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Descomplicando a migração de embalagens de alimentos: o fenômeno do ponto de vista da natureza

Desde muito tempo, a migração é considerada um assunto de saúde pública e tornou-se também um tema amplamente considerado nas indústrias de alimentos que buscam implementar controles em sua cadeia produtiva, para garantir que seus produtos estejam em conformidade com os requisitos legais existentes. As exigências são desdobradas comumente em certificados de conformidade e laudos de análises de migração de embalagens, para comprovação de atendimento às legislações pelas indústrias de embalagens plásticas.

Diferenças entre migração total e específica.

A migração total é a soma de todos os componentes da embalagem que são transferidos para o alimento, em determinadas condições de acondicionamento e estocagem. Já a migração específica, como o próprio nome diz, tem relação apenas a compostos individuais (específicos) e se preocupa com o interesse particular dos compostos ou substâncias a serem analisados, como por exemplo, aminas aromáticas e metais pesados. Quando referenciamos análise de migração específica, há interesse toxicológico envolvido e o mesmo não ocorre necessariamente com a migração total, cujo interesse é a análise da total transferência de substâncias químicas que não fazem parte da constituição dos alimentos, podendo ter significância toxicológica ou não. Além das diferenças citadas acima, também há diferenças nos métodos de análises para determinação de migração total e migração específica.

Com objetivo de esclarecer o que é o fenômeno de migração em embalagens plásticas, abordamos o tema sob a ótica da natureza o fenômeno de migração, para facilitar e simplificar a sua compreensão.

Tal qual a natureza, no fenômeno de migração, também se busca o equilíbrio. Na migração ocorre uma homogeneização ou aproximação do equilíbrio, provocada pelo movimento atômico ou molecular aleatório, sendo uma tendência natural as substâncias se difundirem de alta concentração para áreas de baixa concentração ou melhor, de áreas de alto potencial químico para áreas de baixo potencial químico até que, no equilíbrio, seja estabelecido um potencial constante. A migração de componentes do material de embalagem para alimentos é um fenômeno de transferência de massa resultante do contato e/ou interação entre material de embalagem e o produto. O principal mecanismo de controle dessa transferência de massa é a difusão. A difusão é resultante de movimentos moleculares naturais e espontâneos que ocorrem sem a ajuda de forças externas.

A migração ocorre de diferentes formas em cada tipo de material. Nos materiais plásticos ela acontece através dos mecanismos de transferência de massa e pela matriz polimérica, por meio dos quais: aditivos, monômeros, oligômeros e resíduos presentes no material se incorporam ao produto acondicionado na embalagem, como consequência da tendência ao equilíbrio químico do sistema (BARNES, 2008).

A migração de substâncias químicas provenientes de embalagens poliméricas é um fenômeno de difusão influenciado por parâmetros cinéticos e termodinâmicos. As principais variáveis que influenciam no potencial da migração são: a composição química do material, a espessura do material, a concentração da substância migrante no material; o tipo da substância; a afinidade da substância com o simulante ou com o alimento, o tipo de alimento; o coeficiente de partição e o coeficiente de distribuição; o processo de fabricação da embalagem, o tempo e temperatura de contato da embalagem com o alimento (CATALÁ; GAVARA, 2002; TEHRANY; DESOBRY, 2004; POÇAS; HOGG, 2007; BARNES; SINCLAIR; WATSON, 2007).

Imagem 1: Interações alimento / embalagem / ambiente externo. Fonte CETEA.

Normalmente, os migrantes são compostos de baixo peso molecular que se encontram na matriz polimérica e, portanto, possuem mobilidade no material, podendo interagir com os produtos alimentícios. Alguns destes compostos, quando incorporados ao alimento, podem modificar sensivelmente suas propriedades sensoriais, ou ainda, transferir substâncias indesejáveis com potencial toxicológico, tornando-o impróprio para o consumo. Assim, o controle dos materiais através de ensaios de migração é objeto de especial atenção para avaliar a sua adequação para uso em contato direto com alimentos (CATALÁ; GAVARA, 2002; BARNES; SINCLAIR; WATSON, 2007; PADULA; ITO; BORGHETTI, 2008).

Devido ao tamanho reduzido das moléculas dos aditivos, pode ocorrer um processo indesejável de migração dos aditivos para o alimento acondicionado na embalagem plástica, podendo resultar em alterações de cor, sabor, odor, textura, entre outros. O potencial de uma substância em causar alteração sensorial depende de uma variedade de fatores como a sua natureza química, concentração, threshold, coeficiente de difusão do componente no material de embalagem e no alimento, sabor e aroma do próprio alimento, a sensibilidade do consumidor, tempo e temperatura do ambiente de estocagem, entre outros.

 

Referências:

  • BARNES, K. A.; SINCLAIR, C. R.; WATSON, D. H. (Ed.). Chemical migration and food contact materials. Boca Raton, FL: CRC Press; Cambridge: Woodhead, 2008. 464 p.
  • CATALÁ, R.; GAVARA, R. Migración de componentes y resíduos de envases em contato con alimentos. Valencia: Instituto de Agroquímica y Techonología de Alimentos, 2002. 345 p.
  • ESTUDO DO POTENCIAL DE MIGRAGAO DE COMPONENTES DE EMBALAGENS PLASTICAS PARA PRODUTOS GORDUROSOS A ALTAS TEMPERATURAS. Eloísa Elena Côrrea Garcia. Universidade Estadual de Campinas. 1996.
  • ELEMENTOS INORGÂNICOS EM POLÍMEROS: AVALIAÇÃO DO TEOR TOTAL E DA MIGRAÇÃO PARA SIMULANTE ÁCIDO E REFRIGERANTE. ELISABETE SEGANTINI SARON. Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas. 2017.
  • Migração Específica de Antioxidante de Embalagens Plásticas para Alimentos. Leda Coltro Centro de Tecnologia de Embalagem – CETEA, Instituto de Tecnologia de Alimentos – ITAL Marina P. Machado Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. 2011.
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