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Estudo de implantação de silvicultura em sistemas integrados de produção

Estudo de caso: implantação de eucalipto e teca em integração lavoura-pecuária-floresta

Sistemas integrados lavoura pecuária (ilp) e lavoura-pecuária-floresta (ilpf) desenvolvidos pela EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) são sistemas integrados combinam produção agrícola, pecuária e silvicultura, suportando a produção de pelo menos três tipos de produtos da mesma área de terra durante um período definido. Alguns exemplos são soja, milho, silagem, sorgo, eucalipto e criação de bovinos, entre outros. Esses sistemas, baseados em consorciação, sucessão e/ou rotação, podem otimizar a ciclagem biológica de nutrientes entre plantas e animais, melhorando a eficiência da produção e mantendo a fertilidade do solo a longo prazo. Esses sistemas são capazes de recuperar áreas degradadas a um custo relativamente baixo, produzindo três vezes mais grãos e duas vezes mais carne, sem a necessidade de abrir novas áreas, otimizando o uso da terra e, ao mesmo tempo, trazendo benefícios sociais tal como a geração de empregos assim como a redução de migração de trabalhadores para fora de área rural.

A adoção de um sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) estabelece uma vasta lista de vantagens de cunho tecnológico, ecológico, ambiental, econômico e social. Como benefícios tecnológicos, aponta-se o aumento do bem-estar animal em decorrência do maior conforto térmico; o componente florestal melhora as condições climáticas, a umidade do ar aumenta; a intensidade dos ventos diminui e a temperatura ambiente cai e eleva o acúmulo da matéria orgânica com melhora dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo (BALBINO et al., 2011). 

As árvores de eucalipto (Eucalyptus spp.) no sistema de ILPF melhoraram os atributos físicos do solo, tais como: a porosidade, densidade, como também, o aumento de carbono orgânico em profundidade (SILVA et al., 2016). A utilização de sistemas integração lavoura-pecuária com a presença de pastagens em áreas agrícolas, associada ao plantio direto, tem potencial para mitigar o impacto ambiental das atividades agropecuárias, por meio do sequestro de até 29,8 Mg.ha-1 de CO2 nos primeiros anos de adoção dos sistemas (FRANCHINI, 2010). 

A implantação de uma floresta requer o emprego de técnicas adequadas que serão definidas em função de uma avaliação das condições do local. Segundo Botelho et al. (1995), desta avaliação depende da seleção de espécies, definição dos métodos de preparo do solo, calagem, adubação, técnicas de plantio, manutenção e manejo da vegetação. O presente estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a implantação do consórcio de espécies florestais Teca e Eucalipto em sistema ILPF.

O experimento foi implantado no município de Rio Verde nas dependências do IF- Goiano Campus, em uma área de 6 ha. As análises de solo foram realizadas nas profundidades de 0-10 cm, 10-20 cm e 20-40 cm para o plantio. O solo foi preparado com subsolagem a 40 cm de profundidade. Posteriormente foram distribuídos 1.000 kg.ha-1 de calcário conforme a recomendação; a saturação de base se encontrava em média de 59,5 %. Para Favare e Guerrini (2012), na cultura de espécies florestais deve-se elevar a saturação para 70%, na qual terá maior desenvolvimento das plantas. Posteriormente foi nivelado o solo e refeitas as curvas de níveis, totalizando 13 curvas de níveis com distância de 30 metros.

Após o preparo do solo, foi realizado o plantio manual das espécies florestais em janeiro de 2022, sendo 381 mudas seminais de tecas (Tectona grandis) e 381 mudas de eucalipto (Eucalyptus urograndis) clone I144 sobre as curvas de níveis. Foi intercalado as mudas de eucalipto e teca deixando uma distância entre as mudas de 2 metros como mostra na figura 1. No plantio das mudas, na área onde foram abertas as covas realizou-se a limpeza retirando as ervas daninhas em um raio de 50 cm por cova. Nas covas foram despejados cerca de 500 ml do produto hidrogel durante o plantio das mudas.

Figura 1: Demarcação da área experimental com os renques de mudas. Fonte: Adaptado Google Earth

Após o plantio florestal foi semeado o milho (Zea mays) consorciado com semente de Panicum maximum – híbrido BRS Tamani, para produção de silagem; realizado o manejo e a fertilidade do solo conforme a necessidade, sendo 500 Kg.ha-1 de NPK (8-20-18) e cobertura 570 kg.ha-1 de ureia. Decorridos 30 dias, foi realizado levantamento da taxa de sobrevivência/mortalidade, e realizado o replantio das mudas florestais. Em agosto de 2022 foi refeito o levantamento e novamente observou-se a precisão de um segundo replantio, o qual foi realizado em setembro de 2022. Ao longo de todo experimento foi realizado o controle semanal de formigas com regente 800 wg® de princípio ativo fipronil. O princípio ativo fipronil, que atua sistema nervoso central, especificamente no sistema GABA (ácido gama-aminobutírico), tem sido destaque pela boa qualidade (APPERSON et al.,1984). A mortalidade e o replantio foram avaliados por porcentagem em relação ao total inicial de mudas transplantadas. 

Após avaliação da taxa de sobrevivência/mortalidade diagnosticou-se uma mortalidade de 38,3% para o eucalipto e 4% para teca. Possivelmente, tais resultados estão relacionados à falta chuvas regulares. Já no segundo replantio observou-se um aumento na taxa de mortalidade, sendo em média de 60% de eucalipto e 18% de teca; esse aumento pode estar relacionado principalmente à falta de tratos culturais para eliminar a matocompetição. Portanto, nessas condições de desafio por matocompetição e ataque de formigas, a Teca tem uma sobrevivência bastante superior ao eucalipto, que segundo Macedo et al. (1999) é uma planta de tronco retilíneo, fácil de cultivar e com menor ataque de pragas e doenças. 

No total foram replantadas 381 mudas de eucalipto e 85 mudas de Teca. Segundo Rovedder e Eltz (2008), a taxa de sobrevivência de Eucalyptus Tereticornis Sm. após o plantio sobre o campo nativo com plantas de cobertura é de 90% e campo nativo de 100%. Já a porcentagem média de sobrevivência de teca é de 80,91% (Ribeiro et al.,2006). 

Observou-se em toda a área, a presença de formigas cortadeiras (Genero Atta e Quemquem), sendo uma das dificuldades para a implantação de floresta artificiais porque essas são as mais prejudiciais, além de alto custo e dificuldade do seu controle. Segundo JIMÉNEZ et al., (2021) observou-se que após 50 dias do plantio, uma taxa de 60% de mudas florestais danificadas pelas formigas e a porcentagem acumulada de plantas danificadas é marginalmente relacionada à densidade de ninhos.

Figura 2: Fotos das mudas de Eucalyptus urograndis, Tectona grandis e formigueiro. Fonte: Arquivo pessoal, 2022

Na Figura 2 podem ser observadas mudas atacadas por formigas cortadeiras e a presença de formigueiros na área. Ainda se observa o capim competindo em altura com as mudas florestais. Segundo Aparício (2010), para um melhor desenvolvimento de clones de Eucalyptus urograndis, tratos culturais devem ser realizados para estabelecimento das plantas ao longo de um ano de avaliação. 

Santos et al. (2005) afirmaram que, em populações de Eucalyptus, a interferência da matocompetição é mais expressiva no primeiro ano de implantação da cultura, em especial, pela competição por recursos do meio, como água, luz e nutrientes; assim como Pereira et al. (2015) testaram cinco clones de eucalipto que também sofreram interferência negativa durante o período de convivência com espécies de plantas daninhas. Urochloa decumbens, Brachiaria plantaginea e Brachiaria ruziziensis são espécies que mais reduzem o crescimento inicial de plantas de eucalipto. No entanto, efeitos negativos promovidos pela presença de plantas daninhas são diferentes para cada clone, comprovando a importância da alocação adequada de diferentes clones em diferentes necessidades locais.

 No desenvolvimento inicial das mudas a matocompetição pode ser um fator prejudicial e em sistema ILPF com o plantio de milho dificulta a entrada de máquinas, sendo necessário o controle manual de capina e roçada o que pode aumentar o custo de implantação do componente florestal (NICODEMO et al., 2009). Segundo Caron et al. (2012), o coroamento e a roçada não são necessários, enquanto os níveis de interceptação de radiação luminosa forem maiores a 60%, sendo necessários a partir do segundo mês após o plantio e com frequência de 60 dias durante os primeiros 180 dias.

O ataque de formigas cortadeiras e a dificuldade de realizar tratos culturais para eliminar a matocompetição são fatores que dificultaram e atrasaram o estabelecimento e desenvolvimento do componente florestal. O Eucalyptus urograndis é bem mais sensível que a Tectona grandis a essas condições adversas de cultivo. 

Referências:

  • APARÍCIO, P. D. S., FERREIRA, R. L. C., SILVA, J. A. A. D., ROSA, A. C., & APARÍCIO, W. C. D. S. Controle da matocompetição em plantios de dois clones de Eucalyptus× Urograndis no Amapá. Ciência Florestal, 20, 381-390,2010. 
  • APPERSON, C.S.; LEIDY, R.B.; POWELL, E.E. Effects of Amdro on the red imported fire ant (Hymenoptera: Formicidae) and some nontarget ant species and persistence of Amdro on a pasture in North Caroline. Journal of Economic Entomology, v.77, n.4, p. 1012- 1017, 1984.
  • BALBINO, L. C.; BARCELLOS, A. O.; STONE, L. F. Marco referencial: integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF). Brasília, DF: Embrapa, p.130,2011. 
  • BOTELHO, S.A.; DAVIDE, A.C.; PRADO, N.J.S.; FONSECA, E.M.B. Implantação de Mata Ciliar. Belo Horizonte: CEMIG/UFLA/FAEPE, 1995. 36p. 
  • CARON, B. O., LAMEGO, F. P., SOUZA, V. Q. D., COSTA, E. C., ELOY, E., BEHLING, A., & TREVISAN, R. Interceptação da radiação luminosa pelo dossel de espécies florestais e sua relação com o manejo das plantas daninhas. Ciência Rural, 42, 75-82,2012. 
  • FRANCHINI, J. C., DEBIASI, H., WRUCK, F. J., SKORUPA, L. A., GHISOLPHI, I., & CAUMO, A. L. Contribuição da integração lavoura-pecuária para a agricultura de baixo carbono em Mato Grosso. Centro de Convenções do SESC ,2010. 
  • Jiménez, N. L., Fosco, I. R., Nassar, G. C., Sánchez‐Restrepo, A. F., Danna, M. S., & Calcaterra, L. A. Economic injury level and economic threshold as required by Forest Stewardship Council for management of leaf‐cutting ants in forest plantations.Agricultural and Forest Entomology,23(1), 87-96, 2021.
  • MACEDO, R. L. G.; BOTELHO, S. A.; SCOLFORO, J. R. Considerações preliminares sobre o estabelecimento da Tectona Grandis L.f. (TECA), introduzida na região noroeste do Estado de Minas Gerais. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE ECOSSITEMAS FLORESTAIS, 5., 1999, Curitiba. Anais. Rio de Janeiro: Biosfera, 1999. 4 p. (CD ROM-BIO 1199). 
  • NICODEMO, M. L. F., PORFIRIO-DA-SILVA, V., SANTOS, P. M., VINHOLIS, M. D. M. B., DE FREITAS, A. R., CAPUTTI, G. Desenvolvimento inicial de espécies florestais em sistema silvipastoril na região sudeste. Pesquisa Florestal Brasileira, 60, 89-89,2009. 
  • ROVEDDER, A. P. M., & ELTZ, F. L. F. Desenvolvimento do Pinus elliottii e do Eucalyptus tereticornis consorciado com plantas de cobertura, em solos degradados por arenização. Ciência Rural, 38, 84-89,2008. 
  • SANTOS, L. D. T. et al. Exsudação radicular do glyphosate por Brachiaria decumbens e seus efeitos em plantas de eucalipto e na respiração microbiana do solo. Planta Daninha, Viçosa, v. 23, n. 1, p.143- 152, jan. 2005. 
  • SILVA, A. R., SALES, A., VELOSO, C. A. C. Atributos físicos e disponibilidade de carbono do solo em sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), Homogêneo e Santa Fé, no estado do Pará, Brasil. Revista Agrotec, v. 37, n.1, p. 96-104,2016 
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