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Balas, doces e confeitos e a tendência da saudabilidade

O processo produtivo das balas e doces no Brasil deixou de ser artesanal e começou a se industrializar a partir de 1883, com a implantação das primeiras máquinas vindas, principalmente, da Inglaterra. A partir daí todo o processo produtivo passou a ser industrial aumentando, assim, a produtividade e, sobretudo, a variedade. O Brasil ocupa uma das primeiras posições no ranking mundial de produtor e consumidor de balas e doces. Segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas, a indústria de balas e gomas apresentou um aumento de 19% de produção em relação a 2021. Durante o período de janeiro a dezembro de 2022, as indústrias produziram 287 mil toneladas (ABICAB, 2022). 

Os produtos de confeitaria são de grande popularidade e aceitabilidade, mas ao mesmo tempo, são vistos como vilões da dieta de crianças, adolescentes e, até mesmo do público adulto, em função da elevada concentração de açúcar e de aditivos alimentares que podem comprometer a saúde desses consumidores.

Nesse contexto, com a modernização dos hábitos alimentares, a população tem se tornado mais consciente e cada vez mais preocupada com a adoção de hábitos mais saudáveis. Barbosa et al. (2018) destacaram que a procura por alimentos naturais tem aumentado, principalmente, devido à preocupação com uma vida saudável. Esse cenário abre espaço para as indústrias de confeitaria, balas, chicletes e doces que, segundo Kamil et al. (2021), vem se adaptando a esse novo perfil de consumidor. 

Segundo matéria da Doce Revista (2016), o setor de produtos saudáveis não para de crescer, incluindo confeitos e guloseimas diet/light, funcionais e orgânicos, evidenciando o desempenho da indústria de alimentos. A performance, estimada bem acima da média dos alimentos convencionais, indica o forte engajamento do consumo, mostrando que as diferenças sensoriais entre itens regulares e especiais são quase inexistentes, destaca a matéria.

Assim, a busca pela inovação através da adição de ingredientes funcionais nessas guloseimas aliado a redução do seu teor de açúcar (Figura 1) é constante e a indústria juntamente com institutos de pesquisa e universidades vêm      desenvolvendo novos produtos. 

Figura 1: Adição de ingredientes funcionais em confeitos e produtos similares. / Fonte: Arquivo pessoal

Os probióticos são microrganismos vivos, que quando administrados em quantidades adequadas conferem benefícios à saúde      do hospedeiro (HILL et al., 2014) e sua ingestão pode promover inúmeros benefícios ao nosso organismo como, por exemplo, melhoria na imunidade, regulação da microbiota intestinal, saúde gastrointestinal, melhoria na absorção de nutrientes, além de prevenir e combater a gastroenterite. 

Esses microrganismos possuem alegação funcional e oferecem êxito comercial às indústrias quando adicionados aos alimentos (KONAR et al., 2018) e, como eles estão presentes majoritariamente nos produtos lácteos, sua adição em confeitos e derivados é vantajosa, possibilitando seu consumo por uma ampla parcela de consumidores.

Miranda et al. (2020) desenvolveram balas de gelatina com microrganismo probiótico e enriquecidas com frutos nativos da M     ata A     tlântica. Os resultados do estudo sugerem que as balas de gelatina sabor juçara e maracujá representam um excelente veículo do probiótico Bacillus coagulans GBI-30 6086, havendo também uma excelente aceitabilidade dos atributos sensoriais avaliados, com notas acima de 7,9 na escala hedônica de 9,0 pontos. Além disso, os autores concluíram que a adição de polpas de juçara e maracujá é viável industrialmente em substituição aos corantes artificiais, sendo fonte de compostos bioativos no produto que apresenta potencial no mercado de confeitaria, devido aos diversos benefícios associados à saúde dos consumidores.

Além dos probióticos, fibras prebióticas também podem ser adicionadas nesses produtos. Os prebióticos são componentes alimentares não-digeríveis que afetam beneficamente o hospedeiro pelo estímulo seletivo da multiplicação ou atividade de bactérias desejáveis no cólon. A maioria dos prebióticos são oligossacarídeos, como os fruto-oligossacarídeos (FOS), inulina, xilooligossacarídeos, galactooligossacarídeos e isomaltooligossacarídeos. Os prebióticos apresentam importância sobre a saúde gastrointestinal agindo como substrato de fermentação bacteriana, em especial de lactobacilos e bifidobactérias (BLAUT, 2002). Para contribuir com o equilíbrio da microbiota intestinal, apresentando alegação funcional, a porção do alimento pronto para o consumo deve fornecer no mínimo 2,5g de FOS ou Inulina (ANVISA, 2016).

Rodríguez-Rodríguez et al. (2022) desenvolveram alimentos à base de gelatina com frutanos de agave como substitutos de açúcar e avaliaram as atividades prebióticas do produto. As formulações à base de gelatina exibiram atividades prebióticas frente a Lactobacillus plantarum, Lactobacillus paracasei e Lactobacillus rhamnosus, que utilizaram os carboidratos de agave como fontes de carbono.

No mercado de balas e confeitos já existem produtos enriquecidos com vitamina C, que é solúvel em água, antioxidante e cofator essencial para a biossíntese de colágeno, metabolismo de carnitina e catecolaminas e absorção de ferro na dieta. Os seres humanos são incapazes de sintetizar vitamina C e, por isso, só podem obtê-la através da ingestão de frutas e vegetais. A deficiência de vitamina C geralmente surge no contexto de diminuição da ingestão ou aumento das necessidades ou perdas (MUHAMMAD et al., 2023).

O desenvolvimento de bala de goma enriquecida com vitaminas pode agregar valor ao produto, sendo uma opção mais saudável para os consumidores, por unir a funcionalidade das vitaminas a fim de promover melhoria do sabor e de outras características sensoriais trazendo, assim, benefícios associados a uma alimentação mais saudável (FARIAS et al., 2023). 

Pigmentos naturais com ação antioxidante também podem ser incorporados em confeitos como forma de substituir totalmente ou parcialmente o uso de corantes artificiais e essa estratégia chama atenção dos consumidores que prezam pela saudabilidade. Pigmentos naturais não apresentam evidências de danos à saúde e atribuem um aspecto natural ao produto, aumentando a sua aceitação (CONSTANT et. al., 2002). Comercialmente, os tipos de corantes naturais mais empregados pelas indústrias alimentícias são os extratos de urucum, carmim de cochonilha, curcumina e betalaína, além das antocianinas e dos carotenóides      (FOOD INGREDIENTS BRASIL, 2021).

A redução do teor de açúcar também tem sido foco da indústria de guloseimas. Antigamente esses produtos eram encarados como vilões e agora já são aprovados por uma parcela da população. O açúcar aumenta os níveis de glicose no sangue e dificulta a produção do hormônio da insulina, podendo causar resistência à insulina e até diabetes tipo 2. Assim, edulcorantes vê     m sendo usados com bons resultados. A sucralose é um dos mais populares, com sabor próximo ao da sacarose e poder adoçante até 600 vezes maior que esta, sendo excelente substituto do açúcar. Também possui alto grau de cristalinidade, solubilidade em água e estabilidade a altas temperaturas, o que faz com que seja muito utilizada na indústria (ARAÚJO et al., 2015). Este adoçante é considerado seguro para o uso da população, de gestantes e é um dos principais edulcorantes indicados para diabéticos (PARANÁ, 2018). Para Teixeira et al. (2021), balas de vários sabores adicionadas desse edulcorante foram bem aceitas pelos      consumidores. Logo, é possível elaborar balas com menos aditivos químicos.

Considerações e perspectivas 

 O uso de ingredientes funcionais em balas e confeitos agrega valor a esses produtos e aumenta a sua aceitabilidade, apontando para um mercado promissor e, ao mesmo tempo, desafiador     , uma vez que esses produtos são associados a obesidade, diabetes entre outros problemas de saúde. Assim, cabe à indústria      conscientizar os consumidores por meio de publicações e estratégias de marketing acerca dos benefícios que a redução de açúcar e a adição de ingredientes mais saudáveis em confeitos e similares pode promover a saúde de toda a população, desde crianças até idosos.

 

Referências 

  • AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, ANVISA. Anvisa atualiza lista de alegações funcionais de alimentos e seus requisitos específicos. Disponível em: https://abiad.org.br/anvisa-atualiza-lista-de-alegacoes-funcionais-de-alimentos-e-seus-requisitos-especificos/. Acesso em 29 nov 2023.
  • ARAÚJO, W. M. C., et al. Alquimia dos alimentos. 3.ed. Brasília: Editora Senac DF, 2015.
  • ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDUSTRIA DE CHOCOLATES, CACAU, AMENDOIM, BALAS E DERIVADOS, ABICAB. SETOR DE BALAS & GOMAS REGISTRA CRESCIMENTO DE 19% NA PRODUÇÃO DE 2022. Disponível em: http://www.abicab.org.br. Acesso em 15 nov 2023. 
  • BARBOSA, M.P. et al. Caracterizaçao e Avaliaçao Sensorial de balas com colágeno e adoçantes. Revista Ciências Exatas e Naturais, v. 20, n. 2, 2018.
  • BLAUT, M. Relationship of prebiotics and food to intestinal microflora. European Journal of Nutrition, v. 41, p. 11-16, 2002.
  • CONSTANT, P.B.L; STRINGHETA, P.C; SANDI, D. Corantes alimentícios. B. Ceppa, v.20, n.2, p. 203-220, jul./dez., 2002. 
  • DOCE REVISTA. 17º Anuário Brasileiro do Setor de Chocolates, Candies e Biscoitos. São Paulo. Nº 256, novembro/dezembro, 2016. 
  • FOOD INGREDIENTS BRASIL, CORANTES NATURAIS. Disponível em: https://revista-fi.com/artigos/corantes/o-aquecido-mercado-dos-corantes-naturais. Acesso em: 30 de nov. 2023.
  • FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF UNITED NATIONS (FAO) WORLD HEALTHE ORGANIZATION (WHO). Evaluation of Health and Lactic Acid Bacteria. Report of a Joint FAO/WHO Expert Consultation, p. 1-34, Argentina 2001. 
  • HILL, C., GUARNER, F., REID, G., GIBSON, G. R., MERENSTEIN, D. J., POT, B., MORELLI, L., CANANI, R. B., FLINT, H. J., SALMINEN, S. S., CALDER, P. C., SANDRES, M. E. The International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics consensus statement on the scope and appropriate use of the term probiotic. Nature reviews Gastroenterology & hepatology, v. 11, p.5066-514, 2014.
  • KAMIL, R.Z.; FADHILA, F.H.; RAHMASARI, A.D.; MURDIATI, A.; JUFFRIE, M.; RAHAYU, E.S. Development of probiotic gummy candy using the indigenous Lactobacillus plantarum Dad-13 strain, evaluation of its gastrointestinal resistance and shelf – life prediction. Food Research, v.5, p. 265-283, 2021. 
  • KONAR, N. et al. Conventional and sugar-free probiotic white chocolate: Effect of inulin DP on various quality properties and viability of probiotics. Journal of Functional Foods, v.43, p. 206–213, 2018. 
  • MUHAMMAD, A.; JAMIL, R.; FIBBI, A. Vitamin C (Ascorbic Acid). National Library of Medicine. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK499877/. Acesso em 30 nov. 2023.
  • MIRANDA, J. S.; et al. Probiotic jelly candies enriched with native Atlantic Forest fruits and Bacillus coagulans. GBI-30 6086. LWT – Food Science and Technology v.126, p.109275, 2020. 
  • PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Superintendência de Atenção à Saúde. Linha guia de diabetes mellitus. 2. ed. Curitiba: SESA, 2018.
  • RODRÍGUEZ-RODRÍGUEZ, R.; BARAJAS-ÁLVAREZ, P.; MORALES-HERNÁNDEZ, N.; CAMACHO-RUÍZ, R.M.; ESPINOSA-ANDREWS, H. Physical Properties and Prebiotic Activities (Lactobacillus spp.) of Gelatine-Based Gels Formulated with Agave Fructans and Agave Syrups as Sucrose and Glucose Substitutes. Molecules, v.31, p. 4902, 2022.
  • TEIXEIRA. E.T.; GONZALEZ, J.L; PEREIRA, E.C.; MAGALHÃES, B.A.; SILVA, Y. Balas de gelatina adaptadas com ingredientes naturais. Brazilian Journal of Developmen, v.7, n.3, p. 29871-29880, 2021.
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