bem como menores uso energético na produção da maioria dos tecidos cárneos e de recursos naturais — como água e terra —, além de menor consumo de antibióticos e pesticidas. Portanto, a produção de carne cultivada usa menos recursos e espaço, possibilita cuidado maior com o meio ambiente através da preservação da natureza (De     Oliveira et al., 2023). 

Para Stephens et al. (2018), a carne cultivada pertence a uma ciência emergente nomeada de “agricultura celular”, que tem como princípio a obtenção de produtos de origem animal, com menos envolvimento do ser vivo do que é necessário nos modelos tradicionais de produção. Para esse mesmo autor, além da carne, por esses processos, também poderiam ser produzidos o leite, a clara de ovo e o couro.

Programas de produção animal similares ao Sistema de Integração Pecuária, Lavoura e Floresta na bovinocultura também poderão ser criados para o cultivo de outras espécies de animais destinados à produção de carne in vitro, com o intuito de estabelecer a sustentabilidade, a preservação ambiental e a diminuição de gases nocivos à saúde pública (GONÇALVES ET AL., 2023).

 

Referências bibliográficas

  • BHAT, Zuhaib Fayaz; KUMAR, Sunil; FAYAZ, Hina. In vitro meat production: Challenges and benefits over conventional meat production. Journal of integrative agriculture, v. 14, n. 2, p. 241-248, 2015.
  • CASTRO, Matheus Campos et al. Fatores do bem-estar animal relacionados ao padrão da carne bovina: uma revisão. Research, Society and Development, v. 10, n. 16, p. e330101623847-e330101623847, 2021.CHRIKI, Sghaier; HOCQUETTE, Jean-François. The myth of cultured meat: a review. Frontiers in nutrition, v. 7, p. 7, 2020.
  • DE OLIVEIRA, Carlos André Dantas; DE MENDONÇA, Lidiane Pinto. Carne cultivada: uma alternativa sustentável. Revista Meio Ambiente e Sustentabilidade, v. 12, n. 24, p. 42-56, 2023.
  • FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations (2017). Statistical Yearbook, 1.
  • FERREIRA, C. S. R., Saqueti, B. H. F., dos Santos, P. D. S., da Silva, J. M., Matiucci, M. A., Feihrmann, A. C., Mikcha, J. M. G. & Santos, O. O. (2022). Effect of Salvia (Salvia officinalis) on the oxidative stability of salmon hamburgers. LWT, 154, 112867.
  • GONÇALVES, É. R., Dorigan, C. J., Varella, S. D., & Genaro, G. (2023). Produção da carne in vitro. Brazilian Journal of Development, 9(05), 15337-15348.
  • LANGELAAN, Marloes L. P. et al. Advanced maturation by electrical stimulation: Diferences in response between C2C12 and primary muscle progenitor cells. Journal of tissue engineering and regenerative, [s. l.], v. 5, n. 7, p. 529-539, 2011.
  • MATTICE, Kristin D.; MARANGONI, Alejandro G. Comparing methods to produce fibrous material from zein. Food research international, v. 128, p. 108804, 2020.
  • Post, Mark J. et al. Scientific, sustainability and regulatory challenges of cultured meat. Nature Food, v. 1, n. 7, p. 403-415, 2020.
  • SAATH, Kleverton Clovis de Oliveira; FACHINELLO, Arlei Luiz. Crescimento da Demanda Mundial de Alimentos e Restrições do Fator Terra no Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília–DF, v. 56, n. 2, p. 195-212, 2018.
  • SANTOS, Enrico Jardim Clemente. Carne artificial: uma nova perspectiva baseada no cultivo de células-tronco e engenharia tecidual. Segurança Alimentar Nutricional, Campinas, v. 26, p. 1-9, 2019.
  • STEPHENS, Neil et al. Bringing cultured meat to market: Technical, socio-political, and regulatory challenges in cellular agriculture. Trends in food science & technology, v. 78, p. 155-166, 2018.
  • TUOMISTO, Hanna L. The eco‐friendly burger: could cultured meat improve the environmental sustainability of meat products?. EMBO reports, v. 20, n. 1, p. e47395, 2019.
  • TREICH, Nicolas. Cultured meat: Promises and challenges. Environmental and Resource Economics, v. 79, n. 1, p. 33-61, 2021.
  • ZHANG, Guoqiang et al. Challenges and possibilities for bio-manufacturing cultured meat. Trends in Food Science & Technology, v. 97, p. 443-450, 2020.
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