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Muito mais do que resíduo: fonte de Vitamina C

O que costuma ir para o lixo, pode ser o que te nutre

Em casa, é comum existir dois tipos de coletores, um para resíduo seco e outro para resíduos orgânicos. Você já parou para imaginar o quanto de nutrientes existe no lixo quando jogamos aquela casca de fruta fora? Compostos bioativos, substâncias fenólicas, flavonoides… São incontáveis as quantidades de nutrientes que desprezamos todos os dias, e diversas pesquisas mostram que, se bem processadas, podem ser incrementadas na dieta humana, oferecendo uma alternativa de nutrição para a população geral, diminuindo assim, a geração de resíduos orgânicos que podem prejudicar tanto o meio ambiente, quanto o seu bolso.

Figura 1 – Casca de mexerica

Fonte: Kseniia Konakova / shutterstock.com

As frutas possuem diversos componentes de efeito benéfico na manutenção da saúde e na prevenção de doenças por meio das fibras, vitaminas, minerais, substâncias fenólicas, flavonóides e proteínas, que comumente também estão presentes nos resíduos (MATSUURA, 2005). Infante et al. (2013) observaram que os resíduos de abacaxi, caju e manga apresentaram atividade antioxidante significativa, demonstrando possível aplicabilidade no enriquecimento de alimentos. Estes resíduos, ricos em minerais, fibra alimentar e compostos bioativos representam, portanto, potenciais fontes destas substâncias (UCHOA et al, 2008), podendo ser incorporados em alimentos para humanos, com finalidade de enriquecê-los (ALEXANDRINO et al., 2007).

As frutas são geralmente compostas por polpa, semente e casca. A semente e casca são os resíduos mais comuns, e a depender do tipo de processamento, como fazer um suco ou polpa concentrada, pode-se adicionar o bagaço entre esses resíduos gerados diariamente. Conforme Tabela 1, é possível identificar que algumas frutas possuem quantidades iguais ou aproximadas de casca para polpa, sendo somado junto as sementes, podem apresentar entre 50 a 60% da composição total do fruto, o que significa um alto resíduo gerado diante do consumo apenas da polpa.

Tabela 1: Composição física aproximada da banana, laranja, mamão, melancia e abacaxi.

Fruta

Composição / ParâmetroUnidade MedidaFonte
PolpaSemente

Casca

Banana

60-6535-40%Medina, 1995
Laranja44,51,2253,95%

Siddiqui et al., 2022

Mamão

74,77,318,4%Souza Silva et al, 2015
Melancia82,3*17,7%

Santana et al., 2005

Abacaxi

66.333,7%Lima et al, 2017 **

Melão

48,94,2649,4%

Marchetto et al., 2008

Goiaba54,830,2913,9%

Marchetto et al., 2008

*Polpa + semente

**Adaptado 

Os resíduos de frutas, de uma maneira geral, são fontes de carotenoides totais, fenólicos totais, minerais, fibras, compostos antioxidantes e vitaminas, sendo a principal fonte de ácido ascórbico, conhecido popularmente como vitamina C (Sousa et al., 2011; Belitz et al., 2004).  A banana, por exemplo, fruta mais consumida no mundo, possui em sua casca fatores nutricionais que superam a de sua polpa, conferindo a ela um alto teor de fibra alimentícia e pectina (GONDIM et al, 2005), além de ser rica em nutrientes como minerais, vitaminas e compostos antioxidantes e bioativos, como taninos, flavonoides, alcaloides e terpenos (Rosso, el al., 2021; Silva, et al., 2021), possuindo quantidades aproximadas para proteínas e superiores de potássio quando comparada com a polpa (Amorim, 2012), podendo ser utilizada na elaboração de produtos alimentícios, conferindo uma maior riqueza nutricional ao produto final (Oliveira et al., 2009). De acordo com Neris (et al., 2018), a banana possui menor concentração de vitamina C quando o seu estado de maturação está avançado. Conforme Tabela 2, é possível observar as principais vitaminas encontradas em resíduos de frutas e suas fontes. A vitamina C é a principal vitamina encontrada nas cascas de frutas (Sousa et al., 2011).

Tabela 2: Vitaminas em resíduos de frutas.

Fruta

ResíduoVitaminaFonte
BananaCascaVitamina C

GONDIM, et al., 2005.

Abacaxi

CascaVitamina CMonteiro, 2009.
MamãoCascaVitamina C

Monteiro, 2009.

Manga

CascaVitamina CDamian, et al., 2009
LimãoFlavedoVitamina C

Mendonça, et al., 2006

Maracujá

CascaVitamina B3

Duarte, et al., 2021

A vitamina C é hidrossolúvel, com características nutricionais, antioxidantes, e geralmente encontrada em maiores quantidades em frutas cítricas. O baixo consumo de alimentos ricos em vitamina C pode ocasionar sintomas parecidos com o escorbuto (Belitz et al., 2004). Dentre suas principais funções, destaca-se a estimulação das funções musculares, contribuição para a absorção do ferro, formação de colágeno, aumento da resistência às infecções, entre outras (Teixeira, 2018). Dessa forma, o consumo de cascas de frutas, que podem ser transformadas em farinhas e incrementadas na dieta humana através de produtos panificáveis, como bolos, pães e biscoitos, reduz a produção de resíduos domésticos e industriais, aumentando assim o valor nutricional desses produtos, e auxiliando na manutenção de uma boa saúde.

 

Referências

  • Belitz HD, Grosch W, Schieberle P. Food Chemistry. 3rd ed. Heidelberg: SpringerVerlag Berlin Heidelberg; 2004.
  • GONDIM, J. A. M. et al. Composição centesimal e de minerais em cascas de frutas. Ciênc. Tecnol. Alim. Campinas, v. 25, n. 4, p. 825-827, 2005.
  • ROSSO, R. F. et al. Benefícios quanto a capacidade antioxidante de resíduos de banana, batata e cenoura na forma de farinhas. Anais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 13, n. 3, 16 nov. 2021.
  • SILVA, A. P. Doce da casca de banana: processamento e aceitação sensorial. Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia – CONTECC, 2021.
  • AMORIM, T. P. Avaliação físico-química de polpa e de casca de banana in natura e desidratada. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2012.
  • OLIVEIRA, L. F. et al. Utilização de casca de banana na fabricação de doces de banana em massa – avaliação da qualidade. Alim. Nutr. Araraquara. v.20, n.4, p. 581-589, out./dez. 2009.
  • MATSUURA, F. C. A. U. Estudo do albedo de maracujá e de seu aproveitamento em barra de cereais. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP, 2005.
  • NERIS, T. S. et al.  Avaliação físico-química da casca da banana (Musaspp.) in naturae desidratada em diferentes estádios de maturação. Ciência e Sustentabilidade -CeS | Juazeiro do Norte v. 4, n.1, p. 5-21, jan/jun2018I ISSN2447-4606.
  • INFANTE, J.; SELANI, M. M.; TOLEDO, N. M. V.; DINIZ, M. F. S.; ALENCAR, S. M.; SPOTO, M. H. F. Atividade antioxidante de resíduos agroindustriais de frutas tropicais. Alimentos e Nutrição, v. 24, n. 1, p. 01-05, 2013.
  • SOUSA, M. S. B.; VIEIRA, L. M.; SILVA, M. J. M.; LIMA, A. Caracterização nutricional e compostos antioxidantes em resíduos de polpas de frutas tropicais. Ciênc. agrotec. vol.35 no.3 Lavras May/June 2011
  • UCHOA, A. M. A.; COSTA, M. C., MAIA, G. A.; SILVA, E. M. C.; CARVALHO, A. F. F. U.; MEIRA, T. R. Parâmetros Físico-Químicos, Teor de Fibra Bruta e Alimentar de Pós Alimentícios Obtidos de Resíduos de Frutas Tropicais. Segurança Alimentar e Nutricional v. 15, n. 2, p. 58-65, 2008.
  • ALEXANDRINO, A. M.; FARIA, H. G.; SOUZA, C. G. M., PERALTA, R. M. Aproveitamento do resíduo de laranja para a produção de enzimas lignocelulolíticas por Pleurotus ostreatus (Jack:Fr). Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 27, n. 2, p. 364-368, 2007.
  • TEIXEIRA, FABIANA GONÇALVES. Determinação de vitamina c em cascas de citrinos, 2018. Trabalho de conclusão de curso. Universidade Fernando Pessoa, Faculdade de Ciências da Saúde.

 

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