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Resíduos de pesticidas em frutas e vegetais e a exposição humana resultante

Em um mundo cada vez mais populoso, garantir a segurança alimentar é um desafio. A agricultura desempenha papel fundamental no atendimento à demanda global por alimentos. Nesse contexto, os agrotóxicos surgem como solução para atender às necessidades por culturas alimentares de bilhões de pessoas. No entanto, o uso de pesticidas nas práticas agrícolas levanta preocupações sobre os resíduos gerados por esses produtos que se acumulam em frutas e vegetais. Tais resíduos químicos impactam a saúde humana através da contaminação ambiental e alimentar (NGUYEN et al., 2020).

A contaminação causada por pesticidas é um problema global que afeta a saúde e a conservação da vida animal e vegetal, além de prejudicar a qualidade dos meios básicos de sobrevivência. O uso de defensivos agrícolas exige biomonitoramento da área de aplicação e avaliação de potenciais efeitos biológicos nocivos relacionados aos produtos utilizados (FOONG et al., 2020).

Desde os primeiros agrotóxicos utilizados em escala mundial, houve evolução gradativa que ainda ocorre atualmente, mas essa escalada não significa necessariamente que a qualidade desses compostos se reflita em algo menos nocivo e apropriado para ser aplicado no cultivo. As reações químicas envolvendo as características do veneno como o meio onde é adicionado podem causar desequilíbrio natural e gerar resistência de seus alvos quanto aos efeitos propostos pelos fabricantes do mesmo (TUDI et al., 2021).

Considerando as classes químicas, os pesticidas são classificados em ingredientes orgânicos e inorgânicos. Os pesticidas inorgânicos contém sulfato de cobre, sulfato ferroso, cobre, cal e enxofre. Os pesticidas orgânicos possuem estrutura complexa e podem ser agrupados de acordo com a composição química, como inseticidas clorohidrocarbonados, inseticidas organofosforados, inseticidas carbamatos, inseticidas piretróides sintéticos, herbicidas metabólitos e análogos de hormônios, herbicidas sintéticos de ureia, herbicidas triazínicos, nematocidas benzimidazóis, moluscicidas metaldeídos, raticidas fosfetos metálicos e raticidas fabricados a base de vitaminas do complexo D (TUDI et al., 2021).

Este artigo analisa o impacto do uso de agrotóxicos em frutas e hortaliças na saúde humana, de forma sucinta, trazendo os principais pontos relacionados aos efeitos dos agroquímicos expostos aqui e a consequência da aplicação destes no cultivo de frutas e hortaliças, no Brasil e no mundo.

Em 1915 havia 1,8 bilhão de pessoas no mundo, podendo chegar a 9,7 bilhões em 2050, esse crescimento, junto com o aumento da renda nos países em desenvolvimento (que demandam maior consumo de proteína e carne) tem impulsionado a demanda global por alimentos (ELFERINK & SCHIERHORN, 2016).

Com o crescimento da população global, a demanda por alimentos aumentou substancialmente. Atender a essa demanda requer aumento da produção agrícola, que muitas vezes envolve o uso de pesticidas para proteger as lavouras de pragas e doenças. No entanto, a utilização de pesticidas tem levado à presença de resíduos de pesticidas nos alimentos, nomeadamente nas frutas e legumes (NCUBE et al., 2021).

A segurança alimentar é um aspecto fundamental do bem-estar humano. Abrange a disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade dos alimentos. Embora os agrotóxicos auxiliem no aumento da produtividade agrícola, os resíduos podem representar riscos à saúde humana. Garantir a segurança alimentar requer equilíbrio entre produtividade agrícola e minimização de resíduos de pesticidas nos alimentos (WANG et al., 2019; YIGIT & VELIOGLU, 2020).

O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, com uma parcela significativa dedicada ao cultivo de hortaliças. Para atender à demanda por hortaliças, os agricultores brasileiros empregam vários pesticidas para proteger suas plantações. No entanto, o uso indevido e o cumprimento inadequado dos regulamentos de segurança podem resultar em excesso de resíduos de pesticidas nos vegetais (PANDISELVAM et al., 2020).

O uso de agrotóxicos em hortaliças é um fenômeno mundial. Agricultores em todo o mundo dependem de pesticidas para combater pragas e doenças e aumentar o rendimento das colheitas. No entanto, a falta de regulamentação adequada, monitoramento e medidas de controle em algumas regiões pode levar à presença de resíduos de agrotóxicos em vegetais, representando riscos aos consumidores (BRAGA et al., 2020; JIN et al., 2020).

Diversos agrotóxicos são comumente utilizados em hortaliças no Brasil e no mundo. No Brasil, alguns dos pesticidas comumente usados incluem glifosato, clorpirifós e acefato. O glifosato é um herbicida de amplo espectro, enquanto o clorpirifós e o acefato são inseticidas. Da mesma forma, em todo o mundo, pesticidas como neonicotinóides, organofosforados e piretróides são amplamente utilizados em vegetais (SILVA et al., 2019; SANTOS et al., 2023).

Avaliar a toxicidade dos pesticidas é crucial para entender os riscos potenciais à saúde. Os níveis de toxicidade variam entre os pesticidas devido à composição química e modo de ação. O glifosato, apesar de ser amplamente utilizado, tem sido objeto de debate quanto à sua potencial carcinogenicidade. Os organofosforados, como o clorpirifós, são neurotoxinas conhecidas, enquanto os neonicotinóides têm sido implicados no distúrbio do colapso da colônia de abelhas. Estudos comparativos são essenciais para avaliar os riscos potenciais associados aos resíduos de agrotóxicos em frutas e hortaliças (NAGY et al., 2020; ZHAO et al., 2020).

Resíduos de pesticidas em frutas e vegetais representam desafios para a segurança alimentar e saúde humana. Embora os pesticidas desempenhem papel crucial no atendimento da demanda global de alimentos, seu uso requer regulamentação e monitoramento cuidadosos para minimizar os resíduos. Governos, organizações agrícolas e consumidores devem trabalhar juntos para promover práticas agrícolas sustentáveis e garantir a segurança de nosso suprimento de alimentos. Pesquisas contínuas, avaliações comparativas de toxicidade e regulamentações mais rígidas contribuirão para reduzir os resíduos de pesticidas e proteger a saúde dos consumidores em todo o mundo.

 

Referências Bibliográficas

  • BRAGA, Anna Rafaela Cavalcante et al. Global health risks from pesticide use in Brazil.  Nature  Food,  v.  1,  n.  6,  p.  312-314,  2020.  Disponível  em:
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  • ELFERINK, M.; SCHIERHORN, F. Global Demand for food is rising. Can we meet it? 2016. Disponível em: <https://encurtador.com.br/kPUY5> Acesso em: 19 mai. 2023. JIN, Lili et al. A facile microfluidic paper-based analytical device for acetylcholinesterase inhibition assay utilizing organic solvent extraction in rapid detection of pesticide residues in food. Analytica Chimica Acta, v. 1100, p. 215-224, 2020. Disponível em: <https://encurtador.com.br/gjtuY>. Acesso em: 21 mai. 2023.
  • MIR, Shabir Ahmad et al. Current strategies for the reduction of pesticide residues in food products. Journal of Food Composition and Analysis, v. 106, p. 104274, 2022. Dipsonível em: <https://encurtador.com.br/otzD8>. Acesso em: 21 de mai. 2023.
  • NAGY, Károly et al. Systematic review of comparative studies assessing the toxicity of pesticide active ingredients and their product formulations. Environmental Research, v. 181, p. 108926, 2020. Disponível em: <https://encurtador.com.br/iCY02>. Acesso em:
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  • NCUBE, Lindani Koketso et al. An overview of plastic waste generation and management in food packaging industries. Recycling, v. 6, n. 1, p. 12, 2021. Disponível em: <https://www.mdpi.com/2313-4321/6/1/12/pdf>. Acesso em: 21 de mai. 2023.
  • NGUYEN, Tri Thanh et al. Fate of residual pesticides in fruit and vegetable waste (FVW)  processing.  Foods,  v.  9,  n.  10,  p.  1468,  2020.  Disponível  em:
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  • PANDISELVAM, R. et al. Ozone as a novel emerging technology for the dissipation of pesticide residues in foods–a review. Trends in Food Science & Technology, v. 97, p. 38-54, 2020. Disponível em: <https://encurtador.com.br/suCNX>.  Acesso em: 21 de
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  • SANTOS, Lisia Maria Gobbo dos et al. Assessment of horticultural products whose crops allow the use of copper-based pesticides by inductively coupled plasma optical emission spectrometry. Journal of Food Composition and Analysis, v. 119, p. 105272, 2023. Dipsonível em: <https://encurtador.com.br/chNRV>. Acesso em: 21 de mai. 2023.
  • SILVA, Renata O. et al. Efficiency of ESI and APCI ionization sources in LC-MS/MS systems for analysis of 22 pesticide residues in food matrix. Food chemistry, v. 297, p. 124934, 2019. Disponível em: <https://encurtador.com.br/kqzM8>. Acesso em: 21 de
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  • TUDI, Muyesaier et al. Agriculture development, pesticide application and its impact on the environment. International journal of environmental research and public health,
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  • YIGIT, Nuran; VELIOGLU, Yakup Sedat. Effects of processing and storage on pesticide residues in foods. Critical reviews in food science and nutrition, v. 60, n. 21, p. 3622-3641, 2020. Disponível em: <https://encurtador.com.br/flstX>. Acesso em: 21 de
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  • WANG, Pei-Long et al. Metal–organic frameworks for food safety. Chemical reviews,
  • v. 119, n. 18, p. 10638-10690, 2019. Disponível em: <https://encurtador.com.br/cdzI9>.
  • Acesso em: 21 de mai. 2023.
  • ZHAO, Jing et al. Ultrasound-assisted deep eutectic solvent as green and efficient media combined with functionalized magnetic multi-walled carbon nanotubes as solid-phase extraction to determine pesticide residues in food products. Food chemistry, v. 310, p. 125863, 2020.  Disponível em: <https://encurtador.com.br/pDI16>. Acesso em: 21 de
  • mai. 2023.
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