De acordo com o recente levantamento do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério Público da Saúde, a água é o principal produto incriminado em surtos de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA) no Brasil (confira os índices na tabela abaixo).
Microsoft PowerPoint – Apresentação Surtos DTHA – 2022 DADO
Nesta quarta-feira (22) celebra-se o Dia Mundial da Água. A data foi criada em 1992 visando um esforço da Organização das Nações Unidas (ONU) para colocar em pauta questões essenciais que envolvem os recursos hídricos. A fim de trazer discussões importantes à comunidade de food safety, o Portal e-food conversou com a bióloga Rosecler Bilibio para compreender a importância das análises biológicas no combate e prevenção das DTHA.
As análises biológicas são exigidas por legislação com parâmetros específicos e frequência, assim temos garantida que a água que consumimos tem qualidade testada e aprovada. Esses procedimentos de controle e vigilância são definidos pelo Ministério da Saúde e devem se basear em parâmetros físicos, químicos e biológicos preestabelecidos.
Em uma Estação de Tratamento de Água (ETA), alguns parâmetros de qualidade precisam ser monitorados com maior frequência. Entre eles, pode-se citar a avaliação de cor aparente, turbidez, pH, concentração de cloro livre e presença de coliformes totais e de Escherichia coli.
Com mais de 10 anos de experiência em análises ambientais e controle de qualidade da Indústria de Água e Alimentos, a diretora do Laboratório Biológico Análises Ambientais no Rio de Janeiro, Rosecler Bilibio, explica que o maior desafio enfrentado é a falta de conhecimento da população sobre a qualidade de água, o que afeta diretamente a segurança do consumidor.
“Na indústria de alimentos a água é o principal insumo para ser utilizado em todos os processos, como por exemplo a limpeza, ou como base na produção do próprio produto. Uma amostra mensal não garante que a água utilizada esteja sempre dentro dos padrões de potabilidade”, alerta a bióloga.
Com vasta experiência, Rose disse observar que as indústrias que recebem água de abastecimento público não têm preocupação se estão recebendo água de qualidade. “A concessionária é responsável pela qualidade até o cavalete de entrada, o armazenamento dessa água nos reservatórios da indústria deve ser monitorado e inspecionado com frequência, principalmente após chuvas intensas. Quando a empresa é abastecida por uma solução alternativa, como poços, mananciais superficiais ou ainda carros pipa, o controle deve ser mais rigoroso. A água com qualidade duvidosa pode trazer problemas na produção e redução de tempo de prateleira dos produtos, além de colocar em risco a segurança do consumidor”, analisa a especialista.
A água pode ser um meio de transmissão de doenças e este fato fica claro quando acontecem desastres naturais e o produto fica impróprio para o consumo. Por isso a bióloga reforça a importância de elencar todos os problemas de qualidade da água, tanto para água que chega em nossas torneiras quanto a água engarrafada. “Ao longo desses anos acompanhando análises microbiológicas de diversos tipos de água vejo contaminações simples por falta de manutenção nos reservatórios, como contaminações após fortes chuvas, falta de proteção de reservatórios de acesso de animais, erro estrutural de reservatórios ou tampas abertas de cisternas. Ou seja, tanto a indústria quanto a população no geral precisam monitorar e se preocupar com as contaminações”, orienta.
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TDHA: conceito, causa e sintomas
As Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA) são síndrome geralmente constituída de anorexia, náuseas, vômitos e/ou diarreia, acompanhada ou não de febre,
relacionada à ingestão de alimentos ou água contaminados. Os sintomas digestivos não são as únicas manifestações, podendo ocorrer afecções extraintestinais em diferentes órgãos, como rins, fígado, sistema nervoso central, dentre outros.
As DTHA podem ser causadas por: bactérias e suas toxinas,vírus, parasitas intestinalis oportunistas ou substâncias químicas.O quadro clínico depende do agente etiológico envolvido e varia desde leve desconforto intestinal até quadros extremamente sérios, podendo levar a desidratação grave,diarreia sanguinolenta e insuficiência renal aguda.
Para oferecer maiores informações e dados atualizados sobre a DTHA, o Ministério Público disponibilizou um informe de livre acesso. O material é composto por tabelas e gráficos que ilustram o passado e presente da DTHA no Brasil. Acesse o informe aqui.