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Processamento de pescados no Brasil

O Brasil tem condições suficientes para se tornar o maior produtor de pescado, substituindo as importações e entrando ativamente no mercado global, possui uma vasta zona econômica exclusiva, incluindo cerca de 12% de seus reservatórios e recursos hídricos subterrâneos de água doce, condições climáticas favoráveis ​​e características ambientais propícias à produção intensiva em alto mar ou áreas costeiras (TOLEDO et al., 2016)

Nos últimos anos, a produção aquícola mundial tem sido comparável à captura extrativista, embora ambas as atividades se concentrem na pesca, elas são diferentes do ponto de vista ambiental, social e econômico. Em geral, a pesca extrativista se baseia na retirada dos recursos pesqueiros do ambiente natural, enquanto a aquicultura se baseia na produção de peixes de cultivo. O Brasil possui recursos hídricos abundantes, que, além de um clima agradável, são propícios ao crescimento da produção de peixes (LOPES et al., 2016).

O PIB nacional gera cerca de cinco bilhões de dólares na indústria pesqueira brasileira, emprega 800 mil profissionais e gera milhões de empregos. O Brasil ocupa o 17º lugar no mundo em produção de pescado em cativeiro e o 19º em produção total de pescado (FAO, 2020).

A piscicultura é o modelo mais desenvolvido e rentável, principalmente no Brasil, que possui recursos geológicos abundantes, além de um grande número de espécies com potencial agrícola e comercial. No entanto, devido às práticas culturais e à ausência de certas espécies na costa do Brasil, várias espécies consumidas no país são importadas (FAO, 2018; EMBRAPA, 2019; PEIXE BR, 2019).

O crescimento do consumo mundial de pescado tem levado a um aumento na demanda por produtos industrializados, que por sua vez gera um grande número de subprodutos. Entre as capitais brasileiras, a cidade de Manaus tem o maior índice de consumo de pescado, sendo o Tambaqui sua espécie preferida, o peixe mais nativo produzido pela piscicultura do país. Os resíduos do processamento do tambaqui são materiais viáveis ​​para o processamento de subprodutos de pescado, pois são elaborados a partir de matérias-primas com boas qualidades nutricionais (ALMEIDA, 2021).

No entanto, alguns dos desafios de aumentar a produção e as capturas da aquicultura estão relacionados, mas podem ser facilmente mitigados pelo apoio ao planejamento do setor produtivo e às políticas públicas (FAO, 2014). A aquicultura desponta como uma atividade de extrema importância em todo o mundo, pois o crescimento populacional deve ser acompanhado pelo aumento da produção de alimentos. Diferentemente das atividades extrativistas, as atividades agrícolas, incluindo a aquicultura, aparecem como uma alternativa viável nesse contexto, garantindo a segurança alimentar para uma população mundial em crescimento e para as gerações futuras, a aquicultura pode coordenar a produção de proteína animal e a proteção dos recursos pesqueiros e sua biodiversidade, e promover o desenvolvimento sustentável (KANASHIRO, 2014).

A indústria pesqueira brasileira teve um ano de muitas incertezas na economia devido à epidemia que se instalou no Brasil em 2020; no final do ano, a procura pela carne de peixe voltou a aumentar, principalmente pela exportação do produto, e isso favoreceu para o setor pesqueiro fechar o ano com uma nota muito positiva (MEDEIROS, 2021). A Covid-19 não afetou diretamente os pecados, mas o setor pesqueiro sofreu impactos da pandemia devido a mudanças nas demandas dos consumidores. A população reduziu o acesso ao mercado causando diminuição no consumo de peixes. Isso afetou os pescadores e as fazendas aquícolas, assim como a segurança alimentar e nutricional das populações que dependem fortemente de pescados para a obtenção de proteína animal e micronutrientes essenciais (CONEPE, 2020).

Um estudo realizado em março de 2021 mostrou uma atualização das informações sobre o chamado consumo aparente per capita de pescado. Os brasileiros consomem atualmente 10,19 quilos de pescado por ano. Esse índice de desempenho determina o nível de aceitação do segmento junto aos consumidores brasileiros e sua competitividade em relação a outras proteínas animais no mercado interno (SANTOS, 2021).

Nesse sentido surge como opção ao processamento dos peixes os hambúrgueres de peixe, conhecidos por fishburguers, que são feitos de carne desossada de peixe e mecanicamente separada, temperada e moldada. A carne de peixe é de excelente valor nutritivo devido à presença de proteínas de alto valor biológico, vitaminas e ácidos graxos poli-insaturados (BERNARDINO FILHO et al., 2014).  

Considerando a grande quantidade de material que pode ser utilizado como fonte de nutrição devido à remoção de espinhos nos músculos do tambaqui, a carne separada mecanicamente (CMS) pode ser utilizada como uma boa fonte de alimento para consumo.

Alguns estudos foram realizados para verificar a qualidade físico-química de fishburguers elaborados com diferentes tipos de peixe. O fishburguer de tilápia apresentou boa aceitação sensorial. Na Tabela 1 estão apresentadas diferentes formulações de fishburguers.

 

TABELA 1 – Análise de porcentagem da composição química das diferentes formulações de amostras de fishburguers de Biquara, de Tilápia do Nilo e de Tambaqui.

Em 2021, os dados sobre a pesca brasileira destacaram o avanço no setor, alcançando 88% das exportações brasileiras. A piscicultura foi impulsionada principalmente pela Tilápia, com 5,6 milhões no terceiro trimestre de 2021, um aumento de 71% em relação ao ano de 2020. A Tilápia mantém a liderança entre as espécies mais exportadas no trimestre, totalizando US$ 4,8 milhões, uma alta de 42%. Em seguida, vêm os Curimatás com US$ 456 mil e o Tambaqui com US$ 263 milhões, este último com um aumento de 371% (ENGEPESCA, 2021).

 O peixe é uma excelente fonte de proteínas, minerais (especialmente cálcio), contém vitaminas do complexo B e ácidos graxos essenciais dos tipos ômega 3 e 6. Este último, considerado antioxidante natural, por proteger as artérias do envelhecimento prematuro e aumentar o colesterol bom (HDL) (PEIXE BR, 2018).

O Tambaqui é um peixe de rápido desenvolvimento, atingindo 2,5 kg no primeiro ano e depois chegando a 10 kg.  A dieta do Tambaqui é principalmente vegetariana, podendo sobreviver com baixos níveis de oxigênio na água. O manejo é bastante fácil, a fêmea tem uma boa produção de filhotes e a carne é apreciada (AGRO, 2022).

 O peixe Biquara é uma espécie de peixe encontrada em toda a plataforma continental, principalmente em recifes artificiais e fundos rochosos. Pertence à família dos Heamulidae, presente no oeste das Bermudas ao sudeste do Brasil. A sua pesca é tradicionalmente praticada por jangadas e/ou barcos a motor, sendo a linha de mão o equipamento mais utilizado (SOUZA, 2008).

O peixe Biquara possui a coloração da cabeça amarelo-bronze, com o dorso amarelado e o ventre branco-prateado. Com características azul-escuras e listras irregulares em todo o corpo (ARNOV, 1952). Os adultos podem ser separados de todos outros Hamulídeos pelas escamas largas encontradas acima da lateral (COURTENAY & SAHLMAN,1978).

O Pantanal Sul Mato-Grossense é uma área de pesca tradicional, tanto artesanal quanto esportiva. A diversidade das espécies de peixes atrai a atenção de muitos turistas e permite a subsistência de pescadores profissionais que são importantes agentes sociais para a conservação através do uso dos recursos pesqueiros.

Estudos apresentados mostraram que o desenvolvimento de novos produtos, como por exemplo o fishburguer, além de agregar valor, pode estimular a comercialização e aumentar o valor do pescado. 

 

REFERÊNCIAS

ANJOS, R. Q. et al. Formulação e aceitação de hambúrguer de tambaqui (Colossoma macropomum) sabor defumado, enriquecido com biomassa de banana verde e quitosana. 2021. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://s3.amazonaws.com/downloads.editoracientifica.com.br/articles/210404353.pdf. 

ARNOV, B., 1952. A Preliminar Rebién of. i.e. Western North Atlantic fishes Of. i.e.genus Haemulon. Bull. Mar. Sci. Gulf Caribb. 2: 414­437. 

AGRO, C. Peixe tambaqui: uma possível nova commodity brasileira. 2022. Sputnik News, Fapesp – Revista Pesquisa, Reviews in Aquaculture, EBC, AquaCulture Brasil, Agrolink. Disponível em: https://summitagro.estadao.com.br/comercio-exterior/peixe-tambaqui-uma-possivel-nova-commodity-brasileira/. 

BERNARDINO FILHO, R. et al. Elaboração de hambúrguer formulado com filé de peixe tucunaré, Cichla ssp. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v. 9, n. 3, p. 75-80, 2014. 

CONEPE. Impacto da covid-19 no setor pesqueiro – Boletim FAO (Áudio disponível). 2020. Disponível em: https://www.conepe.org.br/atividades/20. 

COURTENAY, W. R. JR., and SAHLMAN, 1978. Pomadasyidae. In: W. Fischer (editor). FAO species identification sheets for fishery purposes. Western Central Atlantic  Fishing Area 31). v.4. unpaginated. FAO, Rome.

EMBRAPA. Portal Embrapa Pesca e Aquicultura. Brasília/DF, 2019. Disponível em: https://www.embrapa.br/tema-pesca-e-aquicultura. 

ENGEPESCA. Principais dados da pesca brasileira em 2021 e perspectivas para 2022. 2021. Disponível em: https://www.engepesca.com.br/post/principais-dados-da-pesca-brasileira-em-2021-e-perspectivas-para-2022

FAY, J. F. A. et al. Fishburger de biquara (Haemulon Plumierii-Lacepède, 1801) com adição de diferentes extensores. Acta Tecnológica, v. 10, n. 2, p. 91-105, 2015. 

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS – FAO. Fisheries and Aquaculture Department. The state of world fisheries and aquaculture. Roma: FAO, 2018. 

FAO. 2020. Situação mundial da Pesca e da Aquicultura (SOFIA). Sustentabilidade em ação. p. 244, 2020.  Roma Itália. 

FAO-Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura e Organização Mundial da Saúde. The State of World Fisheries and Aquaculture: Opportunities and Challenges, 243 p. 2014.

KANASHIRO, E. S. Desafios da nutrição de peixes em cativeiro: o desenvolvimento de rações cada vez mais elaboradas e sistemas de proteção ambiental, fornecem maior sustentabilidade à produção de peixes. O desenvolvimento de rações cada vez mais elaboradas e sistemas de proteção ambiental, fornecem maior sustentabilidade à produção de peixes. 2014. Disponível em: http://www.temasbio.ufscar.br/?q=artigos/desafios-da-nutri%C3%A7%C3%A3o-de-peixes-em-cativeiro. 

LOPES, I. G.; OLIVEIRA, R. G.; RAMOS, F. M. Perfil do Consumo de Peixes pela População Brasileira. Biota Amazônia, v. 6, n. 2, p. 62–65, 2016.

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MEDEIROS, F. Criação de peixes em alta: associação de criadores de peixes. Associação de criadores de peixes. 2021.

PEIXE BR – Associação Brasileira da Piscicultura. Anuário peixe BR da piscicultura 2019. Produção brasileira cresce 4,5% e atinge 722.560 t. São Paulo/SP, 2019. Disponível em: file:///D:/Downloads/AnuarioPeixeBR2019.pdf. 

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ROMANELLI, P, F.; CASERI, R.; LOPES FILHO, J. F. Processamento da carne do jacaré do pantanal (Caiman crocodilus yacare). Food Science and Technology, v. 22, p. 70-75, 2002.

SANTOS, W. Você sabe quanto o brasileiro realmente come de pescado? 2021. Disponível em: https://www.seafoodbrasil.com.br/voce-sabe-quanto-o-brasileiro-realmente-come-de-pescado. 

TOLEDO, A. P. et al. IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO AMBIENTAL: DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE. 2016. Disponível em: http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/t5ssa9m9/3bo57c8i/qb1G1GDNjcU8A0c4.pdf. 

VICTORINO, L. C. S. Efeitos da adição de diferentes extensores nas propriedades físico-químicos e sensoriais de emulsões cárneas cozidas que contêm cms. Revista Nacional da Carne, 2009. 

WASZKOWIAK, K.; SZYMANDERA-BUSZKA, K. A aplicação de fibra de trigo e isolado de soja impregnado com sais de iodo para fortificar carnes processadas. Meat Science , v. 80, n. 4, pág. 1340-1344, 2008.

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