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Micotoxinas contidas nos alimentos e os principais riscos ao ser humano

Quais as principais micotoxinas presentes nos alimentos e seus riscos

Biodegradadores naturais, os fungos são de suma importância para a humanidade, já que eles também contribuem com a indústria alimentícia e farmacêutica há muitos anos, mas em contrapartida, os fungos estão ligados à parte econômica, uma vez que podem acometer alimentos e causar doenças tanto no ser humano, como nos animais. Estima-se que haja duzentas espécies fúngicas produtoras de micotoxinas, sendo que trinta delas são micotoxicológicas. Vale ressaltar que algumas espécies podem produzir vários tipos de micotoxinas simultaneamente (ARRUDA, et. al. 2019)

  De acordo com Prestes et. al. 2019, micotoxinas são formadas pelo metabolismo secundário de algumas espécies de fungos, produzidos quando estes microrganismos estão sujeitos a condições climáticas favoráveis. Em alguns humanos, algumas destas toxinas possuem características cumulativas e podem ser cancerígenas, mutagênicas e imunossupressoras.

As micotoxinas são produzidas através de uma série consecutiva de reações catalisadas por enzimas. Sugere-se que as micotoxinas são formadas quando ocorre acúmulo de precursores metabólitos primários e assim, para evitar esse acúmulo, os fungos desviam o excesso destes precursores para a elaboração de metabólitos secundários, para manter o primário operando. No Brasil as legislações apresentam limites máximos apenas para aflatoxinas e zearalenona em produtos de origem animal (DIAS, 2018).

Uma das grandes questões relacionadas as microtoxinas é a periculosidade que apresentam á saúde dos seres humanos e animais. Segundo Dias. 2018, os efeitos causados pelas micotoxinas em animais e humanos são variados, desde câncer hepatocelular causado por micotoxinas até alterações dérmicas causadas por tricotecenos, além de imunodepressão e inibição de absorção de nutrientes a nível gastrointestinal. Prestes et. al 2019, estabelece que mesmo em baixas concentrações são capazes de provocar doenças crônicas como cirrose hepática, imunossupressão, carcinogenicidade, mutagenicidade, nefropatias, anorexia, hemorragias, edema pulmonar, necrose cerebral e hepática. Quando ingerida por animais através de seus alimentos contaminados, os produtos alimentícios derivados destes como: carne, leite e ovos, também estarão contaminados. Tratamentos térmicos e processamentos industriais podem eliminar os fungos presentes, mas não são capazes de eliminar as toxinas dos alimentos.

A toxicidade das micotoxinas nos alimentos tem um grande efeito no comércio internacional, causando enormes perdas. Diante disso, vários países estabeleceram legislações com o objetivo de proteger os consumidores contra a nocividade pela ingestão de alimentos contaminados por micotoxinas, com base em regulações governamentais e dessa forma evitar consequências adversas para a saúde humana e animal. Nem todos os países adotam estas normas, segundo a Food and Agricultural Organization (FAO), um total de 77 países estabeleceram normas e regulamentações sobre micotoxinas em alimentos e rações para o controle dos níveis destes compostos (PRESTES et.al, 2019).

Quando se trata de estabelecer limites seguros para a saúde humana deve-se estabelecer limites que apoiem a aplicação das regulamentações em micotoxinas, sendo preciso o melhoramento das metodologias analíticas para analisarem tais compostos, levando em consideração fatores científicos de risco, disponibilidade dos dados toxicológicos, consumo de alimentos e fatores econômicos.  A colaboração contínua por parte das autoridades governamentais é indispensável, além da participação de cientistas e indústria, para verificar a produção de micotoxinas em campo, inibir o crescimento de fungos toxigênicos e melhorar as técnicas de detecção, para assim aumentar a segurança dos alimentos. As atuais ações regulatórias em relação a micotoxinas podem não estar de acordo com o cenário real em termos de segurança, regulamento e recomendações. Ao longo dos anos, a comunidade científica envolvida na segurança dos alimentos e na avaliação de riscos, tem dado enormes passos à frente na identificação de micotoxinas e seu destino metabólico, mas ainda é um desafio para os cientistas o fornecimento de dados confiáveis para apoiar a avaliação de risco de micotoxinas transmitidas por alimentos (PRESTES et.al, 2019).

No que diz respeito a legislação para micotoxinas no Brasil, segundo Arruda et. al. 2019, a Resolução RDC Nº 274 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que estabelece os limites máximos de micotoxinas em alimentos, fez uma nova atualização em 2011.

As micotoxinas representam grande parte das intoxicações em humanos como salientado anteriormente. Os produtos de origem animal são potenciais veiculadores de micotoxinas para o homem, destacando o leite e a carne. A presença dessas substâncias nestes alimentos, tem sido objeto de preocupações de órgãos públicos mundiais (FAO, 2007), sendo as diferentes condições climáticas podendo favorecer um microrganismo produtor de uma micotoxinas em relação à outra (DIAS, 2018).

As micotoxinas aflatoxinas B1, zearalenona, toxinas T-2, desoxinivalenol, ocra toxina A, fumonisina e patulina são consideradas as mais importantes em alimentos. Essas toxinas são classificadas de acordo com especificidade junto aos órgãos, apesar de poderem causar danos em mais de um órgão. De acordo com Hussain e Wilson (1993), os animais alimentados com alimentos 20 ppb das toxinas fúngicas apresentavam nas nos músculos, podendo acarretar danos à saúde humana (DIAS, 2018).

Uma das principais toxinas são a Aflatoxinas B1 e M1, como relata Okuma et. al, 2018. São toxinas produzidas pelo fungo Aspergillus flavus e A. parasiticus principalmente. São encontradas geralmente em alimentos para consumo humano e animal como milho, e algodão. Existem várias aflatoxinas, dentre elas as mais tóxicas é a B1, que após ingerida é biotransformada nos animais e adquire a forma M1 e sai do leite ( Whitlow e Hagler, 2004). Esses fungos crescem bem em atividade de água de 0,82 e 0,99, em temperaturas em torno de 37°C, sendo a produção de toxinas ocorrendo em 25 á 30°C (FAO 2007), sendo agentes comuns em países tropicais. Em ovos, essas substâncias transferem-se linearmente conforme sua presença no alimento das poedeiras, constituindo-se em um grande risco para o homem. Baixos níveis de micotoxinas em carne de bovinos como 100 ppb podem ter efeito tóxico. Animais leiteiros que consomem alimentos contaminados com micotoxinas, podem contaminar o leite. O percentual excretado no leite está em cerca de 1 0 3%, entretanto, tem sido encontrado valores em torno de 6%. (DIAS, 2018).

A FAO (2007) estabelece que os alimentos de consumo humano não podem ter mais que 20 ppb e no leite 0,5 ppb. Na União Européia (DOCE, 2006), 0,05 ppb também para o leite e para  alimentos que são fornecidos aos animais de consumo humano,  os níveis não podem ultrapassar a 20pp. Há exceções, como para 300 ppb para ingredientes utilizados nas dietas como,farinha de semente de algodão para bovinos de corte, suínos e aves; 200 ppb para suínos em terminação e 100 ppb para reprodutores de bovino de corte, suínos e aves. Pereira et.al. (2005),.Em um levantamento, verificaram que 81% de amostras de leite apresentaram presença de aflatoxina M1, em concentrações menores que 500 ng/l. Em outro levantamento detectaram aflatoxina M1, em leite bovino em 39,5% de amostras, em 64%, destas com concentração maior que a permitida (0,5 ppb). Alla et. al. 2000, verificaram que 20% das amostras de queijo e de leite coletadas em mercados apresentavam aflatoxinas também em derivados (0,5 em queijo e 6,3 ppb em leite) (DIAS, 2018).

 Segundo Dallmann et. al. 2021, a melhor e mais econômica estratégia para controlar micotoxinas é a prevenção do crescimento dos fungos, através da inspeção de qualidade das matérias primas, do controle de insetos, redução no período de armazenamento do alimento, introdução de antifúngicos, além da adição de compostos adsorventes de micotoxinas incorporados as produções de alimentos, em especial nos alimentos que serão consumidos pelos animais de consumo humano, como bovinos, suínos e aves para que estas substâncias possam não causar tantos danos aos seres humanos ao serem consumidos.

 

Referências:

PRESTES. I. D. et. al. – Principais fungos e micotoxinas em grãos de milho e suas consequências– Scientia Agropecuária Review – Facultad de Ciencias Agropecuarias Universidad Nacional de Trujillo, 2019.

DIAS. A. S. – Micotoxinas em produtos de origem animal – Revista Científica de Medicina Veterinária Ano X Nº 30, 2018.

ARRUDA. A. D. et. al. – Micotoxinas e seus efeitos á saúde humana: revisão de literatura – Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto -Araras/SP, 2019.

DALMANN. E. P. et. al. – Micotoxina e seu alarmante alcance na bovinocultura: Revisão- Pubvet, v. 15, nº 09, a901, p. 1-10, Set., 2021.

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