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ODS 12 e a percepção dos brasileiros sobre consumo sustentável

No início do século XXI, as ações intergovernamentais em prol do desenvolvimento humano no planeta foram orientadas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), cujo foco era o combate à extrema pobreza e a provisão de serviços básicos, como água potável e saneamento, muitas vezes indisponíveis para grande parte da população mundial. Com base nos ODM, os países se comprometeram a cumprir novos objetivos globais aprovados em resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que estabeleceu a Agenda 2030 com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 

Os países-membros das Nações Unidas têm até 2030 para cumprir as 169 metas dos 17 ODS. Em setembro de 2019, líderes mundiais lançaram a “Década da Ação”, um movimento destinado a acelerar o alcance dos ODS em todo o mundo entre os anos de 2020 e 2030.

Os ODS têm o propósito de enfrentar os desafios globais e promover a prosperidade, preservando o meio ambiente.

Figura 1. Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. / Fonte: Nações Unidas Brasil (2020). Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs

Cada objetivo é interligado, enfatizando uma abordagem holística e integrada para alcançar o desenvolvimento sustentável. A Figura 1 destaca brevemente cada meta. A ONU apoia os ODS no Brasil através de 300 atividades-chave, focando na erradicação da pobreza, proteção ambiental e promoção da prosperidade, visando alcançar a Agenda 2030. 

Essas ações interligadas são fundamentais para garantir padrões de consumo e produção que não comprometam a capacidade das futuras gerações.

As lacunas existentes entre os ODS e o consumo alimentar são um tema de grande relevância e merecem atenção. No Brasil, é importante analisar como esses ODS estão sendo implementados e quais são os desafios enfrentados nesse processo. 

Nesta perspectiva, o consumo sustentável, também conhecido como consumo consciente, está se tornando cada vez mais relevante. Ele é impulsionado, em particular, pelo Objetivo de número 12, dos 17 ODS. 

Contudo, o consumo alimentar é uma das áreas que mais impactam o meio ambiente, desde a produção até o descarte dos resíduos, todo o processo envolvido na cadeia alimentar pode gerar grandes emissões de gases de efeito estufa e contribuir para as mudanças climáticas. 

O 12° objetivo busca garantir que os padrões de produção e consumo sejam sustentáveis, além de promover a educação sobre consumo consciente e incentivar empresas e consumidores a adotarem práticas sustentáveis. Portanto, a relação entre sustentabilidade e vantagem competitiva nas empresas vem se destacando como uma estratégia importante e integrada nos negócios. Estudos mostram que práticas sustentáveis tendem a melhorar o desempenho financeiro das empresas, com 78% das pesquisas indicando uma relação positiva. No entanto, a sustentabilidade também exige colaboração entre concorrentes para elevar os padrões ambientais, sociais e tecnológicos, sugerindo a importância da vantagem cooperativa.

Esforços são parte de uma colaboração global para enfrentar desafios de desenvolvimento. Alcançar o ODS 12, Consumo e Produção Responsáveis, envolve várias estratégias. No quadro 1 algumas delas estão destacadas.

Quadro 1. Estratégias para alcançar as metas estipuladas no ODS 12.

Estratégias

Descrição

Redução do desperdício de alimentos

Implementar políticas e práticas que diminuam o desperdício de alimentos ao longo de toda a cadeia de produção e consumo.

Gestão sustentável de produtos químicos e resíduos

Desenvolver sistemas eficazes de gestão de resíduos e produtos químicos para minimizar seus impactos negativos na saúde humana e no meio ambiente.

Eficiência no uso de recursos

Promover tecnologias e práticas que aumentem a eficiência no uso de recursos naturais, reduzindo a extração e consumo desnecessários.

Promoção de práticas empresariais sustentáveis

Incentivar as empresas a adotarem práticas sustentáveis e a integrar critérios de sustentabilidade em suas operações e relatórios.

Educação e conscientização

Ampliar a educação e conscientização sobre consumo responsável, incentivando estilos de vida sustentáveis.

Incentivo à economia circular

Promover a reutilização, reciclagem e redução de resíduos através de um modelo de economia circular.

Fonte: Elaborada pelo autor (2024).

Considerando o contexto brasileiro, é válido questionar se o consumidor brasileiro possui um entendimento sólido sobre o conceito de sustentabilidade e a importância do consumo sustentável ao fazer suas escolhas alimentares. Será que essa consciência está presente na maioria dos indivíduos pertencentes às diferentes camadas sociais do país?

Foi o que buscou saber sobre o estudo conduzido por Barone e colaboradores, publicado em 2019. Os pesquisadores utilizaram a técnica de associação de palavras para avaliar a associação entre alimento e sustentabilidade a partir da percepção de 150 consumidores brasileiros da região sudeste. A pergunta foi: “Quando você pensa em alimento e sustentabilidade, o que vem à sua cabeça?”. As respostas foram categorizadas, com as principais categorias sendo saúde, alimentos vegetais, produção orgânica e preservação. O aproveitamento integral e a redução do desperdício de alimentos também foram mencionados.

Esse retrato do mercado consumidor brasileiro guarda semelhanças com o contexto observado no norte global. A referência aos alimentos orgânicos também parece ser uma das primeiras associações de consumidores de países desenvolvidos, assim como a preocupação com o desperdício de alimentos. Outro ponto em comum está na frequente conexão de sustentabilidade a fatores ambientais ligados à preservação, enquanto fatores econômicos e sociais são raramente mencionados. Tal achado pode estar relacionado a uma percepção de sustentabilidade inespecífica e generalista de sustentabilidade, na qual as dimensões sociais e econômicas são subestimadas. 

De acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto Akatu em 2022, os consumidores brasileiros estão cada vez mais conscientes da necessidade de reduzir o consumo e minimizar o impacto ambiental. Eles estão dispostos a tomar medidas nesse sentido, mas sentem que suas ações individuais são insuficientes. Além disso, quase metade dos entrevistados avaliaram negativamente as ações governamentais, o que indica um desejo generalizado por políticas públicas que abordem essas questões de forma prática.

Em resposta a essa demanda, o Relatório Luz, desde 2017, realiza anualmente um estudo elaborado por membros da sociedade civil, cujo objetivo é diagnosticar a situação das políticas públicas relacionadas às metas de cada um dos ODS. Infelizmente, a maioria das metas relacionadas ao ODS 12 apresentou retrocesso ou foi classificada como ameaçada.

Esses resultados são preocupantes e destacam a urgência de ações concretas tanto por parte dos consumidores quanto dos governos. É essencial que todos se unam em um esforço conjunto para promover mudanças significativas e alcançar um futuro sustentável.

Desta forma, é evidente que existam lacunas significativas entre os ODS e o consumo alimentar consciente no Brasil. Ainda há muito a ser feito para garantir uma implementação efetiva do 12º ODS. É crucial que os consumidores sejam educados sobre a importância de escolhas alimentares sustentáveis e que sejam incentivados a adotar práticas que reduzam o desperdício de alimentos e promovam a produção sustentável. Além disso, é necessário que as autoridades governamentais e as empresas do setor alimentício trabalhem em conjunto para implementar políticas e práticas que apoiem o consumo consciente dos alimentos. Somente através de esforços conjuntos e compromisso com a sustentabilidade poderemos alcançar um futuro mais equilibrado e saudável para o nosso planeta e para as gerações futuras.

 

Referências

  • AKATU. Resultados públicos da Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2022. Instituto Akatu, nov, 2022.     
  • BARONE, B. et al. Sustainable diet from the urban Brazilian consumer perspective. Food Research International, SLACA 2017: Food Science and its role in a changing World. v. 124, p. 206–212, 1 out. 2019.     
  • BOUWMAN, E.; VERAIN, M.; SNOEK, H. Consumers’ knowledge about the determinants of a sustainable diet. SUSFANS DELIVERABLE, n. 21, p. 46, 2016.          
  • GTSC A2030. VII Relatório Luz da Sociedade Civil da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável. Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030, set, 2023.      
  • NAÇÕES UNIDAS BRASIL (2020) Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em: 23 ago. 2024.
  • ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs Acesso em: 8 jul. 2024.          
  • ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Sobre o nosso trabalho para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em 01 jul 2024.     
  • RANA, J.; PAUL, J. Consumer behavior and purchase intention for organic food: A review and research agenda. Journal of Retailing and Consumer Services, v. 38, p. 157–165, 1 set. 2017.     
  • ROMÁN, S.; SÁNCHEZ-SILES, L. M.; SIEGRIST, M. The importance of food naturalness for consumers: Results of a systematic review. Trends in Food Science & Technology, v. 67, p. 44–57, 1 set. 2017.      
  • TARNOVSKAYA, V. (2023), “Sustainability as the Source of Competitive Advantage. How Sustainable is it?”, Ghauri, P.N., Elg, U. and Hånell, S.M. (Ed.) Creating a Sustainable Competitive Position: Ethical Challenges for International Firms (International Business and Management, Vol. 37), Emerald Publishing Limited, Leeds, pp. 75-89. https://doi.org/10.1108/S1876-066X20230000037005     
  • VAN LOO, E. J.; HOEFKENS, C.; VERBEKE, W. Healthy, sustainable and plant-based eating: Perceived (mis)match and involvement-based consumer segments as targets for future policy. Food Policy, v. 69, p. 46–57, 1 maio 2017.
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