Introdução
Os frutos climatéricos se caracterizam por apresentar uma vida útil pós-colheita curta, perdendo sua qualidade e resistência ao armazenamento devido a vários fatores ambientais, como altas taxas de respiração e transpiração, ataques de patógenos e senescência (Khatri e outros, 2020; Bu et al., 2021). Durante o processo de maturação, podem ocorrer alterações na textura, firmeza, cor, teor de açúcar e ácidos orgânicos que são responsáveis pelo sabor e aroma dos frutos. A deterioração dessas características é um fator determinante na qualidade dos frutos.
Causados por fatores ambientais ou por danos mecânicos, as perdas pós-colheita em países desenvolvidos representam 15% a 20% do rendimento total e são ainda mais altas em países em desenvolvimento, chegando a 50%, principalmente devido à escassez de medidas preventivas e condições de armazenamento precárias (Conti et al., 2019; Nunes, 2012). Além disso, o processamento, armazenamento por longos períodos, embalagem ou comercialização inadequados são outros fatores importantes (Bendinelli et al., 2020).
Técnicas de conservação pós-colheita
Medidas para fins de conservação dos frutos devem ser consideradas para a pós-colheita para melhorar a sua qualidade (Figura 1). A escolha dessas técnicas varia pelo tipo de fruto, da disponibilidade tecnológica e do aporte econômico (Oliveira; Mendes, 2021).
Figura 1 – Principais técnicas pós-colheita empregadas em frutos
Uma das estratégias de conservação mais comuns é o transporte em cadeia de frio ou o armazenamento refrigerado. Mas o efeito em baixas temperaturas pode não ser suficiente para evitar a deterioração microbiana da fruta, embora as condições ambientais sejam controladas para retardar as perdas pós-colheita como resultado da senescência (Khan e outros, 2016). A utilização de temperatura baixa é capaz de regular todos os processos bioquímicos e fisiológicos controlando a senescência. Quando há a redução da respiração, há preservação dos atributos da qualidade. A refrigeração é recomendada para diversos frutos pois há o retardamento da perda de água e diminuição das reações metabólicas (Chitarra; Chitarra, 2005).
Atmosfera modificada ou controlada e embalagens com atmosfera modificada podem ser uma alternativa às mudanças fisiológicas dos frutos. O armazenamento em atmosfera com CO2 elevado/ O2 mais baixo é capaz de atrasar mudanças indesejáveis pós-colheita (Poonsri, 2017). O objetivo é diminuir a um valor mínimo as trocas gasosas que ocorrem entre os meios externo e interno dos frutos. Para essa técnica utiliza-se câmaras herméticas a gases, e a atmosfera é alterada pela remoção e/ou adição dos gases como etileno, gás carbônico e oxigênio, variando sua concentração (Rosa et al. 2018).
Os revestimentos têm o objetivo de prolongar a vida útil dos produtos vegetais, evitando as perdas no decorrer de toda a cadeia produtiva (Oliveira; Mendes, 2021). Pode-se utilizar materiais biodegradáveis como matérias-primas para a elaboração desses revestimentos. Um bom revestimento deve apresentar: diminuição da permeabilidade ao O2, diminuir a perda de água do fruto, melhorar a resistência mecânica, controlar as trocas gasosas entre o ambiente e o fruto (Chitarra; Chitarra, 2005; Nor; Ding, 2020). Na figura 2 observa-se que o lado não revestido possui uma barreira aberta e passagem livre para gás e água (A), enquanto o lado revestido possui uma barreira completa para gás e água (B) (Oliveira, Mendes, 2021). O revestimento aplicado sobre o fruto recobre o epicarpo da fruta e preenche as fissuras e os poros. Há o desenvolvimento de uma barreira semipermeável que protege os frutos devido a diminuição das trocas gasosas entre o interior do fruto e o ambiente externo (Kumar et al. 2017).
Figura 2 – Esquema de processos de trocas gasosas sem revestimento (A) e com revestimento (B)
Fonte: Autoria própria
Os fungicidas são moléculas químicas importantes para garantir o fornecimento e a segurança alimentar global (Steinberg; Gurr, 2020), diminuindo a proliferação fúngica nos frutos. Mas a aplicação recorrente dessas moléculas resultam em problemas graves aos consumidores e ao meio ambiente. Os fungicidas de uso agrícola muitas vezes entram em diferentes corpos d’água, seja por aplicação direta (por exemplo, pulverização) ou indireta (por exemplo, escoamento) (Barth et al., 2009). Os fungicidas podem ser tóxicos para uma ampla variedade de organismos e atualmente outros meios de controle desses fungos estão sendo avaliados e aplicados como a utilização de extratos vegetais e óleos essenciais que contém agentes antimicrobianos e agentes antifúngicos (Oliveira et al., 2023).
Os agentes de biocontrole microbiano podem ser empregados na conservação pós-colheita dos frutos prevenindo deterioração microbiana. Esses agentes empregam seus metabólitos contra os patógenos para atingir o efeito de prevenção, conservação e controle de doenças nos frutos. As cepas de Bacillus apresentam a capacidade de produzir uma variedade de antibióticos de amplo espectro, toxinas e enzimas, portanto, algumas cepas já foram incorporadas em produtos de biocontrole disponíveis comercialmente com prazos de validade longos (Blake et al., 2020, Kiesewalter et al., 2020).
Conclusão
A conservação pós-colheita de frutos climatéricos é essencial para garantir a qualidade e a segurança alimentar. A adoção de técnicas como armazenamento em condições controladas, atmosferas modificadas e o uso de revestimentos biodegradáveis se mostra eficaz na prolongação da vida útil desses frutos. Além disso, técnicas em biocontrole e o uso de agentes antimicrobianos naturais oferecem alternativas sustentáveis aos fungicidas químicos. Assim, a implementação dessas práticas é fundamental para reduzir perdas e promover uma agricultura mais responsável e segura.
Referências
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