Introdução
O aumento da população mundial (+30% dos atuais 7,5 bilhões de pessoas esperados até 2050) e as mudanças nos padrões de consumo mundial para um maior consumo de produtos de origem animal estão afetando o setor de produção pecuária (FAO, 2017).
Em função do crescimento populacional mundial, o uso de insetos para alimentação foi proposto como uma solução promissora para uma futura crise no fornecimento de alimentos. A criação de insetos para alimentação humana e animal tem diversas vantagens significativas, entre elas, o alto teor de proteína, baixa exigência de água e energia e baixas emissões de gases de efeito estufa (FAO, 2013; LUCAS, 2021). Os insetos são fontes de proteínas, lipídeos, minerais e vitaminas, e causam menor impacto ambiental durante seu processo de produção (ARANTES et al., 2021).
Insetos comestíveis também ganharam muita atenção por seu alto valor nutricional, especialmente seu alto teor de proteína (VAN HUIS et al., 2013). Os insetos podem ser transformados em alimentos com relativa facilidade. Algumas espécies podem ser consumidas inteiras e também podem ser processadas em pastas ou moídas em farinha, e suas proteínas podem ser extraídas (VANTOMME & HALLORAN, 2014).
Por serem animais pecilotérmicos, os insetos não gastam energia mantendo a temperatura corpórea, por isso são conversores de alimentos bastante eficientes: estima-se que 1 kg de biomassa de insetos possa ser produzido a partir de 2 kg de biomassa alimentar em média (COLLAVO et al., 2005). Quando comparamos com a plantação de grãos para a formulação de rações, a produção de insetos é 50% maior por hectare (DOSSEY et al., 2016).
Como acontece com os animais de fazenda, podem surgir problemas de bem-estar animal, como problemas com dor, sensação, conforto e bem-estar. Embora na maioria dos casos não haja uma resposta clara para essas perguntas, deve-se ter cautela e a produção de insetos deve ser continuada com cuidado, com atenção especial dada à sua morte (VAN HUIS, 2019).
Este artigo técnico aborda de forma cientifica a aplicabilidade de insetos na alimentação humana e animal como proteína alternativa.
Composição química
As farinhas de insetos além de boa fonte de proteína de alto valor biológico, também são boas fontes de lipídios (MAKKAR et al., 2014). No entanto, o teor de gordura e de energia são bastante variáveis entre as espécies e fases de desenvolvimento, variando em torno de 7 a 77% na matéria seca (MS), enquanto a energia pode variar de 2930 kcal a 7620 kcal/Kg de MS (RAMOS-ELORDUY et al., 1997). Os grilos apresentam cerca de 13% de lipídios, já larvas de besouros 50% na MS, e apresentam baixa concentração de colesterol quando comparados aos produtos de origem animal, possuindo uma proporção favorável de ácidos graxos ômega 6/ômega 3 e ácidos graxos poliinsaturados/saturados (RUMPOLD & SCHLÜTER, 2015).
Os insetos normalmente contêm de 30 a 81% de proteína por 100 gramas de matéria seca, que é comparável ao teor de proteína de carnes como carne bovina ou suína. Os insetos também são ricos em aminoácidos essenciais e ácidos graxos insaturados. Alguns insetos contêm minerais e vitaminas importantes (traço) em quantidades superiores à maioria dos produtos alimentares de origem animal ou vegetal (Figura 1) (RAMOS-ELORDUY, 2009).
Figura 1. Composição nutricional de insetos comestíveis (ZHOU et al., 2022).
Como exemplo, as larvas do gorgulho da palmeira, que é um dos insetos comestíveis mais famosos da Ásia e da África. Estudos descobriram que no gorgulho da palmeira (Rhychophorus phoenicis), as larvas contêm até 66,3% de proteína total e 37,1% de óleo em peso seco. Além disso, as larvas do gorgulho da palmeira são uma boa fonte de potássio e fósforo em 1025 e 658 mg/100 g, respectivamente (CHINARAK et al., 2022).
Farinha de insetos na alimentação humana
Entomofagia é comum em muitas culturas, particularmente no leste da Ásia. Os insetos comestíveis são uma fonte saudável e sustentável de proteínas de alta qualidade, ricas em aminoácidos, ácidos graxos e vários micronutrientes, como os minerais cobre, ferro, magnésio, manganês, fósforo, selênio e zinco, bem como as vitaminas riboflavina, biotina e, em alguns casos, ácido fólico (RUMPOLD & SCHLÜTER, 2013; WILLIAMS et al., 2016)
No Brasil, a cultura de comer insetos tem origem indígena (COSTA NETO, 2000), mas esse hábito não se restringe aos índios. O consumo de formigas conhecidas por içás, saúvas ou tanajuras (fêmeas aladas de Atta spp.), é relatado em muitos Estados, como o Amazonas, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Ceará, onde inclusive há um festival em que celebra essa tradição (COSTA NETO, 2003).
A produção de mel de A. mellifera e A. cerana para consumo humano, bem como a produção de têxteis naturais de seda a partir do bicho-da-seda, são consideradas as conquistas mais marcantes das indústrias de insetos. Esses insetos podem ser domesticados; no entanto, a criação de críquete recentemente se tornou mais popular, principalmente nos mercados europeus. Na União Européia, os insetos que podem ser usados como alimento são o cascudinho amarelo (Tenebrio molitor), o cascudinho menor (Alphitobius diaperinus), o grilo tropical (G. sigillatus) e o gafanhoto migratório (Locusta migratoria) (HUIS, 2016; NONGONIERMA & FITZ GERALD, 2017).
Os insetos são boas fontes de proteínas, gorduras, minerais e vitaminas. Em todo o mundo, cerca de 1.700 espécies de insetos são comestíveis; quatro ordens de insetos em ordem de classificação que predominam no consumo humano, a saber, Coleoptera, Hymenoptera, Orthoptera e Lepidoptera, respondem por 80% das espécies consumidas (CHAKRAVARTHY et al., 2016).
Muitos estudos têm focado na atividade antioxidante de proteínas ou peptídeos de insetos. In vitro, experimentos de atividade antioxidante foram conduzidos usando produtos da hidrólise de proteínas de larvas de moscas domésticas obtidas por digestão enzimática de albumina hidrolase e protease neutra. Os resultados mostraram que ambos os hidrolisados proteicos exibiram atividade de eliminação de radicais superóxido e hidroxila e que sua atividade antioxidante foi proporcional à concentração do hidrolisado (ZHANG et al., 2016).
Farinha de insetos na alimentação animal
A busca de ingredientes alternativos para substituir o farelo de soja, farelo de trigo e milho se torna necessário devido às grandes oscilações de preços no mercado e, devido a alta exigência nutricional dos animais de produção, existe a necessidade de utilização de ingredientes de alta digestibilidade nas suas rações. Estudos sobre a utilização da farinha de insetos apontam que estas possuem grande potencial como fonte de alimento devido sua composição proteica e perfil aminoacídica semelhante ou até mesmo superior à soja (REIS & DIAS, 2020).
Evidencia-se nos últimos anos que as fábricas de ração estão cada vez mais engajadas na criação de alimentos para animais que considere a inserção de insetos, tendo como exemplo, a barata nauphoeta cinerea, pois além de ter um custo mais baixo, apresenta benefícios no aspecto ambiental, em relação a esses produtos alimentares convencionais (LUCAS, 2018).
Os principais insetos utilizados na aquicultura (produção de organismos aquáticos) apresentam majoritariamente ácidos graxos saturados (especialmente ácido láurico) e ácidos graxos monoinsaturados. Os ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) ômega-3 (n-3), especialmente EPA (C20: 5) e DHA (C22: 6), são essenciais para o crescimento e a reprodução ideais em peixes e camarões (TOCHER, 2015). É possível incorporar ácidos graxos n-3 da dieta na gordura larval, mas quando as larvas ganham peso, a porcentagem desses ácidos graxos diminui. Assim, o potencial para substituição ao óleo de peixe parece pequeno, mas é uma alternativa aos óleos vegetais (EWALD et al., 2020).
Na Europa, 12 alimentos secos a base de insetos para cães estão registrados, sendo que o primeiro foi lançado em 2015. Todos os 12 alimentos são classificados como hipoalergênicos e oito deles trazem em seu rótulo o selo de sustentabilidade (BEYNE, 2018).
Conclusão
O uso de insetos com finalidade nutricional tem despertado o interesse tanto na área da nutrição humana quanto animal, por se tratar de um alimento de alto valor biológico podendo substituir fontes proteicas tracionais como carne e grãos de leguminosas, ocasionando redução nos custos de produção e consequentemente reduzindo impactos ambientais.
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