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P+L: benefícios e responsabilidade ambiental

Um novo foco na produção de laticínios

Por Christina Maria Costa Fagundes, Lilian Bechara Elabras Veiga, Simone Lorena Quitério de Souza

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) – Departamento de Alimentos, 20270-021, Rio de Janeiro, Brasil

A Gestão Ambiental Empresarial tem crescido paulatinamente em todo o mundo por conta de uma pressão cada vez maior por parte do governo, do mercado e, principalmente da sociedade, por um desenvolvimento sustentável, além de uma legislação ambiental progressivamente mais restritiva. Diante deste fato, as indústrias estão buscando atender essa nova expectativa dos diferentes stakeholders. A indústria do setor de laticínios tem focado nessa mudança. 

A produção de laticínios é uma atividade industrial com elevado consumo de recursos naturais e com elevado potencial de geração de impactos ao meio ambiente. Segundo o Guia Técnico Ambiental de Produtos Lácteos, produzido pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, as indústrias de laticínios em todas as etapas do processo produtivo geram diversos aspectos ambientais, conforme pode ser visto na Tabela 1. Nesse sentido, compete às indústrias de laticínios, a responsabilidade de controlar e mitigar tais aspectos, pois possuem grande probabilidade de gerar impactos ambientais, muitos dos quais significativos.

Tabela 1: Principais aspectos ambientais resultantes do processo produtivo na indústria de laticínios e ações de redução dos impactos ambientais.

Diante do exposto, propondo-se a melhoria do desempenho ambiental, bem como do processo produtivo, o setor de laticínios vem adotando instrumentos de gestão ambiental. Dentre estes instrumentos, tem-se a produção mais limpa (P+L).

A P+L tem como objetivo aumentar a eficiência na utilização de matéria-prima, água, energia e reduzir os resíduos gerados, acarretando ganhos econômicos e ambientais. É uma inovação, uma estratégia de negócios das empresas, como a indústria de laticínios.

Pelo prisma do processo, a P+L pratica o princípio da prevenção da poluição, pois é mais barato e eficiente “prevenir do que remediar” danos ambientais. Entretanto, para tal, é preciso comprometimento de todos os envolvidos nas atividades industriais, como os gestores, trabalhadores, fornecedores e os consumidores.

A implementação de um Programa de P+L permite que a empresa conheça com propriedade seu processo produtivo, a partir do monitoramento e desenvolvimento de um sistema ecoeficiente de produção com a geração de indicadores. Tal monitoramento proporciona à empresa, a identificação de necessidades de pesquisa aplicada, inovação tecnológica e programas de capacitação. O Programa P+L proporciona benefícios para as empresas, para a comunidade e para o meio ambiente, a partir de uma maior eficiência no processo produtivo, conforme apresentado na Figura 1:

Figura 1: Benefícios do Programa P+L. 

Enfim, a P+L sugere um processo de melhoria contínua do processo produtivo para a indústria de laticínios, considerando a visão de redução de impacto ambiental ao longo do ciclo de vida dos produtos. Assim, a P+L resulta no aumento da eficiência do processo produtivo, redução do uso de recursos naturais e minimização dos impactos ambientais associados ao processo. Os resultados são ganhos ambientais, econômicos e sociais. 

Entretanto, a falta de políticas públicas e investimentos tem dificultado a sua implementação pelas empresas. Além de outros entraves como: falta de percepção do potencial da empresa na capacidade de resolver problemas ambientais, a falta de conhecimento em relação ao conceito de P+L, oposição à mudança, envolvimento limitado das ações ambientais dentro da empresa, estrutura organizacional incongruente, investimentos em tecnologias, inexistência de linhas de financiamento e mecanismos específicos de incentivo, dentre outros.

Referências

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CETESB: GUIA TECNICO AMBIENTAL DA INDUSTRIA DE PRODUTOS LACTEOS SÉRIE P+L (GTAPL). (2008). Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB).

FEAM: GUIA TÉCNICO AMBIENTAL DA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS (GTAIL). (2014). Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – FIEMG. Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM).

GRASI, T.M.T., FERREIRA, E. (2013). Produção Mais Limpa. In: Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental: desafios e perspectivas para as organizações. Organizadores: Vilela Jr. A. e Demajorovic, J. 3ed. São Paulo: Editora SENAC, 2013. p. 45-82

MAGANHA, M.F.B. (2006). Guia técnico ambiental da indústria de produtos lácteos. Série P + L. CETESB. São Paulo. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br>. Acesso: setembro de 2019.

NUNES JÚNIOR, M.L. (2002). Aplicação da metodologia produção limpa em uma pequena empresa de laticínios. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Alimentos. Universidade Federal de Santa Catarina, 109p.

SENAI. (2003). Implementação de Programas de Produção mais Limpa. Porto Alegre, Centro Nacional de Tecnologias Limpas. SENAI-RS/UNIDO/INEP. 42 p. 

SHARMA et al. (2017). Potential of solar industrial process heating in dairy industry in India and consequent carbon mitigation. Journal of Cleaner Production, 140, 2, 714-724, 2017.

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