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A influência das embalagens na qualidade e segurança de alimentos

Andyara Camargo aborda a relação das embalagens como elementos de qualidade, segurança de alimentos e comunicação com os consumidores.

Vendramini e colaboradores (2020) analisaram, em estudos, que os insumos, por suas características intrínsecas, oferecem riscos diferentes do ponto de vista de freqüência e intensidade, podendo haver critérios de monitoramento para seleção dos insumos potencialmente perigosos, como: aspectos sensoriais, propriedades organolépticas, integridade física do produto, histórico de problemas, quantidade de uso, entre outras possíveis irregularidades. Desse modo, o conhecimento das regras sanitárias às Boas Práticas de Fabricação (BPF) para o registro dos Procedimentos Operacionais Padronizados (POP) são ferramentas necessárias e eficientes ao controle das Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA).

A embalagem do alimento tem diversas funções como conter, proteger, comunicar e conferir conveniência, nas etapas de recebimento, armazenamento e distribuição, sendo, ainda, de caráter informativo, apresentando instruções de manuseio, composição nutricional e de rotulagem, visando vários benefícios, sobretudo, o aumento na vida de prateleira, maior praticidade e controle sanitário.

A expressão “informação nutricional”, o valor, as unidades da porção e da medida devem estar em maior destaque. A declaração de nutrientes deve ser em forma numérica, vertical, horizontal, ou, na falta de espaço na embalagem, linear, conter o idioma oficial do país de consumo do alimento, em lugar visível, com cores e letras legíveis, e que não possam ser apagadas ou rasuradas, contrastando, com o fundo onde estiver impressa, como estabelece a Resolução RDC nº 360 de 23 de dezembro de 2003 (BRASIL, 2003), e de acordo a Lei 8078/90 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, onde determina que é por meio do rótulo dos alimentos que o consumidor tem acesso às informações como quantidade, características nutricionais, composição e qualidade, bem como sobre os riscos que os produtos podem apresentar.

Há interesses, cada vez maiores, e investimentos em embalagens “ativas” e “inteligentes”, com enfoque na biodegradabilidade, como tendências e inovações de mercado, por consumidores, empreendedores, e responsáveis técnicos conscientes das suas ações sustentáveis, no seu cotidiano, com relação ao meio ambiente (SOUZA, et. al, 2017).

A “embalagem ativa” é uma tecnologia capaz de modificar as condições do ambiente para prolongar vida útil do alimento, manter as propriedades sensoriais, evitar as deteriorações físico-químicas e microbiológicas, inibindo o crescimento de microrganismos patogênicos porque apresenta funções adicionais, como liberação de compostos que aumenta a vida de prateleira, controle do binômio (tempo-temperatura) e produtos antimicrobianos, a fim de reduzir, retardar ou inibir o crescimento de patógenos e toxinas no alimento (SOARES; PIRES et al., 2009; VERMEIREN et al., 1999; HOTCHKISS, 1995), pois os compostos antimicrobianos podem estar presentes de várias formas nas embalagens ativas, quer seja na incorporação direta do composto ativo na matriz polimérica, revestindo a embalagem, quando imobilizadas em sachês (APPENDINI; HOTCHKISS, 2002), ou ainda, em reações que ocorrem em sua superfície, como é o caso dos filmes comestíveis, formados, comumente, por biopolímeros (CARVALHO et al., 2017; MELO et al., 2017).

A “embalagem inteligente” deve responder a mudanças específicas do alimento ou do ambiente que o cerca, tendo como componentes os sensores e indicadores que sinaliza o resultado dessa medição, sendo a ferramenta mais simples e viável de fornecer informações sobre a qualidade do alimento durante toda a cadeia de transporte, recebimento, distribuição e acondicionamento. Esse tipo de monitoramento permite que o consumidor final tenha acesso às reais condições do alimento imediatamente antes do consumo (ROONEY, 1995; BRAGA; PERES, 2010; SOARES et al., 2009 PACMAN, 2013).

Os biossensores também são alvos de pesquisas eminentes, especialmente relacionadas à detecção de patógenos e toxinas em alimentos, uma vez que a constatação ocorre em tempo real (LAZCKA et al., 2007). Pires e colaboradores (2009) em seus estudos observaram que a sinergia de embalagens inteligentes com biossensores é interessante, visto que, permite aos próprios consumidores o monitoramento da qualidade dos alimentos. Inovações com essa temática vêm sendo desenvolvidas, ao exemplo do Toxin Guard (Ontário, Califórnia, EUA), que incorpora anticorpos em filmes plásticos para detectar patógenos, e o SIRA Technologies (Pasadena, Califórnia, EUA), que consiste em um biossensor acoplado a um código de barras incorporado em embalagens para a detecção de patógenos (SOARES et al., 2009).

Em síntese, enquanto as “embalagens ativas” surgiram da necessidade de prolongar a vida útil e proteger os alimentos das influências físicas, ambientais, e dos metabólitos tóxicos, já as “embalagens inteligentes” vieram auxiliar a indústria de alimentos, importadora e exportadora de produtos na implantação dos sistemas de rastreabilidade, indicação e/ou identificação de violação e sustentabilidade (KUSWANDI et al., 2011)

Freire e colaboradores, (2019), concluíram, em seus estudos durante o I CONIMAS (Congresso Internacional de Meio Ambiente) e o III CONIDIS (Congresso Internacional da Diversidade do Semiárido), que os papéis iniciais dados às embalagens (acondicionamento e transporte) já não são suficientes ao mercado, o qual prioriza redução de perdas e ampliação das novas tecnologias. Desse modo, as “embalagens ativas” recebem destaque frente à utilização das “embalagens inteligentes”, em teoria, por motivos econômicos, recebendo um maior investimento em pesquisa, especialmente, as que objetivam componentes antimicrobianos, visto o benefício que poderá ser alcançado por todos os profissionais da área da alimentação.

 

Referências:

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